HOJE NO
"PÚBLICO"
Financiamento de risco na Metro do Porto provocou remodelação governamental
Braga Lino e Silva Peneda foram afastados por causa do envolvimento na contratualização de swaps, que criaram “buraco” nas contas da transportadora pública.
A saída de dois secretários de Estado do Governo, Paulo Braga Lino e
Juvenal Silva Peneda, está relacionada com a celebração de contratos de
cobertura de financiamentos na Metro do Porto.
Estes produtos, designados por swaps,
abriram um “buraco” que ascende a mais de 800 milhões de euros nas
contas da transportadora. O mesmo tipo de contratos foi usado em 14
outras empresas do Estado.
Braga Lino, que será substituído por Berta Cabral,
foi um dos responsáveis pela contratação destes produtos na Metro do
Porto, onde foi director administrativo e financeiro entre 2006 e 2011,
depois de cinco anos como controller (consultor interno na área financeira) da transportadora do Estado.
Os 15 swaps
desta empresa – a segunda que acumula mais perdas potenciais (832,4
milhões de euros até Setembro de 2012) – foram contratados entre 2003 e
2009. A negociação com os bancos era feita pela direcção financeira,
pelouro que Braga Lino repartia com Mário Coutinho dos Santos, actual
director da Efacec nos Estados Unidos.
Embora o processo começasse
neste nível da hierarquia, quem assinava por baixo era, em primeira
instância, a comissão executiva da Metro do Porto. Um dos três lugares
nesse comité pertencia a Juvenal da Silva Peneda, o secretário de Estado
adjunto do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo. Juvenal da
Silva Peneda também sai agora do Governo.
Silva Peneda foi
administrador executivo da empresa entre 2004 e 2008. Antes disso, tinha
sido presidente da STCP (2003 a 2006), outra transportadora do Estado
que até Setembro do ano passado tinha dois swaps activos com perdas potenciais de 107,2 milhões de euros.
Maria Luís Albuquerque |
Mas há mais envolvidos além daqueles ex-gestores da Metro do Porto.
Dois deles ainda fazem parte do actual executivo: Maria Luís
Albuquerque, secretária de Estado do Tesouro, e Marco António Costa,
secretário de Estado da Segurança Social.
Acima da comissão
executiva estava o conselho de administração da Metro do Porto, pelo
qual obrigatoriamente passavam estes contratos, a título de ratificação.
Ao longo dos anos dourados dos swaps, as cadeiras foram
ocupadas por personalidades como Valentim Loureiro (presidente da Câmara
de Gondomar, que liderava o conselho), Rui Rio (presidente da Câmara do
Porto) e Mário Almeida (presidente da Câmara de Vila do Conde). Foram
todos nomeados pela Junta Metropolitana do Porto, maior accionista da
transportadora.
Havia ainda outro lugar no conselho de
administração, que foi ocupado entre 2007 e 2010 por Marco António
Costa, que é hoje secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança
Social do ministério tutelado por Pedro Mota Soares. Apesar do seu
envolvimento na aprovação destes produtos de alto risco, o Governo
decidiu mantê-lo em funções, ao contrário do que aconteceu com Braga
Lino e Silva Peneda. O facto de ser, na altura, administrador não
executivo terá pesado na decisão.
Também ainda no Governo está
Maria Luís Albuquerque, secretária de Estado do Tesouro, que entre 2001 e
2007 foi directora financeira da Refer, outra empresa pública que
contratou swaps. No caso desta operadora, que gere a rede
ferroviária nacional, a aposta nestes instrumentos financeiros começou
em 2003, ano em que foram celebrados três contratos.
A decisão de
manter Maria Luís Albuquerque na Secretaria de Estado do Tesouro
prendeu-se com o facto de a situação da Refer ser uma das menos
explosivas, em comparação com a da Metro do Porto e ainda mais com a da
Metro de Lisboa (a empresa que mais perdas potenciais acumula, superando
os 1100 milhões até Setembro). O PÚBLICO sabe que a sua saída chegou a
ser analisada, mas o Governo acabou por não avançar, também pelo
importante papel que tem tido nos últimos meses, nomeadamente quanto às
privatizações.
* Só queremos saber do prémio que vão receber por se terem demitido do governo os secretários de Estado acima indicados, sim punições não, esta gente trabalhou com o maior sentido patriótico.
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