PREÂMBULO
Há numerosas referências comprovativas da tradição e importância da vinha no Algarve, bem como do papel de relevo que o vinho ali produzido desempenhou nas trocas comerciais durante as Idades Média e Moderna.
Durante a ocupação muçulmana, os árabes não só plantavam a vinha como exportavam o vinho produzido. Após a reconquista, os cristãos aproveitaram e incrementaram a organização económica deixada por este povo.
No extremo Sul de Portugal Continental, o Algarve é uma zona bem definida, um compartimento com feições características, conferidas pela proximidade do mar, pelo clima, pela vegetação natural e pela cultura marcada pela longa ocupação árabe.
A localização meridional e a protecção assegurada pela barreira montanhosa contra os ventos frios do Norte e a exposição em anfiteatro virado ao Sul, fazem com que o clima seja acentuadamente mediterrânico: quente, seco, pouco ventoso, amplitudes térmicas muito reduzidas e com uma média de insolação acima das 3000 horas de sol por ano.
SERRA DE MONCHIQUE |
Os solos são litólicos, não húmicos, de arenitos, grés de Silves ou afins, regossolos psamíticos, solos mediterrânicos vermelhos ou amarelos de arenitos e de rañas, podzóis e aluviossolos.
As serras são muito importantes na agricultura algarvia, pois protegem as explorações de ventos provenientes do norte.
O desenvolvimento do turismo na região, foi pouco benéfico para a viticultura. As vinhas foram substituídas por hotéis, aldeamentos turísticos e campos de golfe.
Nos últimos anos, a região está a receber investimentos para revitalizar o sector vitivinícola. Iniciou-se a replantação de castas, a modernização das adegas e praticaram-se novos métodos de produção de vinhos.
Entre cachos,
vinhos e história
Todos os vinhos produzidos nas diferentes regiões partilham com elas algo do seu historial e do seu património. Naturalmente, o Algarve não foge à regra. O passado, o presente, a cultura, os encantos e desencantos deste destino
influenciam a extensa riqueza, a subtileza das cores e os intensos aromas e sabores dos
vinhos aqui gerados. Mas há também uma história própria que percorre a vinha do terroir algarvio e que merece ser recordada.
VINHAS DE CLIFF RICHARD |
A importância da vinha no Sul português remonta à presença árabe, época em que esta era já cultivada e em que se exportavam vinhos de boa qualidade (e muito apreciados!). A presença dos muçulmanos no Algarve permitiu não só o cultivo da vinha, mas também o comércio de exportação, pelo menos em Tavira.
A organização económica da época muçulmana foi aproveitada pelos cristãos, que a mantiveram após a reconquista.
Desde o reinado de D. Afonso III que a viticultura foi valorizada no Algarve. No foral de Silves pode constatar-se a importância que os reis portugueses atribuíram ao comércio marítimo do vinho algarvio, que cedo se tornou numa fonte de riqueza para o reino.
Assumindo um papel de relevo na economia
do Algarve de então, destacou-se o seu papel nas trocas comerciais ao longo da Idade Média e nos princípios da Idade Moderna.
A exportação do vinho da região efectuou-seao longo dos séculos XIV e XV, sendo ainda de grande importância no século XVI.
As lutas pela independência, no século XVIII, e o incremento da exportação do vinho do Douro a partir do século seguinte deixaram marcas na viticultura algarvia. A perturbação ocasionada pela guerra na economia do país e a projecção internacional do vinho do Porto, que lhe conferiu uma quase exclusividade no
estrangeiro, contribuíram para o «esquecimento dos vinhos algarvios.
Entretanto, a região vitivinícola do Douro foi gravemente afectada pela filoxera (doença causada na vinha pelo insecto com o mesmo nome), o que originou a procura noutras regiões do país de massas vínicas que pudessem servir de base à preparação de vinhos para exportação, caso do vinho do Porto.
O Algarve forneceu milhares de hectolitros dos seus vinhos com destino ao Douro. E tanto assim foi que até há pouco tempo existiu na estação de caminho de ferro que serve Lagoa uma grua outrora utilizada para carregar as pipas enviadas para aquela região demarcada do país. Estes factos – com grande peso histórico para os vinhos do Porto – são ainda hoje pouco conhecidos.
