27/05/2012

47 - ILUSTRES PORTUGUESES DE SEMPRE »»» raul rêgo



Raul de Assunção Pimenta Rêgo (Morais, Macedo de Cavaleiros, 15 de Abril de 1913—Lisboa, 1 de Fevereiro de 2002) foi um jornalista e político português.


Biografia 
De 1924 a 1936 frequentou o Seminário das Missões do Espírito Santo, em Viana do Castelo, tendo concluído o curso de Teologia. Acabou, no entanto, por abandonar a carreira eclesiástica, tendo-se mesmo tornado anticlerical. 
Foi membro do Movimento de Unidade Democrática, o que o levou à prisão em 1945. 
 Dirigiu os serviços de imprensa das candidaturas presidenciais dos generais Norton de Matos (1949) e Humberto Delgado (1958). Enquanto jornalista, colaborou na Seara Nova, no Jornal do Comércio, no Diário de Lisboa e no Jornal República, do qual se tornaria director em 1971. Após o encerramento deste em 1976 fundou A Luta. 

Em 1974 tornou-se ministro da Comunicação Social do primeiro Governo Provisório. De 1975 a 1999 foi deputado pelo Partido Socialista, primeiro da Assembleia Constituinte e depois na Assembleia da República. Também foi grão-mestre da Maçonaria portuguesa de 1988 a 1990.

Homenagens 
Em 1976, o Congresso da Federação Internacional dos Editores de Jornais distinguiu-o com a Pena de Ouro da Liberdade. Foi agraciado com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade em 1980 e com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'Iago da Espada em 1998.

Obras 
- Horizontes fechados: Páginas de Política, Editorial Inquérito, 1969 
- Diário Político, Arcádia, 1974 
- Violência inútil, Dom Quixote, 1975 
- O Último Regimento e o Regimento da Economia da Inquisição de Goa, Biblioteca Nacional, 1983
- História da República, Círculo de Leitores, 1986–88 
- Para um Diálogo com o Senhor Cardeal Patriarca, Europress, 1989 
- O Processo de Damião Goes na Inquisição, Assírio & Alvim, 2007

WIKIPEDIA

DEPOIMENTO

 por João José Alves Dias 

Conheci pessoalmente Raul Rêgo aquando da inauguração da Avenida Afonso Costa, em Lisboa. Estávamos no ano de 1977. Tinha eu, então, 19 anos. Embora já se vivesse em tempos democráticos, as homenagens a vultos republicanos eram, ainda, encontros de oposicionistas e de lutadores pela liberdade. 
SÍMBOLO DA LOJA RAUL RÊGO
Subsistia um sentimento de unidade, representativo da conjugação de esforços num passado recente. Entre esses grupos de oposicionistas havia o grupo dos maçons, quase todos homens represen­tativos de uma luta contra a ditadura. Eu, embora ainda não tivesse idade para pertencer ao grupo, convivia com ele, por razões familiares. E um dos homens desse grupo, talvez aquele que para mim mais se destacava, porque era talvez o mais conversador, era Raul Rêgo. Na verdade, Raul Rêgo era um contador, por excelência, de histórias vividas. Atingida a minha maioridade entrei também, agora por direito próprio, para o convívio com esse grupo de homens íntegros e honrados.

Rêgo entrara para a Maçonaria durante a clandestinidade, quando a tentativa de "escavar masmorras ao vício e levantar templos à virtude" não era apenas uma maneira de ser e de sentir, mas antes um acto de coragem e o símbolo da entrega total pela luta da Liberdade. Entrara em 1971. Estávamos, para uns, apenas a três anos de distância do fim dos tempos escuros... mas, para quem entrara para a Maçonaria durante esse tempo, era exigida dedicação, amor, vivência e entrega pela sobrevivência da trilogia "Liberdade, Igualdade, Fraternidade". É que então ninguém suspeitava que novos horizontes, novas auroras de luz, estavam para tão perto. Entrar em 1971, ou 1972, ou 1973, isto é, entrar para a Maçonaria nessa fase em que ela era uma Ordem perseguida e forçada a ser secreta havia quatro décadas... era um dos actos mais corajosos e de maior dedicação pela Pátria. Já não se estava nos primeiros tempos de clandes­tinidade, em que se lutava, se sonhava e se esperava que a ditadura caísse depressa. Estava-se num regímen sólido e forte, que se perpetuava com foros de legalidade.
Conheci igualmente Raul Rêgo em outras viagens iniciáticas que ambos realizámos pelas livrarias, quer de livros novos quer, especialmente, de livros antigos. Ai, mais do que dentro das paredes do Palácio Maçónico, convivi e aprendi a apreciar o homem que era, por si próprio, graças à sua energia e maneira de transmitir ideias, um dos maiores propagadores do pensamento livre e sem preconceitos. E foi nesses encontros em alfarrabistas que eu compreendi a razão da escolha do nome simbólico que Rêgo adoptara aquando da sua iniciação: Erasmo.

Erasmo personificava a luta contra um ideário convencional e, por vezes, católico. Tal como Rêgo, conhecera a Igreja por dentro e lutara contra a tirania, obscurantismo e fanatismo que muitas das suas práticas, não as suas crenças, exerciam sobre os humanos. Compreendera o novo espírito humanista. 

