HOJE NO
"PÚBLICO"
Ditadura de Teodoro Obiang Nguema
vai ter embaixada em Portugal
A Guiné Equatorial ainda não é membro pleno da CPLP, mas recebeu o acordo para abrir uma representação em Lisboa. O país continua minado pela corrupção, pobreza e repressão, descreve a Human Rights Watch, que denuncia as detenções políticas frequentes.
A Guiné Equatorial já recebeu o acordo do Governo de Lisboa para
abrir uma embaixada em Portugal, que tem sido até ao momento o único
país lusófono a opor-se à entrada do Estado liderado por Teodoro Nguema
Obiang na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O processo –
que passa ainda pela chegada do embaixador nomeado e a apresentação das
credenciais ao Presidente da República, Cavaco Silva – deverá ficar
concluído num mês, disse ao PÚBLICO o moçambicano Murade Murargy,
secretário executivo da CPLP, ficando depois apenas a faltar a escolha
de um local para as instalações da nova representação diplomática.
CONVÍVIO DEMOCRÁTICO |
A presença de um embaixador em Portugal pode
configurar um sinal de aproximação entre os dois países e de uma
tentativa de maior envolvimento de Malabo com a CPLP, que tem sede em
Lisboa. Mas considera Murade Murargy: “Portugal é o único país a opor-se
à entrada da Guiné Equatorial na CPLP e vai ficar isolado nessa
matéria.”
O PÚBLICO solicitou um comentário do Ministério dos
Negócios Estrangeiros, mas não obteve resposta. Fica assim por
esclarecer se Portugal pretende abrir uma embaixada em Malabo, como já
acontece com outros países da CPLP, como o Brasil, e se vai reconsiderar
a posição de recusar a adesão da Guiné Equatorial como membro de pleno
direito da organização. Todos os restantes sete membros da organização
(os cinco africanos lusófonos, Brasil e Timor-Leste) são a
favor, confirmou Murargy.
Com a abertura da embaixada em Lisboa,
Malabo quererá alargar a sua presença em países lusófonos – já têm
embaixada em Angola e São Tomé e Príncipe –, quando aguarda aprovação
para membro de pleno direito da CPLP (onde já tem o estatuto de país
observador). O secretário executivo da organização desde Setembro está
convencido de que isso vai acontecer e espera que seja na cimeira de
Díli, em 2014. "Vamos trabalhar com Portugal para ver se muda de
posição."
Na cimeira de chefes de Estado e Governo de Julho em
Maputo, a entrada foi recusada, justificando-se com a pena de morte, em
vigor no país, e a ausência de direitos civis. A perspectiva tem
motivado protestos de organizações da sociedade civil e de direitos
humanos.
Várias detenções políticas em poucas semanas
Protestos
que Murade Murargy não entende perante os progressos que diz estarem a
verificar-se na Guiné Equatorial. Dá o exemplo da "não-existência de
presos políticos na Guiné- quatorial", como lhe terá sido garantido pela
representante diplomática do Brasil em Malabo.
O PÚBLICO
confirmou, no entanto, que Agustín Esono ainda está preso, desde 17 de
Outubro de 2012, numa das piores prisões do país, Black Beach, segundo
informações do secretário da Comunicação da CPDS (Convergência para a
Democracia Social), Andrés Esono. O advogado de Esono, Fabian Nsue, foi
também ele detido quando ia visitar o seu cliente. Nsue ficou preso uma
semana sem acusação formal nem direito a visitas, e só foi libertado
depois da pressão de alguns embaixadores.
A CPSD é o único
partido da oposição com representação no Parlamento onde tem um deputado
apenas. Em Janeiro, um dos seus membros, Pablo Ndong, foi preso e
espancado em Kogo quando entregava material respeitante às eleições
municipais de Maio. A União Popular é outro partido da oposição, mas sem
representação no Parlamento. O seu líder, Daniel Dario Martinez, também
foi preso em Dezembro, pouco depois de denunciar a prisão de Agustín
Esono como um caso político.
Além de ser neto de Pedro Motu
Mamiaga, antigo oficial do Exército, que passou para a oposição, foi
detido e morto em 1993, Agustín Esono é director de um colégio e
mantinha contactos frequentes com a secção em França da Transparency
International, organização que analisa os índices de corrupção no mundo e
tem sido activa nas investigações à alegada apropriação indevida de
fundos do Estado pela família Obiang, em França e nos Estados Unidos.
Família Obiang na mira da justiça
De
acordo com o Departamento de Justiça norte-americano, que também
investiga suspeitas de corrupção na família presidencial e iniciou
diligências para bloquear os bens, Teodoro Obiang, filho predilecto do
Presidente e provável sucessor, terá gasto entre 2000 e 2011 mais de 300
milhões de dólares em vários países, enquanto o seu salário de ministro
da Agricultura e das Florestas rondará os cem mil dólares por ano, num
país onde dois terços da população vivem com menos de um dólar por dia.
Acabado
de regressar de Malabo, onde se deslocou a convite do Presidente
Obiang, o secretário executivo da CPLP, pelo seu lado, dá exemplos do
que considera ser a respeitabilidade do regime da Guiné Equatorial: o
facto de este país pertencer desde Janeiro ao Conselho da Paz e
Segurança da União Africana e de ser a escolha desta organização para
ocupar um lugar no Conselho de Segurança da ONU em 2016-2018. “Temos de
os acarinhar e facilitar a sua entrada”, considera.
Quando
questionado se considera a Guiné Equatorial uma democracia, Murade
Murargy responde: "Não sou eu que vou avaliar o país. O que digo é que
não vamos fechar as portas à Guiné Equatorial."
“A Guiné
Equatorial continua afundada na corrupção, pobreza e repressão sob a
liderança do Presidente Teodoro Obiang Nguema no poder desde 1979. (…) O
Governo recorre frequentemente à tortura e detenções arbitrárias.
Jornalistas, grupos da sociedade civil e membros da oposição política
enfrentam a dura repressão do Governo. (…)”, descreveu no seu relatório
de 2012 a Human Rights Watch que, há pouco mais de um mês, apelava ao
fim das detenções políticas.
* De certeza que esta ditadura nõ é mais feroz que a ditadura angolana portanto... a argumentação de Murade Murargy é um nojo, se os vermes soubessem ler vomitavam.
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