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HOJE NO
"i"
Movimento Revolução Branca quer candidatar-se às próximas eleições
Movimento afirma já ter sido aliciado financeiramente por partidos políticos para apresentar providências cautelares contra candidaturas concorrentes
Após
ter suspendido as candidaturas de Fernando Seara a Lisboa e de Luís
Filipe Menezes ao Porto através de providências cautelares, o Movimento
Revolução Branca prepara-se para o próximo passo: lutar activamente para
permitir que os movimentos cívicos independentes se possam candidatar
às legislativas e se necessário, constituir uma alternativa de voto já
em 2015. Os seus dirigentes acusam os partidos políticos de se
aproveitarem "das estruturas do Estado para o bem de alguns" e revelam
já ter recebido propostas de financiamento de forças políticas para
apresentarem providências cautelares contra os seus adversários nas
autárquicas.
"Pelos vistos são formas normais de fazer política" diz Paulo Melo Romeira, presidente do Movimento Revolução Branca (MRB) ao i,
admitindo que houve reuniões com partidos políticos que pretendiam
"usar o movimento para atingir os concorrentes". O presidente preferiu
não apontar cores partidárias na conversa com o i, mas garante
que a estas propostas respondeu que o movimento tinha a sua própria
"agenda". "Uns têm uma forma de fazer política que é servir-se das
pessoas, outros nascem com a predisposição de poder servir os outros"
sublinha Paulo Romeira, que procura actualmente criar uma plataforma
cívica com outros movimentos para lutar activamente pela possibilidade
de candidatura de movimentos independentes à Assembleia da República já
nas próximas legislativas.
Antes da interposição das 13
providências cautelares contra autarcas do PCP, PS e PSD com três ou
mais mandatos que se querem candidatar a outro concelho, o Movimento
Revolução Branca - que nasceu e se constituiu como associação - há cerca
de um ano, não recebia tanta atenção. Assim, nem nos "wildest dreams"
dos dirigentes do Revolução Branca o seu movimento seria escolhido para
integrar a lista das figuras portuguesas mais influentes do semanário
"Expresso". Atribuem o seu sucesso ao planeamento cuidadoso, à rapidez
de acção, à não-violência, à criatividade e à ironia. "A classe política
está preparada para lidar com as massas com canhões de água, com
cacetada, com polícia. Isso interessa-lhes porque afasta as pessoas e as
famílias das manifestações. Nós trabalhamos a criatividade em todo o
seu esplendor" diz Paulo Romeira.
Juntar vontades
"A classe política é um impedimento para o desenvolvimento do país" foi
a conclusão a que chegou Paulo Melo Romeira, gestor de profissão.
Primeiro até pensou escrever um livro, mas em conversa com um dos
melhores amigos, o advogado Pedro Pereira Pinto, resolveu passar à acção
e juntos começaram a angariar pessoas, que tal como eles, quisessem
mudar o sistema político português. "Não nos movem governos ou
políticas, o problema é a estrutura. Portugal como Estado está
aprisionado pelos partidos políticos" assegura Pedro Pereira Pinto, que
sugeriu então criar um movimento diferente, que "pudesse lutar contra o
sistema com as armas do Estado de Direito".
Com esse intuito, o
grupo começa a juntar-se no Palácio do Freixo no Porto (os cinco membros
da direcção são do Norte do país) para dar corpo ao movimento.
"Sabíamos que devíamos ter acções de intervenção cívica e que isso
passaria por acções legais" aponta Pedro Pinto, que apesar de ter
pertencido a uma juventude partidária aos vinte anos, alega, tal como os
outros membros da direcção, não ter experiência "verdadeira" ("nunca
paguei quotas") de movimentos ou partidos políticos.
Passar à acção
A primeira acção em nome do MRB foi mesmo jurídica, com uma
participação crime contra os detentores de cargos políticos por crime de
traição à Pátria, que serviria para apurar responsabilidades na
bancarrota do país, que foi arquivada pouco tempo depois. Sem apontar
directamente culpados para a actual situação que o país vive, Paulo
Romeira espanta-se por o Ministério Público abrir "um inquérito por
causa da palavra palhaço e ser incapaz de abrir um inquérito para
descobrir o que é que nos trouxe até aqui".
