02/05/2013

JOSÉ FERREIRA MACHADO

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Notas do fim do mundo

Escrevo estas notas avulsas de Santiago do Chile, onde estou chefiando uma equipa internacional de acreditação da escola de gestão da Universidade Católica (PUC) local.

Como aqui dizem, o Papa Francisco afirma que o foram buscar ao fim do mundo ... mas só veio da Argentina.

1. A PUC é a casa dos genuínos ‘Chicago boys’ que marcaram a política económica chilena nos anos 70, e que tantos ainda hoje tomam por sinónimo de qualquer decisor com formação académica americana. Eles eram monetaristas e agressivamente pró-mercado. Não obstante todas as controvérsias, contribuíram para fazer do Chile um caso de sucesso único no panorama latino-Americano.

2. a economia chilena vai de vento em popa. Ele é não só o pleno-emprego como, sobretudo, a renovada agressividade externa manifestada através de fortes investimentos nos vizinhos Peru e Colômbia e, mesmo, nos Estados Unidos.

3. Mas o que mais impressiona no Chile é a qualidade da governança, sobretudo da coisa pública. Exemplo: é absolutamente obrigatório emitir o recibo de qualquer transacção comercial, o cliente não precisa de pedir, experimente sair da padaria sem o recibo, que o dono correrá atrás de si para entregá-lo.
4. Mesmo do fim do mundo, tenho acompanhado o renovado interesse que a ‘agenda do crescimento’ desperta no cantinho pátrio. Para mim é claro que, quem pensa que solução passa por elevar o Ministro da Economia a Ministro de Estado, tem do assunto uma visão assistencial para quem a solução passa por distribuir prebendas. Mas combater o aumento de desemprego deve, na realidade, ser uma prioridade. A sugestão da Chanceler Merkel de utilizar fundos estruturais para financiar reformas antecipadas é má: promove a inactividade e assenta no pressuposto, sem corroboração empírica, de que as reformas antecipadas promovem o emprego jovem.

A melhor sugestão fê-la Pedro Portugal: uma redução significativa da TSU financiada pela mobilização de fundos estruturais. Como a proposta da Sra. Merkel mostra, esta é politicamente admissível e, para mais, faz perfeito sentido económico. A questão da TSU constituiu o pecado original do programa de ajustamento. Conviria não permitir que fosse também o pecado final.

IN "SOL"
30/04/13

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