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"JORNAL DE NOTÍCIAS"
Generais angolanos movem acusação particular contra autor e editora de "Diamantes de Sangue"
O jornalista Rafael Marques, autor do livro "Diamantes de Sangue:
Tortura e Corrupção em Angola" e a editora Bárbara Bulhosa, serão alvo
de um processo civil instaurado por generais angolanos.
Depois de o Ministério Público ter arquivado, em fevereiro
deste ano, a queixa-crime "por difamação e injúria" que nove generais
angolanos ligados a empresas de extração mineira apresentaram em
Portugal contra o jornalista angolano e a editora da Tinta-da-China, que
publicou o livro, ambos foram hoje notificados de que foi contra eles
"deduzida uma acusação particular" por parte dos mesmos generais.
Trata-se,
indicou Bárbara Bulhosa, de "uma acusação que o Ministério Público não
acompanha" e por meio da qual os generais angolanos pretendem obter o
pagamento de uma indemnização de 300 mil euros, 150 mil de cada um.
O
jornalista e ativista angolano acusa-os, no livro publicado em Portugal
em setembro de 2011 e que resulta de uma investigação iniciada em 2004,
de torturar e matar trabalhadores da extração mineira na região
diamantífera das Lundas, sobretudo nos municípios do Cuango e Xá-Muteba.
Na
sequência das denúncias feitas no livro, Rafael Marques apresentou em
Luanda, a 14 de novembro do ano passado, uma queixa-crime contra esses
generais, por "atos quotidianos de tortura e, com frequência, de
homicídio" contra as populações dos municípios abrangidos pelas
concessões mineiras.
A Procuradoria-Geral da República de Angola
concluiu, em junho de 2012, que a queixa-crime apresentada por Rafael
Marques "não tem qualquer fundamento", decidindo-se pelo "indeferimento e
arquivamento", e considerou que "alguns dos factos" denunciados por
Rafael Marques "não foram comprovados", correspondendo a uma "construção
teórica, sem qualquer suporte factual e jurídico-legal".
A
queixa-crime do jornalista - cujo texto Rafael Marques enviou então por
e-mail à Lusa -, identificava que a "centralidade" dos atos denunciados
seria da responsabilidade da sociedade Lumanhe - Extração Mineira,
Importação e Exportação, Lda., que integra o consórcio que forma a
Sociedade Mineira do Cuango (SMC), no qual detém uma participação de 21
por cento.
Rafael Marques acusou de "crimes contra a humanidade"
os generais Hélder Vieira Dias, mais conhecido como "Kopelipa", ministro
de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, Carlos
Vaal da Silva, inspetor-geral do Estado-Maior General das Forças Armadas
Angolanas (FAA), Armando Neto, governador de Benguela e ex-Chefe do
Estado-Maior General das FAA, Adriano Makevela, chefe da Direção
Principal de Preparação de Tropas e Ensino das FAA, João de Matos,
ex-Chefe do Estado-Maior General das FAA, Luís Faceira, ex-chefe do
Estado-Maior do Exército das FAA, António Faceira, ex-chefe da Divisão
de Comandos, António dos Santos França "Ndalu", ex-Chefe do Estado
Maior-General das FAA, e Paulo Lara.
Estes generais, acusou Rafael
Marques, "têm usado o seu poder institucional para dar cobertura, por
ação ou omissão, ao poder arbitrário que a Sociedade Mineira do Cuango
exerce na região".
Por sua vez, em resposta às denúncias feitas no
livro e na queixa-crime apresentada por Rafael Marques, os generais
decidiram processá-lo a 9 de novembro de 2012, por "difamação e injúria"
em Portugal, país onde o livro foi publicado, e estenderam depois as
acusações à editora Bárbara Bulhosa, mas o processo foi arquivado.
No
final do mês de janeiro, o livro "Diamantes de Sangue: Tortura e
Corrupção em Angola" tinha vendido sete mil exemplares e a editora
estava a preparar a 5.ª edição, com mais 1.500 exemplares.
* Generais com ar de virgens ofendidas, demasiado patético.
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