Sem resposta da
justiça, o movimento pôs-se literalmente a caminho da capital com o lema
"Refundar Portugal", numa marcha que começou no dia 5 de Outubro no
Porto e terminou 11 dias depois em Lisboa, onde entregaram o seu
manifesto e pediram apoio à Assembleia da República para reabrir a
participação-crime. Mais silêncio e desta vez Paulo Romeira levou a
desfeita a peito, já que dias mais tarde Pedro Passos Coelho anunciaria
ao país que pretendia «uma refundação do memorando de entendimento» e o
aprofundamento da reforma do Estado. "Achamos curioso, que o termo da
caminhada fosse refundar Portugal e pouco tempo depois o
primeiro-ministro tenha utilizado a expressão refundar e nem nos tenha
respondido" sublinha Paulo Romeira.
Aí, o presidente do MRB deu um
ultimato aos órgãos de soberania portugueses: ou se pronunciavam até 18
de Dezembro de 2012 ou viria a Lisboa fazer greve de fome. O silêncio
instalou-se e Paulo Romeira cumpriu. "Estive três dias e meio dentro do
carro à frente da Assembleia da República a pedir respostas e ninguém me
ligava nenhuma. Eu podia morrer ali na rua que as coisas iam continuar
como antes" descreve o presidente do MRB que aproveitou o tempo de
espera para ler, já que não foi recebido por nenhum partido com assento
parlamentar.
Caça aos dinossauros
Foi Pedro Pinto que começou por partilhar com o restante movimento a
preocupação pelo anúncio de candidaturas autárquicas por pessoas que, no
seu entender, infringiam a lei de limitação de mandatos - que determina
que um candidato com três ou mais mandatos não se pode recandidatar.
"Achei que que não tinha de ficar impávido e sereno a ouvir outras
pessoas a dizerem que vão desrespeitar a lei", afirma. Por isso o
movimento avançou com acções populares em forma de procedimento cautelar
contra os candidatos autárquicos que consideravam irregulares.
Até
agora, das 13 providências cautelares interpostas, só as duas maiores
comarcas do país é que se pronunciaram sobre esta lei (as restantes
indicaram que era prematuro analisar candidaturas), entendendo - tal
como o movimento - que a limitação é do exercício do cargo e não
geográfica, suspendendo para já as candidaturas de Fernando Seara e Luís
Filipe Menezes, ex-líder do PSD. Duas decisões chave para o maior
partido do governo e que por isso mesmo já foram alvo de recurso - o
caso de Menezes está no Tribunal Constitucional e a decisão sobre Seara
será proferida pela Relação de Lisboa no próximo dia 20 de Junho.
Quem paga a factura
Todos
os processos judiciais têm custas inerentes, mas segundo Pedro Pinto as
providências cautelares levadas a cabo pelo movimento consistem em
acções populares e por isso estão isentas de qualquer pagamento. A não
ser que o movimento venha a ser condenado a arcar com as custas dos
processos - cada processo pode ascender a 400 euros. Sem pagamento de
quotas por parte dos membros são, segundo Paulo Romeira e Pedro Pinto,
os dirigentes que pagam as despesas do seu bolso. "É como se fosse um
PPR para os meus filhos, estou a investir no futuro dos meus filhos"
garante Paulo Romeira.
Nos últimos meses o movimento destacou-se e
cresceu para mais de seis mil membros (não formais porque não pagam
quotas) em todo o país, ao mesmo tempo que os donativos de Março a Junho
deste ano subiram de 55 euros para mais de 800 euros. "Ainda agora
estava num almoço e veio um senhor falar comigo porque queria
contribuir" relata Paulo Melo Romeira.
Mais do que quem queira
ajudar, as queixas que chegam diariamente ao movimento são tantas que os
seus dirigentes vieram pedir publicamente voluntários para dar resposta
às solicitações. "As pessoas recorrem a nós como se fossemos o padre,
desde a junta de freguesia que não fez alguma coisa, denúncias de
concursos públicos dentro das câmaras municipais até situações no
ministério dos Negócios Estrangeiros" descreve Pedro Pinto.
* Partidarizar este movimento será talvez o seu fim.
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