10/01/2013

JORGE FIEL

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Cavaco fez-se ao penálti 

Tenho para mim que, no futebol, num lance de penálti, a única verdade objetiva e incontestável é a paixão subjetiva de quem emite um juízo. Tal como o reformado algarvio que preside à nossa nação, nestes casos eu raramente me engano e nunca tenho dúvidas. Sempre que o árbitro assinala um penálti a favor do Porto está carregadinho de razão. 

E todos os penáltis marcados a favor do Benfica são, no mínimo, duvidosos, para não dizer escandalosos ou até verdadeiros "roubos de igreja", como diria o saudoso Pedroto, opinião que creio ser partilhada pela reformada transmontana que é a segunda figura do Estado e portista encartada.

Tenho uma enorme admiração e algum respeito pelos árbitros. Entre tangíveis (dinheiro) e intangíveis (fama) ganham uma ínfima parte do que é pago aos futebolistas. Sabem que a sua honestidade, bem como a honorabilidade das suas mães, será questionada. E, como agravante, ainda são obrigados a ajuizar logo, no momento, se num determinado lance há ou não lugar à marcação de grande penalidade.
Mesmo depois das imagens terem sido revistas vezes sem conta, em câmara lenta e a partir de diferentes ângulos, é raro gerar-se o consenso entre os peritos na matéria. Deu primeiro na bola ou nas pernas? Tinha intenção de fazer falta? Foi dentro ou fora da grande área? Qual a intensidade do encosto? Bola no braço ou braço na bola? O árbitro estava bem posicionado?

As dúvidas, atenuantes e perguntas sem resposta que a tecnologia potencia são tantas que um penálti deixou de ser o castigo máximo assinalado de acordo com as regras do jogo para se tornar num estado de espírito do árbitro, que tem de ajuizar na hora e incorpora na decisão não só a sua visão do lance mas também o resultado, o peso relativo das duas equipas, e mais uma data de coisas, entre as quais o cadastro do jogador que pede a falta, pois todos sabemos que o que mais abunda são avançados especialistas em simular grandes penalidades.

No caso do pedido ao Tribunal Constitucional para que verifique se três artigos do OE 13 violam a Constituição, parece-me nítido que o reformado Cavaco se está a fazer ao penálti. Trata-se de matéria que o afeta pessoalmente (optou por receber as reformas da Caixa Geral de Aposentações e do Banco de Portugal, por a soma ser muito superior ao salário de 6523 euros que compete ao PR) e de que há um ano se queixou, quando disse temer que o dinheiro não lhe chegasse para as despesas.

Como se isso não bastasse, os juízes do Constitucional vão decidir numa matéria que também lhes interessa pessoalmente. Assunção Esteves reformou-se aos 42 anos, com uma pensão de 7255 euros (por que optou por ser superior ao salário de 5219 euros que compete ao presidente da AR) após dez anos de extenuante trabalho no Tribunal Constitucional. Atendendo a estes óbvios conflitos de interesse, estou curioso de saber a decisão. Será marcado penálti contra Passos?

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
08/01/13

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