Unidos no não, e agora?
Mário Soares encheu a aula magna, encheu mais uma sala de gente, encheu sala de diversas esquerdas e até atribuiu o epíteto de “nosso camarada” a Pacheco Pereira.
O momento que vivemos dá sentido à reunião
magna, por mostrar que somos muitos, mais do que nós, a olhar à volta -
um pouco à esquerda, um pouco à direita - e a pensar o mesmo. Pensar que
não suportamos mais decisões tão desesperadas quão desesperantes, que
não aguentamos mais um orçamento de Gaspar, que não toleramos nem mais
um discurso alienado de Passos. Juntos, para dizer que o Governo tem
que sair, e que tem que ser já. E, para este efeito, a união à esquerda é
útil, mas já não chega, porque são muitas as vozes imprescindíveis de
outras áreas _políticas que se juntam a este protesto.
António Nóvoa
dizia no seu discurso -antecipando as reações - que sim, isto é apenas
um encontro, mas se for um encontro de união, de reunião e de vontades
poderemos agir em conjunto.
E este é o ponto essencial.
Há uns meses, o PS e o BE de Caminha reuniram-se e decidiram passar
das palavras de união ao ato de coligação. Conciliaram divergências,
identificaram _o adversário comum, definiram políticas concretas em
torno das quais fariam campanha, primeiro, e governariam a cidade,
depois. Semanas mais tarde, a mesa nacional do BE chumbou essa proposta.
À esquerda, não se trata tanto de resolver a equação se é mais o que
nos une ou aquilo que nos separa. Une-nos muito, sempre que a direita
governa. Separa-nos muito, também: a visão do Estado Social, ora como
conquista, ora como vítima dos últimos 39 anos; a Europa, ora como
projeto ora como fatalidade; uma agenda económica que ora nada quer
reformar, ora nem sempre soube ser uma alternativa às direita (e convive
demasiado bem com uma regulação fraca, com paraísos fiscais). Resolver
estes bloqueios: o da visão do Estado social, o da Europa, o de uma
agenda alternativa e progressista seria essencial para passar da união
no protesto, para a união no projeto.
Mas talvez fosse mais fácil começarmos numa qualquer Caminha.
03/06/13
.
Sem comentários:
Enviar um comentário