A fúria da avaliação
É que não se pode ir de férias descansado. A “silly season”
já não é o que era. Ou então é “silly season” todo o ano. Ele é a
remodelação do governo (a fingir que é desta), o nascimento do Jorge
Alexandre (muita gente perdeu apostas com o nome deste príncipe), o Papa
a ser corrigido pelo Vaticano (os ateus afinal não podem ir para o céu,
como ele afirmou), a confusão dos contratos swap, a privatização dos
CTT (mais uma), o bebé da ministra Assunção Cristas que não há maneira
de nascer…
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A coroar o mês, fala-se agora em submeter os professores a um exame que selecionará os que podem lecionar, como se já não bastasse aquilo a que esta classe profissional tem vindo a ser submetida nos últimos tempos. Segundo as últimas notícias, só poderão dar aulas aqueles que tiverem catorze valores, ou acima, no novo exame que vai ser implementado. Ora isto significa que os milhares de docentes que tiveram uma média de licenciatura abaixo desta nota ficarão de fora do sistema de ensino, independentemente dos anos de serviço que tenham e das avaliações a que já tenham sido submetidos.
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A coroar o mês, fala-se agora em submeter os professores a um exame que selecionará os que podem lecionar, como se já não bastasse aquilo a que esta classe profissional tem vindo a ser submetida nos últimos tempos. Segundo as últimas notícias, só poderão dar aulas aqueles que tiverem catorze valores, ou acima, no novo exame que vai ser implementado. Ora isto significa que os milhares de docentes que tiveram uma média de licenciatura abaixo desta nota ficarão de fora do sistema de ensino, independentemente dos anos de serviço que tenham e das avaliações a que já tenham sido submetidos.
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Não se pode “tapar o sol com a peneira”: esta medida é um atestado de
incompetência às universidades portuguesas. Quer dizer, o sistema de
ensino superior, que é em grande parte oficial, confere aos licenciados
um grau que lhes permite seguir a via de ensino. Este sistema, que se
dizia estar a precisar de ser remodelado e reavaliado, está a ser
submetido a uma extensa (e intensa) avaliação, levada a cabo pela
Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES). Ou seja,
todos os cursos superiores do país estão a ser submetidos a um processo
de acreditação, cujos resultados podem resultar numa de três hipóteses:
ou os cursos encerram por não terem condições para continuar; ou são
aprovados com condições (que têm de ser respondidas num determinado
espaço de tempo); ou são aprovados “tout court”. A avaliar pelo Guião de
Autoavaliação que cada ciclo de estudos (licenciatura, mestrado e
doutoramento) tem de preencher (disponível em www.a3es.pt, para quem
estiver interessado em ocupar um serão de insónia) e pelas visitas que
as comissões de avaliação têm feito às universidades, o processo é
rigoroso, moroso e determinante para a triagem dos cursos.
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É por isso que é incompreensível surgir agora a determinação deste
exame para os professores, já que ela faz tábua rasa de tudo o que já
foi feito. Põem-se assim em xeque gerações de licenciados, anos de
exercício profissional, milhares de avaliações de professores e de
cursos já feitas, em nome de um só exame que, num par de horas, decidirá
o futuro de muita gente.
Há ainda a considerar o facto de que não é lícito concluir que um
professor que tenha tido uma média abaixo de catorze seja um mau
professor ou esteja inapto para ensinar. Conheço muitos docentes
competentes, dedicados e cumpridores que não chegaram a essa fasquia por
várias ordens de razões, mas que nem por isso ficam aquém daquilo que é
pedido a um profissional nesta área. Dá-se até o caso de muitos
“sub-14” terem mais vocação e mais vontade de se aprimorar do que os
outros.
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É a fúria da avaliação no seu esplendor. O pior disto tudo é que
muitos bons professores vão ser injustamente afastados da docência, se
isto for para a frente. Não me parece que seja este o caminho para
assegurar a qualidade do nosso ensino.
Boas férias!
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
29/07/13
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