04/12/2011

MARGARIDA REBELO PINTO



Novelos e mulheres

De repente, não mais que de repente», como escreveu Vinicius de Moraes, vários casais amigos desataram a parir, alguns deles já um pouco fora de tempo, mas nem por isso menos animados com a ideia, como se a vida estivesse fácil e o mundo fosse um lugar encantador.

E eu dei por mim a embalar bebés nos meus braços durante as últimas semanas e a pensar porque é que não voltei a aventurar-me em tal território, logo eu, que em pequenina passava tardes a mudar as fraldas aos chorões, que sempre fui uma tia dedicada e que, acima de tudo, gosto de ser mãe e de aproveitar a companhia do meu filho.

De facto, este instinto é algo que não me falta, porque acabo por fazer o papel de protectora de amigos mais carentes e de amigas mais despistadas, das sobrinhas que se põem a jeito e dos amigos do meu filho que passam a vida cá em casa. Não há bebé que chore no meu colo nem cão que me rosne, disso me orgulho. E, no entanto, embora o apelo da maternidade de vez em quando me acene, nunca passa para o lado de cá da realidade, nunca chega a entrar na lista dos desejos viáveis e possíveis. Eu adoro ser mãe e adoro bebés, mas se agora tivesse que passar por todo esse protocolo não sei o que seria de mim.

Não é só a parte logística que me assusta. Aterroriza-me a ideia de, um dia, quando o meu filho fizesse 20 anos, teria uma mãe de 60. Eu espero chegar aos 60 leve e fresca, mas terei sempre 60 enquanto as outras mães da turma teriam em média menos 20 anos do que eu. Isso ia fazer de mim uma mãe/avó, figura híbrida que já é estranha nos homens, quanto mais nas mulheres. Ter filhos tarde não é só um luxo nem um risco; é um passaporte para um recomeço para o qual até estava preparada, se fosse caso disso, mas que não me entusiasma. E, no entanto, se por um acaso do destino tal acontecesse…

ORA isto é tal e qual como funciona o pensamento feminino. Somos seres ambivalentes por natureza, queremos quase sempre o que não temos. As minhas amigas casadas suspiram pela vida de solteiras e as que estão solteiras acreditam que as casadas é que são felizes. As que têm bebés de colo invejam as mães dos adolescentes, enquanto estas lhes embalam os filhos e lhes dizem: «Aproveita bem a fase do anjinho, porque quando entrar para o secundário vai ser um inferno». E as que têm maridos ausentes queixam-se de falta de apoio, enquanto as que vivem com homens que as adoram e que estão sempre lá se cansam deles.

O pensamento feminino é como um novelo; aparentemente bem enrolado, mas depois, quando se começa a desfiar, encontram-se nós, fios partidos, fios de outros novelos misturados e sabe-se lá mais o quê. Citando outro jornalista e poeta brasileiro, autor de belas canções que é Nelson Motta, «nunca se sabe o que se passa na cabeça de uma mulher». Querido Nelsinho, como são sábias as suas palavras! Ninguém sabe mesmo e, muitas vezes, nem as próprias.


IN "SOL"
28/11/11

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