Gritaria socialista
Esta semana, a PJ fez buscas a residências de ex-governantes do anterior governo do PS e a ministra da Justiça prestou declarações a esse propósito.
O que disse a senhora? Que ninguém está acima da lei e
depois de mais algumas considerações dispara: o tempo da impunidade
acabou. Esta última tirada incendiou os verdadeiros patriotas
socialistas, que há décadas habitam S. Bento, não se lhe conhecendo
outro talento que não seja estar sentados, e vá de gritar protestos e
reivindicar a demissão da ministra. A razão da demissão é que a senhora
disse um conjunto de lugares-comuns que ao longo das últimas décadas
ouvimos da boca de vários governantes.
Desejo
cujos efeitos práticos são iguais a zero. Sempre se soube que ninguém
está acima da lei, pois é a própria lei que o determina. E há um desejo
externo, que habita no coração de todos, ou pelo menos na grande
maioria, de que a impunidade acabe de vez. Porém, este desejo cumpre-se
nos tribunais e não em meia dúzia de diligências rotineiras de
investigação que apenas procuram esclarecer se em determinado local há
ou não indícios da prática de um crime. A gritaria socialista que
resultou destes actos e os clamores pedindo a demissão da ministra são
mais um contributo para mostrar exuberantemente a justiça das
manifestações que desprezam os líderes e animadores partidários.
Aproveitar
um processo judicial para o combate político é apenas dar tiros nos pés
e na credibilidade da Justiça. Se a confiança na política anda pelas
ruas da amargura e a da Justiça caminha nos mesmos territórios, ouvir
estas indignações revela ao nível que chegámos de vulgaridade decadente.
Buscas são diligências de investigação criminal. São usadas para
procurar ligações entre práticas de crimes e eventuais autores. Umas
vezes confirmam essa ligações. Outras não. Valem o que vale qualquer
construção de um processo-crime, desde exames toxicológicos a
balísticos, inquirições a escutas. São instrumentos de um método. Não
são mais do que isso. Não condenam nem inocentam. Ninguém fica punido
nem fica na impunidade. São um puro e simples gesto técnico.
Fazer
disto uma algazarra é próprio de quem não tem mais nada para fazer. Ou
dizer. Se em vez da gritaria estivessem caladinhos, talvez o País
passasse a ser um lugar mais decente. Pelo menos sem tanta manifestação
de ignorância.
Professor Universitário
IN "CORREIO DA MANHÃ"
30/09/12
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