Cavaco fez-se ao penálti
Tenho para mim que, no futebol, num lance de penálti, a única verdade
objetiva e incontestável é a paixão subjetiva de quem emite um juízo.
Tal como o reformado algarvio que preside à nossa nação, nestes casos eu
raramente me engano e nunca tenho dúvidas. Sempre que o árbitro
assinala um penálti a favor do Porto está carregadinho de razão.
E
todos os penáltis marcados a favor do Benfica são, no mínimo,
duvidosos, para não dizer escandalosos ou até verdadeiros "roubos de
igreja", como diria o saudoso Pedroto, opinião que creio ser partilhada
pela reformada transmontana que é a segunda figura do Estado e portista
encartada.
Tenho uma enorme admiração e algum respeito pelos
árbitros. Entre tangíveis (dinheiro) e intangíveis (fama) ganham uma
ínfima parte do que é pago aos futebolistas. Sabem que a sua
honestidade, bem como a honorabilidade das suas mães, será questionada.
E, como agravante, ainda são obrigados a ajuizar logo, no momento, se
num determinado lance há ou não lugar à marcação de grande penalidade.
Mesmo
depois das imagens terem sido revistas vezes sem conta, em câmara lenta
e a partir de diferentes ângulos, é raro gerar-se o consenso entre os
peritos na matéria. Deu primeiro na bola ou nas pernas? Tinha intenção
de fazer falta? Foi dentro ou fora da grande área? Qual a intensidade do
encosto? Bola no braço ou braço na bola? O árbitro estava bem
posicionado?
As dúvidas, atenuantes e perguntas sem resposta que a
tecnologia potencia são tantas que um penálti deixou de ser o castigo
máximo assinalado de acordo com as regras do jogo para se tornar num
estado de espírito do árbitro, que tem de ajuizar na hora e incorpora na
decisão não só a sua visão do lance mas também o resultado, o peso
relativo das duas equipas, e mais uma data de coisas, entre as quais o
cadastro do jogador que pede a falta, pois todos sabemos que o que mais
abunda são avançados especialistas em simular grandes penalidades.
No
caso do pedido ao Tribunal Constitucional para que verifique se três
artigos do OE 13 violam a Constituição, parece-me nítido que o reformado
Cavaco se está a fazer ao penálti. Trata-se de matéria que o afeta
pessoalmente (optou por receber as reformas da Caixa Geral de
Aposentações e do Banco de Portugal, por a soma ser muito superior ao
salário de 6523 euros que compete ao PR) e de que há um ano se queixou,
quando disse temer que o dinheiro não lhe chegasse para as despesas.
Como
se isso não bastasse, os juízes do Constitucional vão decidir numa
matéria que também lhes interessa pessoalmente. Assunção Esteves
reformou-se aos 42 anos, com uma pensão de 7255 euros (por que optou por
ser superior ao salário de 5219 euros que compete ao presidente da AR)
após dez anos de extenuante trabalho no Tribunal Constitucional.
Atendendo a estes óbvios conflitos de interesse, estou curioso de saber a
decisão. Será marcado penálti contra Passos?
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
08/01/13
.
Sem comentários:
Enviar um comentário