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HOJE NO
"i"
Chip.
Aperto de mão vem substituir
dinheiro e cartões
A
montra parece-lhe bem e decide entrar. É uma loja de roupa. Passeia um
pouco, olha em redor e pára diante de uma camisola do seu agrado.
Experimenta-a, vê que assenta bem e decide que é para comprar.
Aproxima-se do balcão, dá um aperto de mão ao lojista, pega no saco de
compra e pronto. Sem notas, moedas ou cartões de crédito envolvidos.
Não
é um roubo, mas antes um truque que está em dois chips - um colocado
perto da sua mão, na manga da camisa, por exemplo, e outro na do
vendedor. Tudo isto implica contacto físico e é isso que a criadora do
Money No Object pretende, porque sente falta da "mais valiosa divisa
física de todas: o toque humano".
E não só de apertos de mão se
faz esta ideia. Além da tradicional forma de cumprimentar, o projecto
prevê o abraço, o high-five e um breve sapateado como formas de
concretizar uma transacção financeira. São quatros gestos físicos à
escolha, com um objectivo tão claro como inusitado: "tornar as
transacções divertidas, edificantes e com significado", explicou Heidi
Hinder ao i. Uma diversão que preferiu classificar como "uma nova luz" dirigida às pessoas.
A
missão que se propôs quer convencer as pessoas a deixarem o dinheiro
físico em casa e a pagarem com apertos de mão, abraços ou um passo de
dança qualquer coisa que comprem. "É um método de pagamento adicional,
alternativo e mais enriquecedor", defende Heidi.
A missão mais
fácil do projecto até estará no lado da tecnologia a usar. O método
implica a utilização de chips, como se de etiquetas se tratasse. A
técnica em causa denomina-se Identificação por Radiofrequência, ou RFID,
na sua sigla inglesa. Os chips contêm dados que são identificados
automaticamente por um outro chip, que serve de leitor - colocado do
lado do vendedor/lojista - através da transmissão de sinais por via
rádio. Ao detectar o chip, o leitor acciona a transacção depois de ter
acesso aos dados da conta do utilizador. A autora do projecto sublinha
que a fórmula "é muito segura" e apresenta um "enorme potencial".
Para
o comum dos cidadãos, a tecnologia "seria bastante rentável" e custaria
uma libra ou 1,16 euros. O preço a pagar por um chip "embebido num
objecto usável". Aos vendedores caberia a fatia mais pesada do bolo,
porque é ainda necessário "comprar a tecnologia para ler os dados". O
método é semelhante ao já utilizado há algum tempo em muitas redes de
transportes públicos, por exemplo em Portugal - um cartão de viagem
electrónico assente no sistema pagar, carregar e utilizar.
A parte difícil
A
outra carta deste baralho, a inovadora, parece trazer consigo maiores
dificuldades - a aceitação das pessoas. "Receio estar a ficar para trás
perante todas estas inovações", foi a reacção desconfiada das pessoas a
quem foi proposto apertar a mão ou abraçar pessoas para cada transacção
financeira.
"Dá-me a impressão que o problema que se pretende
levantar é um falso problema", defendeu Manuel Villaverde Cabral. "Ou
melhor, é um problema diferente."
O investigador do Instituto de
Ciências Sociais da Universidade de Lisboa aponta a "falta de calor
humano" como a incubadora da ideia de Heidi Hinder, mas trata-se de uma
carência que, para estes lados da Europa Meridional, de que fazem parte
os portugueses, "não se sofre".
A questão
Será possível, num futuro próximo, que essa tecnologia comece a fazer
parte dos hábitos nacionais? O sociólogo não teve dúvidas: "Tem zero
probabilidade de ir por diante", considera, lembrando a tendência actual
das transacções financeiras, "cada vez mais afastadas de qualquer coisa
de concreto, pessoal e humano".
E basta pensar em instrumentos do
quotidiano para entender quão menos físico se está a tornar o dinheiro:
há caixas multibanco, cartões de crédito ou pagamentos online que são,
para o investigador, exemplos de processos que hoje remetem para
"relações cada vez mais longínquas e desconhecidas" entre as pessoas. É
contra esta tendência que o método de Heidi Hinder terá de marchar.
Investimento
Além de ter de lutar contra hábitos e questões culturais, o rumo do
projecto está ainda condicionado por transacções comerciais: "Estamos a
discutir com várias empresas em Londres a possibilidade de conseguir um
maior investimento no projecto", revelou a autora do conceito, na
esperança de que, "no mínimo", o método seja "inicialmente introduzido
em museus ou outras instituições culturais".
A ideia de Heidi
Hinder será criar uma espécie de "microeconomia", em que cada um dos
quatro gestos previstos pelo sistema de chips para compras "funcione
como uma maneira de fazer um donativo". Se funcionar no Reino Unido, a
tecnologia pode não demorar a saltar para outros países, incluindo
Portugal. Mas para o sociólogo Manuel Villaverde Cabral é ainda no lado
britânico que o projecto apresenta problemas, já que essa é "das
culturas que evitam a todo o custo" o que, por cá, os portugueses usam
"bastante": o tal toque humano que Hinder quer tornar mais comum.
* MIRABOLANTE, desejamos que jámais inventem uma coisa semelhante para o acto sexual.
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