HOJE NO
"i"
Caso BPN.
Ex-ministro acusado de ficar com mais
de 80 milhões de euros
Arlindo de Carvalho, ex-ministro da Saúde de Cavaco Silva, e José Neto,
seu sócio e antigo governante, são acusados pelo Ministério Público de
terem recebido ilegitimamente mais de 80 milhões de euros do BPN.
Segundo o despacho de acusação do Departamento Central de Investigação e
Acção Penal (DCIAP), a que o i teve acesso, Arlindo de Carvalho e
José Neto seriam dois dos testas-de-ferro do esquema liderado por José
Oliveira Costa, presidente do BPN, para esconder os investimentos e a
aquisição de património pelo grupo BPN/SLN.
O MILHIONÁRIO |
Ao todo os dois arguidos terão recebido um total de 46 milhões de euros
de financiamento do BPN, mais 32,4 milhões de financiamento do Banco
Insular - que nunca foram pagos. Além disso, terão recebido cerca de 2
milhões pela aquisição de imóveis a Ricardo Oliveira - outro dos
alegados testa-de-ferro também acusado neste processo - e 889 mil euros
de juros creditados “indevidamente” e directamente numa conta pessoal
que tinham no BPN.
No despacho assinado pelos procuradores Rosário Teixeira e Manuel
Joaquim Gomes, ambos do DCIAP, conclui-se que Arlindo Carvalho e José
Neto concordaram “encenar a existência de investidores externos ao grupo
BPN (…) visando obter um ganho quer no imediato através de
disponibilidade de fundos e activos, que aproveitaram para o seu próprio
proveito, e para obterem ganhos ilegítimos, designadamente em sede
fiscal”.
Por essas razões, são dois dos nove arguidos deste processo. Ambos são
acusados de um crime de burla qualificada, um crime de abuso de
confiança e um crime de fraude fiscal qualificada, em co-autoria.
O i não conseguiu contactar Arlindo de Carvalho até à hora de fecho da edição.
O despacho do departamento liderado pela procuradora-geral adjunta
Cândida Almeida sustenta que o ex-ministro da Saúde e o seu sócio terão
sido convidados para testas-de-ferro em 2005, depois de o advogado
Ricardo Oliveira, que tratava dos negócios imobiliários do grupo, ter
sido “forçado” a sair devido a uma auditoria do Banco de Portugal que
alertava para o risco de o BPN ceder crédito a um grupo de clientes, no
qual Ricardo Oliveira estava incluído.
Arlindo de Carvalho e José Neto terão então sido “idealizados como
parceiros ideais para o grupo” por Coelho Marinho, também acusado neste
processo.
Depois de Ricardo Oliveira ter acordado abandonar formalmente todas as
sociedades em que participava tendo como sócios entidades do grupo
BPN/SLN - vendendo todos os activos - terão sido Arlindo de Carvalho e
José Neto a assumir a posição de terceiros nos negócios imobiliários com
interesse para a SLN. Arlindo e Neto terão recebido empréstimos do BPN
sem as necessárias garantias, “apenas passando a deslocar a entidade
financiadora para fora do perímetro conhecido do BdP, recorrendo para
tal à colocação dos financiamentos junto do Banco Insular”, lê-se no
despacho de acusação. As operações de financiamento eram “autorizadas
por intervenção dos arguidos José Oliveira Costa, Francisco Sanches e
Luís Caprichoso”, também acusados de burla qualificada, abuso de
confiança e fraude fiscal qualificada.
“Tais financiamentos estiveram ligados a diversos negócios, nos quais
os três principais arguidos quiseram alcançar um objecto negocial com
ocultação da intervenção do BPN, mas aceitaram, para conseguir essa
ocultação, gerar uma perda para o BPN pela concessão de financiamentos
que nunca viriam a ser pagos”, acusa o DCIAP.
Juros inventados para aliciar
Para
os convencer a entrar no esquema, Oliveira Costa, Francisco Sanches e
Coelho Marinho não só terão prometido imediatamente dois milhões de
euros pela aquisição de dois activos como, para os aliciar ainda mais,
terão decidido “proporcionar-lhes ganhos imediatos na sua esfera
pessoal”. Os juros credores, que deveriam vencer nas contas das empresas
que utilizaram para comprar os activos a Ricardo Oliveira, terão então
ido parar directamente às suas contas particulares que tinham sido
convidados a abrir em agências do BPN da área do Porto.
Em consequência, diz o despacho de acusação, “entre 1 de Março de 2003 e
1 de Agosto de 2008”, a conta terá ficado recheada com juros que
atingiram o total de 889.094,24 euros. Acontece que esses montantes eram
ganhos das sociedades de que eram sócios e não dos próprios. O
estratagema permitiu que ocultassem aquelas quantias em sede de IRS.
Caso tivessem declarado, cada um dos sócios teria de pagar de imposto
147 692,20 euros, acrescido de juros de 33 677,85 euros.
Desta forma, “Arlindo Carvalho e José Neto sabiam que os juros
creditados nas suas contas não lhes pertenciam, mas decidiram
apropriar-se dessas quantias gastando-as em seu proveito, sem
legitimarem e sem assumirem os encargos fiscais”.
* Outro ministro do cavaquistão, são mais que os dedos da mão.
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