Sobre os vinhos algarvios, disse convicto António Augusto de Aguiar, nas conferências proferidas após os congressos das exposições de Londres e Berlim de 1873, onde se procurou promover os vinhos portugueses:
“E agradaram à prova, porque não deixaram a boca arrependida, como os vinhos da Bairrada, não embotam os dentes, possuem a delicadeza e a suavidade que raras vezes encontramos nos vinhos novos de Portugal, não pecam pela abundânciade taninos, dão-nos os aromas do figo e da amêndoa, amora e morango que aparecem sem cultivo no campo, são beneficiados pela brisa marítima, são mais vimosos que os vinhos do Douro e Alentejo, têm a elegância que não se
encontra nos Chateaus de Bordéus.”
História
Os primeiros ocupantes do Algarve foram comerciantes e intendentes do Estado que estabeleceram as suas colónias na costa. Bons exemplos são os Fenícios e os Cartagineses que viveram durante muito tempo apenas dos recursos da costa algarvia.
Mas existe um facto muito importante na história do Algarve: os cinco séculos de ocupação Árabe, visíveis na arquitectura da região (chaminés trabalhadas e azulejos, por exemplo) e no nome de muitas regiões algarvias começadas com 'Al'.
O Algarve foi, em tempos, parte da província Romana da Lusitânia, passando mais tarde para a jurisdição dos Visigodos.
MILREU |
A presença Romana deixou vestígios em Milreu, Faro, Boca do Rio e Vilamoura.
Em 711, Tarik ibn Zyad passou o Estreito de Gibraltar e derrotou o rei dos Visigodos. Em 712 Abd Al-Aziz Ben Mussa conquistou o "Gharb Al Andaluz". Andaluz significava terra dos vândalos e Al-Gharb, o Oeste.
Ocupação Muçulmana
Durante a ocupação muçulmana do Algarve, cultivava-se a vinha em grandes quantidades. Como a religião muçulmana não permite a ingestão de álcool o vinho servia como moeda de troca para a aquisição de outros produtos. Depois da reconquista do Algarve, os cristãos aproveitaram a organização económica deixada pelos muçulmanos.
Após muitas batalhas, o Algarve foi reclamado pelos Cristãos.
TERRAMOTO 1755 |
Desde 1249, e até à proclamação da República, os monarcas portugueses eram intitulados "Rei de Portugal e dos Algarves".
Também importante na história do Algarve foi a Era das Descobertas e o terramoto de 1755. O Algarve tornou-se muito mais importante durante as descobertas, sendo usado como um dos principais portos de partida. Os algarvios foram parte determinante das aventuras marítimas e da ocupação do território africano.
O terramoto de 1755, cujo epicentro se situou muito perto de Lagos, destruiu grande parte do Algarve. Os tremores de destruição sentiram-se em todo o lado e levaram à perda de muitos edifícios importantes. Mas nem isto parou os algarvios que, apesar de todas as adversidades, reconstruíram o Algarve e fizeram dele o que ele é hoje: uma maravilhosa estância de férias à beira-mar!
PRAIA DO BARRIL |
Para um estudo mais aprofundado sobre a história do vinho na região algarvia aconselhamos o livro A Vinha e o Vinho no Algarve - O renascer de uma velha tradição, coordenado por João Pedro Bernardes e Luís Filipe Oliveira, que tem por objectivo, resgatar a história esquecida da produção vitivinícola da região, ao mostrar o início da produção, em meados do início do século XX, até os dias de hoje.
SUB-REIÕES (DO)
Dada a tipicidade que as condições edafo-climáticas conferem aos vinhos, existem no Algarve quatro Denominações de Origem: "Lagoa", "Lagos", "Portimão" e "Tavira".
“DO Lagos”
A área geográfica correspondente à Denominação de Origem Controlada “Lagos” abrange os concelhos de Aljezur (parte das freguesias do mesmo nome, Bordeira e Odeceixe), Vila do Bispo (as freguesias de Raposeira, Sagres e Vila do Bispo e parte das freguesias de Barão de São Miguel e Budens) e Lagos (freguesias de Luz, Santa Maria e São Sebastião e parte das freguesias de Barão de São João, Bensafrim e Odiáxere).
Castas recomendadas
Tintas
-Negra Mole,
-Trincadeira e Castelão,
no conjunto ou em separado, com um mínimo de 70% de encepamento;
-Alicante Bouschet,
-Aragonez,
-Bastardo,
-Cabernet Sauvignon,
-Monvedro e
-Touriga Nacional.
Brancas
-Arinto,
-Malvasia Fina e
-Síria,
no conjunto ou separadamente com um mínimo de 70 % do encepamento;
-Manteúdo,
-Moscatel Graúdo e
-Perrum.
