A última vida
de Paulo Portas
Paulo Portas tenta convencer-nos de que “fuma mas não inala” o programa da troika
Chegaria o dia em que o notável esforço do ministro de Estado e dos
Negócios Estrangeiros para sair da fotografia do processo de destruição
nacional em curso se tornaria patético. Foi ontem.
Quem ouvisse Paulo Portas à entrada de uma comissão parlamentar poderia
imaginar que o líder do CDS estava a pré- -anunciar uma ruptura na
coligação governamental na sequência do não cumprimento pelo governo de
uma condição imposta pelo partido: o não aumento de impostos. Mas isso
não irá acontecer. Quando assinou a coligação com o PSD e o programa da
troika, Portas obrigou-se a uma agenda destrutiva da economia nacional e
à retirada de rendimentos aos “pensionistas” e “reformados” que durante
tanto tempo foram os principais destinatários do seu discurso.
Resta-lhe agora tentar convencer-nos de que está contra as medidas,
embora nada faça para as boicotar.
Portas invocou o seu “patriotismo” para ficar em silêncio. Podemos
deduzir que o fez para se esquivar a criticar o governo de que faz parte
em momento de avaliação da troika? Mas se o ministro de Estado não
deixou um frémito de apoio às medidas anunciadas por Passos Coelho e
Gaspar, fica claro que não tomará qualquer atitude para impedir que as
medidas mais gravosas vão para a frente. É certo que Paulo Portas tem a
bomba atómica na mão: não a usará.
Todos estes movimentos políticos são uma forma de Paulo Portas tentar
convencer-nos de que fuma “troika”, mas não inala. O homem que enviou
aos militantes do CDS uma carta onde deu a sua palavra de que impediria a
imposição de mais impostos vai ter de recuar em toda a linha.
É um facto que a presença do CDS no governo não tem qualquer influência
nos destinos do país. Se Portas pretende disfarçar esse facto com as
suas voltas ao mundo enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, já não
consegue enganar ninguém.
A presença no governo de Pedro Passos Coelho pode vir a revelar-se a
sua última vida política – que já sobreviveu a tudo, a vários
escândalos, ao governo Santana Lopes, etc., etc. Mas não sobreviverá à
destruição do país, ao seu empobrecimento violento (na linha das
promessas de Pedro Passos Coelho há precisamente um ano), a uma implosão
social que só agora está a começar.
Quando estivermos todos mortos, o défice terá um excelente desempenho.
Mas, nessa altura, Paulo Portas também estará morto. E o CDS terá o
destino de outros antigos partidos.
IN "i"
12/09/12
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