20/03/2012

JORGE MONTEMOR



MALDITAS IMPARIDADES

"No crédito bancário à economia, 64% do total é-o ao sector de construção e imobiliário"

Muitos desses créditos são a longo prazo apesar de financiados pela banca em curto prazo. Os que não são de longo prazo também são de difícil cobrança ou liquidação dada a actual situação do mercado imobiliário.

Para a desalavancagem exigida pela troika para 120% do rácio de empréstimos sobre depósitos, o esforço terá que vir de outros sectores, os que conseguem ir liquidando, e onde a banca está a pressionar. Praticamente todas as empresas estão a ver o seu custo de financiamento a aumentar e os plafonds de crédito a diminuir, incluindo e infelizmente as empresas de bens transacionáveis e exportadoras, vectores de recuperação da economia. Até quando? Até a banca conseguir “limpar” os seus balanços dos seus activos improdutivos.

Existem muitos créditos que os bancos não poderão hoje recuperar, e talvez nem num futuro próximo. É ouvido em muitos Conselhos de Administração uma “certeza” de os bancos não quererem exigir os créditos às suas empresas para não ficarem com os activos penhorados ou com as próprias empresas, entre insolventes ou viáveis com excesso de dívida. Os bancos converterse-iam em holdings de participações, que não desejam nem estão preparados para isso. A venda também não é hipótese dadas as imparidades daí resultantes. Isto é, o valor do activo pode ser inferior ao crédito registado na contabilidade dos bancos. É possível que desses 64% de crédito ao imobiliário e construção, ou perto de 100 mil milhões de euros, existam imparidades resultantes da desvalorização imobiliária, de quase 20%.

Isso corresponderia a uma perda, se realizada hoje, de 20 mil milhões de euros ou oito vezes a capitalização bolsista dos bancos portugueses. Seria a insolvência, não é solução. A banca preferirá fazer, como fizeram os bancos japoneses na década de 90, “arrumar” esses créditos no sótão à espera de melhores dias. No entanto, isso é um “crowding-out” de crédito à economia. Por ter esses empréstimos imobilizados, não geram novos créditos à economia. Se a banca não se “limpar” desses créditos não pode voltar a ser o que deve ser, um instrumento vital e básico da nossa economia de mercado, europeia porque a economia americana por exemplo não depende tanto dos bancos para a intermediação entre poupança e investimento.

Necessitamos de um “reset” para termos uma banca saudável. Salvar a banca desses activos é um imperativo, o que não significa salvar a actual estrutura accionista até por questões de moral hazard. Como?



IN "EXECUTIVE DIGEST"
12/03/12


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