Maldita austeridade
Não foi para isto que andamos tantos anos a lutar e a trabalhar para ter uma vida melhor
Estou cansada de ouvir os mesmos comentadores e
fazedores de opinião, que defenderam este governo até ao impossível,
agora, apenas passado um ano de governação, estarem a descobrir que
afinal a austeridade não traz desenvolvimento nem progresso para as
pessoas, bem pelo contrário, só traz mais pobreza, desemprego, menos
consumo, menos pagamentos de impostos o que equivale a menos receitas
para o Estado.
Não é preciso ser economista para perceber que, se uma pessoa tem
menos dinheiro, vai gastar menos e se não tem dinheiro nenhum vai ter
que pedir esmola para viver.
Não é preciso ter uma licenciatura, nem que seja tirada num ano, para
perceber que, se existem cada vez mais pessoas desempregadas e empresas
a fecharem vai entrar menos IRS e IRC nos cofres do Estado assim como
menos descontos na Segurança Social.
Tudo isto era previsível e os partidos anti-austeridade e anti-Troika
chamaram a atenção para as consequências da austeridade que na Grécia
já tinha demonstrado ser totalmente errado. Diziam eles que não havia
outro caminho porque precisávamos de pagar as nossas dívidas aos
credores e se a divida era do Estado todos/as tínhamos que a pagar. Na
verdade maior parte da divida era dos bancos e do sector privado e não
do Estado mas esta separação nunca foi feita de propósito porque
interessa jogar com a ignorância das pessoas para justificar o
injustificável. Espanha está aí para demonstrar a desfaçatez de quem
pede dinheiro para a Banca e põe os cidadãos em austeridade…
Se tivesse sido feita uma audição rigorosa à divida e tivesse sido
negociado o pagamento da divida do Estado a juros mais baixos e por mais
tempo não estaríamos na situação de agonia onde nos encontramos. Os
chamados mercados, que não são mais do que agiotas ao serviço dos Bancos
dos países mais poderosos, fazem pressão sobre os mais pobres e
endividados para conseguirem sugar o máximo através dos juros altíssimos
que os países têm que pagar.
A Troika aparece a falar em ajuda mas é preciso que se diga que essa
chamada ajuda só em juros da divida, este ano vai custar a módica
quantia de mais de 86 mil milhões de euros. Só a Troika vai receber mais
de trinta mil milhões pela sua "ajuda". E quem paga somos nós.
Esta política de austeridade defendida por tanta "gente importante",
que se fartaram de criticar quem se recusou a nela participar, está a
sugar-nos direitos que levaram quatro décadas a conquistar pois cortar
os subsídios de férias e de Natal é tirar-nos o direito a gozar férias e
a festejar a Festa com a família, podermos viajar e oferecer uma prenda
e assim fazer o dinheiro girar e a economia a funcionar assegurando
muitos postos de trabalho.
Aumentar o IVA da forma violenta como foi feita, na Madeira foi ainda
pior, é fazer recuar a história em muita coisa pois muitas pessoas já
não conseguem manter o seu nível de vida dos últimos anos e estão a
renunciar a bens e serviços que tinham sido um avanço nas suas vidas.
Ainda há dias vi umas mulheres a voltaram aos lavadores públicos, porque
não conseguem manter as máquinas de lavar, como se fossem um grande
luxo. O mais grave é que isto é acenado como um grande exemplo contra a
crise ou uma forma de a vencer. Daqui a dias ainda voltam as velhas
"cozinheiras a petróleo" para substituir os fogões a gás e tudo isto
aparece como grande exemplo contra a crise.
Não gosto de ver estes retrocessos. Não foi para isto que andamos
tantos anos a lutar e a trabalhar para ter uma vida melhor. Não gosto
desta maldita austeridade que só alimenta os agiotas e os idiotas que
nos andam a governar. Não gosto das abstenções violentas do maior
partido da oposição que acaba sempre por fazer o jogo a esta política.
Outro caminho é possível, com responsabilidade mas sem austeridade.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
13/07/12
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