Notas do fim do mundo
Escrevo estas notas avulsas de Santiago do Chile, onde estou chefiando
uma equipa internacional de acreditação da escola de gestão da
Universidade Católica (PUC) local.
Como aqui dizem, o Papa Francisco afirma que o foram buscar ao fim do mundo ... mas só veio da Argentina.
1.
A PUC é a casa dos genuínos ‘Chicago boys’ que marcaram a política
económica chilena nos anos 70, e que tantos ainda hoje tomam por
sinónimo de qualquer decisor com formação académica americana. Eles eram
monetaristas e agressivamente pró-mercado. Não obstante todas as
controvérsias, contribuíram para fazer do Chile um caso de sucesso único
no panorama latino-Americano.
2. a economia chilena vai de vento
em popa. Ele é não só o pleno-emprego como, sobretudo, a renovada
agressividade externa manifestada através de fortes investimentos nos
vizinhos Peru e Colômbia e, mesmo, nos Estados Unidos.
3. Mas o
que mais impressiona no Chile é a qualidade da governança, sobretudo da
coisa pública. Exemplo: é absolutamente obrigatório emitir o recibo de
qualquer transacção comercial, o cliente não precisa de pedir,
experimente sair da padaria sem o recibo, que o dono correrá atrás de si
para entregá-lo.
4. Mesmo do fim do mundo, tenho acompanhado o
renovado interesse que a ‘agenda do crescimento’ desperta no cantinho
pátrio. Para mim é claro que, quem pensa que solução passa por elevar o
Ministro da Economia a Ministro de Estado, tem do assunto uma visão
assistencial para quem a solução passa por distribuir prebendas. Mas
combater o aumento de desemprego deve, na realidade, ser uma prioridade.
A sugestão da Chanceler Merkel de utilizar fundos estruturais para
financiar reformas antecipadas é má: promove a inactividade e assenta no
pressuposto, sem corroboração empírica, de que as reformas antecipadas
promovem o emprego jovem.
A melhor sugestão fê-la Pedro Portugal: uma
redução significativa da TSU financiada pela mobilização de fundos
estruturais. Como a proposta da Sra. Merkel mostra, esta é politicamente
admissível e, para mais, faz perfeito sentido económico. A questão da
TSU constituiu o pecado original do programa de ajustamento. Conviria
não permitir que fosse também o pecado final.
IN "SOL"
30/04/13
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