Características Organolépticas
Vinhos Tintos -
São aveludados, pouco encorpados, com aroma frutado e pouco acídulos e quentes. São abertos de cor, apresentando um tom rubi que, com o envelhecimento, adquire o tom topázio.
Vinhos Brancos -
Apresentam uma cor entre o citrino e o palha, sendo delicados e suaves, com um travo característico duma zona quente.
“DO Portimão”
A área geográfica correspondente à Denominação de Origem Controlada “Portimão” abrange o concelho de Portimão (freguesia de Alvar e parte das freguesias da Mexilhoeira Grande e Portimão).
Castas recomendadas
Tintas
-Negra Mole,
-Trincadeira e
-Castelão,
no conjunto ou separadamente, com um mínimo de 70% de encepamento;
-Alicante-Bouschet,
-Aragonez,
-Cabernet-Sauvignon,
-Monvedro,
-Syrah e
-Touriga Nacional.
Brancas
-Siria (Roupeiro) e
-Arinto,
com um mínimo de 70% de encepamento;
-Manteúdo,
-Moscatel-Graúdo,
-Perrum e
-Rabo-de-Ovelha.
Características Organolépticas
Vinhos Tintos - São aveludados, pouco encorpados, com aroma frutado e pouco acídulos e quentes. São abertos de cor, apresentando um tom rubi que, com o envelhecimento, adquire o tom topázio.
Vinhos Brancos
- Apresentam uma cor entre o citrino e o palha, sendo delicados e suaves, com um travo característico duma zona quente.
“DO Lagoa”
A área geográfica correspondente à Denominação de Origem Controlada “Lagoa” abrange os concelho de Albufeira, Lagoa e Loulé (freguesias de Almansil, Boliqueime, Quarteira, São Clemente e São Sebastião e parte das freguesias de Alte, Querença e Salir) e Silves, as (freguesias de Alcantarilha, Armação de Pêra e parte das freguesias de São Bartolomeu de Messines e Silves).
Castas recomendadas
Tintas
- Negra Mole e
-Trincadeira,
no conjunto ou em separado, com um mínimo de 70% do encepamento.
-Alicante-Bouschet,
-Aragonez,
-Cabernet-Sauvignon,
-Castelão,
-Monvedro,
-Moreto, Syrah,
-Touriga-Franca e
-Touriga Nacional.
Brancas
-Síria (Roupeiro) e
-Arinto,
com um mínimo de 70% de encepamento;
-Manteúdo,
-Moscatel-Graúdo,
-Perrum,
-Rabo-de-Ovelha,
-Sauvignon.
Características Organolépticas
Vinhos Tintos
Apresentam uma cor rubi que, com o envelhecimento, adquire um tom topázio. São aveludados, frutados, e quentes. Fáceis de beber, evoluem muito bem e têm grande longevidade.
Vinhos BrancosApresentam uma cor citrina, sendo robustos e suaves, com algum corpo e grande capacidade de evolução.
“DO Tavira”
A área geográfica correspondente à Denominação de Origem Controlada “Tavira” abrange os concelhos de Faro, Olhão, São Brás de Alportel (parte da freguesia do mesmo nome), Castro Marim (parte da freguesia do mesmo nome), Tavira (freguesias da Luz e Santiago e parte das freguesias de Conceição, Santa Catarina, Santa Marta e Santo Estêvão) e Vila Real de Santo António (a freguesia de Vila Nova da Cacela).
Castas recomendadas
Tintas
-Negra Mole,
-Castelão e
-Trincadeira,
em conjunto ou em separado, com um mínimo de 70% de encepamento;
-Alicante-Bouschet,
-Aragonez,
-Cabernet-Sauvignon,
-Syrah e
-Touriga Nacional.
Brancas
-Síria e
-Arinto,
com um mínimo de 70% de encepamento;
-Diagalves,
-Manteúdo,
-Moscatel-Graúdo e
-Tamarez.
Características Organolépticas
Vinhos Tintos - São aveludados, pouco encorpados, com aroma frutado e pouco acídulos. São abertos de cor, apresentando tom rubi definido que, com o envelhecimento, adquire o tom topázio.
Vinhos Brancos
Apresentam uma cor entre o citrino e o palha, sendo delicados e suaves.
ROTA DE VINHOS DO ALGARVE
Ainda não existe definida a "Rota de Vinhos do Algarve, deixamos um mapa elucidativo das sub regiões vitivinicolas algarvias e também um mapa de estradas.
IN:
- IVV
- INFOVINI
- COMISSÃO VITIVINICOLA DA REGIÃO DO ALGARVE
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