Ambos colocavam o Homem como medida do pensamento. E, à volta de cada um dos livros antigos, em especial dos escritos na época de Erasmo, Rêgo tecia os seus comentários, as suas criticas, enfim, desbastava a pedra bruta que ainda vivia em muitos dos que o escutavam. Publicava, depois, em crónica, num diário de Lisboa, muitas dessas conversas e desses debates, que eram antes monólogos, quase que sermões ou pregações, esclarecedores à boa maneira de Erasmo.

Este novo Erasmo compreendia o papel da Maçonaria e a acção que ela exercia, a nível geracional, na acção futura de cada ser humano e do desenvolvimento da própria Humanidade. Aumentou os seus conhecimentos da maçonaria prática e filosófica. Em 1979, saía, em língua portuguesa, a tradução da 6ª edição do livro escrito por Paul Naudon, A Franco-Maçonaria. Rêgo foi convidado a escrever o posfácio, onde apresentava um resumo dos estudos da Maçonaria em Portugal. E é nesse posfácio que ele nos conta, indirectamente, parte da sua experiência e vivência maçónicas.

Vejamos algumas dessas suas palavras, escritas sobre o período em que a Ordem iniciática foi forçada a viver em clandestinidade e em secretismo:

"Dissolve-se uma associação, um organismo; mas não se destrói a sua mentalidade. Por isso mesmo a Maçonaria Portuguesa se pode dizer que esteve sempre no cerne da resistência, durante quarenta e oito anos. Deverá fazer-se a história dos maçons que foram exilados, presos, atirados para a reserva ou para a reforma, procurando destruir-lhes a vida e, sobretudo, a mentalidade livre, democrática, fraterna. Uns foram morrendo nos campos de concentração ou longe da pátria; outros isolados no silêncio de suas casas, impedidos pela censura ou pela polícia de reunir, de conviver... 

Mas, honra seja aos resistentes, a Maçonaria não chegou a extinguir-se e conseguiu até manter a sua corrente, ténue, mas não interrompida. Não vamos fazer a história dos que animaram a esperança, durante muitos anos; mas basta dizer-se que, reunindo em salas de acaso, fechados que eram os seus templos, nunca deixou de recrutar novos obreiros e até de entrar em resistência aberta, o momento mais alto da qual se pode considerar a candidatura à Presidência da República do próprio general Norton de Matos. ...

A vida maçónica não se extinguiu. Continuou a haver iniciações, reuniões, contactos internacionais....

Mais do que isso. Em todos os movimentos de resistência democrática, a Maçonaria esteve presente... a Maçonaria representou a continuidade do espírito democrático....

Depois da Revolução, os dias foram de esperança... Recuperada a liberdade há que lutar para que ela se não perca mais, vivendo-a intensa e conscientemente e fazendo compreender a todos que a base do progresso social e material está nos valores humanos e no respeito da inteligência e dos direito do homem."

Aqui estava todo, ou quase todo, o pensamento de um grande maçon ao acentuar que a "base do progresso social e material está nos valores humanos e no respeito" da diversidade humana.
Dentro do Grande Oriente Lusitano, o organismo que administra a chamada Maçonaria simbólica, o irmão Erasmo foi seu Grão-Mestre nos anos de 1988 a 1990. Já antes tivera sido Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do 33º grau para Portugal, isto é o correspondente a Grão-Mestre para a chamada Maçonaria filosófica, no período de 1984 a 1988, sendo o Supremo Conselho chamado, por muitos, a consciência da própria Maçonaria, dados os conhecimentos, a dedicação e o valor necessários para nele se ter assento. Mas não é aqui o lugar para se fazer a história da instituição maçónica.

-Os homens, infelizmente, também morrem. Fica a sua obra o seu ideário e, no caso dos maçons, o seu ensinamento e a sua luta para o avanço em direcção a um mundo mais justo, mais honesto e mais fraterno. Não é preciso ser-se maçon para se ser um homem útil ao seu País; mas todo o maçon tem de ser, ou deve ser, forçosamente útil ao seu País e à Humanidade. E Raul Rêgo, sem dúvida que honrou o seu compromisso maçónico, pois toda a sua vida foi escrita pela luz da liberdade, com sabedoria, força e beleza.

Na primeira edição da Harpa do Crente, o maçon Alexandre Herculano, escreveu alguns versos de sentido maçónico acerca da morte do maçon D. Pedro IV. Versos esses que ele retirou depois das edições seguintes e que só são conhecidos por estudiosos ou por bibliófilos... duas qualidade que Raul Rêgo tinha. Porque se tratam de versos reveladores de um perfeito conhecimento maçónico, Alexandre Herculano não se importará que eu os volte a desenterrar, de um desses livros raros, que tão queridos eram ao nosso irmão Erasmo, para aqui prestar uma homenagem a este outro nosso irmão. Versos esses cuja simbólica não escapa a um maçon: 

"Plante-se a acácia, o símbolo do livre, 
 junto às cinzas do forte:
 Ele foi rei – e combateu tiranos 
– Chorai, chorai-lhe a morte!"

 IN "http://members.tripod.com/~gremio_fenix/trabalhos/raulrego.htm"

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