12/01/2012



HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"

A tecnologia portuguesa 
que gere o metro de Londres

João Pavão Martins e Ernesto Morgado doutoraram-se em inteligência artificial na América e trouxeram o conceito para Portugal

"Estávamos nos Estados Unidos da América a tirar um doutoramento em inteligência artificial, isto em 1980/81, quando nos apercebemos de que quem aplicava os conhecimentos ali adquiridos a novos projetos tinha sempre sucesso." Foi deste modo que João Pavão Martins, um dos sócios fundadores da SISCOG, explicou ao DN como surgiu a ideia de criar a empresa. Enquanto isso, folheava um livro, de capa branca, com a história, as peripécias e as fotografias que marcaram esta empresa 100% nacional. Na cadeira ao lado, o seu antigo colega de faculdade, e atual sócio, Ernesto Morgado, validava tudo o que era dito com a cabeça.

Hoje, um dos softwares da SISCOG - o Crews - é responsável pela gestão das escalas dos recursos humanos do Metropolitano de Londres. Mas tal sucesso foi difícil de alcançar.

Quando os dois colegas do Instituto Superior Técnico, que por acaso também se cruzaram nos corredores de uma universidade americana, regressaram a Portugal, tinham um projeto conjunto em mente - a aplicação prática do que haviam aprendido.

A principal dificuldade que sentiram foi explicar aos portugueses as vantagens da inteligência artificial. "Sempre que falávamos sobre os nossos conhecimentos a alguns responsáveis de empresas nacionais riam--se de nós", lembraram com um sorriso.

Ainda assim decidiram arriscar e a 5 de julho de 1986 constituíram a sociedade por quotas SISCOG, Consultas e Serviços em Sistemas Cognitivos, Lda., com capital social de 500 contos, ou seja, cerca de 2500 euros.

"É para si!", continuou João Pavão Martins, esticando-me a mão com que segurava o livro. O título - SISCOG Um Quarto de Século -, esse, já está desatualizado, porque este ano a empresa cumpre já o seu vigésimo sexto aniversário.

A primeira proposta formal feita pela SISCOG aconteceu logo no ano seguinte à sua criação. A pequena empresa de então propôs à CP o desenvolvimento de um protótipo para a geração de escalas dos maquinistas. Antes da assinatura do contrato foram necessários muitos meses de negociações. Na prática, a SISCOG propôs à CP revolucionar sua técnica de fazer as escalas dos maquinistas, que até aí era feita à mão. O protótipo ficou pronto a 27 de janeiro de 1989.

A 1 de julho do mesmo ano, o já extinto, Semanário escrevia: "Inovação nos comboios - SISCOG introduz inteligência artificial nos turnos da CP."

O sucesso estava garantido em Portugal, mas só dois anos depois chegou ao estrangeiro. O primeiro cliente foi o Nederlandse Spoorwegen, o mesmo será dizer, os caminhos de ferro holandeses.

"Mas para eles entregar o desenvolvimento do sistema de planeamento de tripulações a uma pequeníssima empresa portuguesa foi algo muito difícil na altura", revelou Ernesto Morgado.

A falta de alternativas e as provas já dadas pela SISCOG em Portugal foram suficientes para fazer com que os holandeses ganhassem confiança. Além disso, em 1992 fora feita uma demonstração do software à empresa holandesa e a votação dominante - entre os funcionários - foi favorável à compra do sistema.

Os dois colegas de faculdade que sempre se orgulharam de ser portugueses começaram a perceber o sucesso da empresa, quando um especialista em caminhos de ferro holandês lhes disse que, após a experiência com a SISCOG, tenta mostrar a toda a gente que Portugal é um país com muita qualidade.

Hoje, com mais software além do Crews, a SISCOG está presente em grandes empresas. O metro de Lisboa é uma delas, e em 2005 conseguiram entrar no gigante metro de Londres. "Os ingleses também tiveram receio, mas nestes sete anos já mostram que temos valor", assegurou Ernesto Morgado.


* -Oh senhores Profs. Drs., que tal criarem um "chip" para intoduzir nos crânios governamentais.


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