HOJE NO
"PÚBLICO"
Cerca de 23% de homens inquiridos na Ásia admitem ter violado uma mulher
Estudo realizado no Bangladesh, Camboja, China, Indonésia, Sri Lanka e Papua Nova Guiné.
Cerca de 23% dos mais de dez mil homens inquiridos no âmbito de um
estudo sobre a violência sobre as mulheres em seis países da Ásia
admitiram ter violado pelo menos uma vez, a maioria a própria mulher ou
namorada. Um em cada dez homens reconheceu ter violado uma mulher com a
qual não tinha qualquer relação.
Com o objectivo de chegar a
mais dados e factores que expliquem a violência sobre as mulheres, a
ONU realizou um inquérito junto de mais de dez mil homens, com idades
entre os 18 e os 49 anos. Foram inquiridos em nove zonas do Bangladesh,
Camboja, China, Indonésia, Sri Lanka e Papua Nova Guiné, entre Janeiro
de 2011 e Dezembro de 2012 e os resultados foram, esta terça-feira,
parcialmente publicados na revista The Lancet Global Health.
Aos
entrevistados foram colocadas perguntas sobre se já tinham sido vítimas
de violência ou se cometeram actos violentos, tendo sido ainda
questionados sobre a sua infância, sexualidade, vida familiar e saúde.
As entrevistas foram realizadas por homens e a questões consideradas
mais sensíveis os entrevistados responderam em privado, em computadores.
Nas perguntas, a palavra "violação" não foi usada. Os autores do estudo
optaram por questões indirectas como “Alguma vez forçou uma mulher que
não a sua mulher ou namorada na altura a ter relações sexuais?” ou
“Alguma vez teve relações sexuais com a sua companheira quando sabia que
ela não o queria mas considerou que ela concordaria por ser sua mulher
ou parceira?”, avança a BBC que teve acesso ao estudo completo.
Segundo
o relatório, entre 25,4% e 80% dos homens admitiram violência física ou
sexual ou ambas sobre a parceira – a primeira percentagem refere-se a
respostas dadas numa zona rural na Indonésia e a segunda a
Bougainville,na Papua Nova Guiné. Quando à violência física e sexual são
acrescentados abusos emocionais ou económicos, o valor oscila entre
39,3% (Sri Lanka) e 87,3% (Papua Nova Guiné).
Um quarto abusou da companheira
Nas
respostas ao inquérito, um em cada dez homens admitiu ter violado uma
mulher que não era sua companheira, enquanto cerca de 25% afirmou que já
tinha abusado da parceira. Por sua vez, pouco menos de metade
reconheceu que tinha já violado mais do que uma mulher.
Nas
respostas obtidas, a Papua Nova Guiné lidera. Cerca de 60% dos homens
deste país confessaram já ter violado, um número muito superior ao
registado no Bangladesh, no fim da lista, com 11%.
Os dados
alarmantes recolhidos na Papua Nova Guiné são em parte explicados com as
consequências da recente guerra civil. Apesar de já terem passado quase
dez anos sobre o fim do conflito, Rachel Jewkes, que conduziu a
investigação naquele país, nomeadamente em Bougainville, afirma à BBC
que se trata de “uma zona onde o conflito não ficou absolutamente
resolvido”. “Quando analisámos a saúde mental vimos uma prevalência
elevada de distúrbios pós-traumáticos, incluindo agressão incontrolável,
e de perturbações nas relações sociais e dentro da própria família”,
contou a investigadora.
"Direito sexual"
Emma
Fulu, outra das coordenadoras do projecto, explicou à BBC que perto de
três terços dos que admitiram ter violado uma mulher o fizeram por
considerem que se trata de um “direito sexual”. “Eles acreditam que têm o
direito de ter sexo com uma mulher independentemente do seu
consentimento”, indica a investigadora. A violação foi ainda apresentada
como uma forma de “entretenimento”, “divertimento” ou por os homens
estarem “entediados” na altura. Noutros casos, a violação foi usada como
forma de punição ou cometida num momento de raiva. “Talvez
surpreendentemente, a motivação menos comum foi o álcool”, sublinhou
Emma Fulu.
E o que leva estes homens a forçarem uma mulher a ter
relações sexuais? O estudo concluiu que muitos dos homens foram vítimas
de violência emocional e física em criança, incluindo abuso sexual, ou
negligenciados na infância.
Nos casos de mais de uma violação
cometida, os homens associaram o acto à possibilidade de terem mais
parceiras sexuais ou de terem pago para ter sexo. O estudo conclui que
este tipo de comportamento pode ser explicado com a necessidade de
“enfatizar a performance heterossexual ou o domínio sobre a mulher”.
* Se tivessem incluído no inquérito a Índia e o Paquistão a taxa subiria para 30%. A humanidade é predadora voraz de si própria, uma vergonha.
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