05/06/2020

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HOJE NO
"OBSERVADOR"
Casas de Pizzi, Rafa, Grimaldo
 e Lage vandalizadas. 
Vieira confirma queixas na polícia. PSP identifica grupo ligado ao ataque "

Estás avisado", escreveram no muro da casa de Pizzi entre insultos. Rafa, Grimaldo e Lage foram outros dos visados de madrugada. Todos já apresentaram queixa. Zivkovic e Weigl reagem ao ataque.

A casa de Pizzi, um dos capitães de equipa do Benfica, foi vandalizada depois do empate dos encarnados sem golos frente ao Tondela na Luz, que impediu que o conjunto comandado por Bruno Lage chegasse à liderança da Liga. “Pizzi, filho da p***, estás avisado” foram as inscrições deixadas no portão do internacional português.
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A imagem dessa mensagem já tinha circulado por alguns fóruns não oficiais do Benfica durante a madrugada. Rafa e Grimaldo foram outros dos atletas visados, bem como Bruno Lage. Neste caso em específico, e ao contrário do que se passou nas residências dos jogadores, foi deixada a descrição “NN”, ligada à claque No Name Boys. O Observador confirmou que os quatro já apresentaram queixa contra incertos esta sexta-feira. Antes, o Benfica tinha também apresentado queixa pelo autocarro ao autocarro na noite desta quinta-feira, no Seixal.

Entretanto, e como tinha sido referido no programa “Tie Break” da Rádio Observador, a PSP já começou a identificar alguns dos indivíduos ligados ao ataque ao autocarro, bem como às inscrições nas casas de jogadores e treinador. Tal como já era referido por algumas fontes ligadas ao Benfica na madrugada de ontem, os mesmos fazem parte de uma ala mais radical, os casuais, da claque No Name Boys e podem ter estado ligados a outros incidentes recentes, como a rixa com adeptos do Sporting em Alvalade ou a emboscada a um membro da claque Juventude Leonina no Estoril. A maioria desses adeptos está identificada há muito pelos spotters, que têm como missão monitorizar e recolher informações dos grupos organizados de adeptos e os seus subgrupos.

Em paralelo, a Procuradoria-Geral da República confirmou ao Observador a instauração de um inquérito a todos os acontecimentos, o qual será dirigido pelo Ministério Público do Seixal. O processo encontra-se em investigação.

“Falhada a oportunidade de passarmos para a liderança isolada do Campeonato, exige-se agora uma resposta imediata da equipa, com a ambicionada vitória na difícil deslocação a Portimão na próxima quarta-feira, 10 de junho (…) O regresso aos triunfos é fundamental para alcançarmos o bicampeonato, numa retoma caracterizada pela necessidade de nos adaptarmos a toda esta nova realidade de não se sentir o apoio dos adeptos no Estádio. Mas infelizmente a noite também ficou marcada pelo cobarde e criminoso ato de apedrejamento de que foi alvo o autocarro que transportava os nossos jogadores à saída da A2, quando se deslocava para o Benfica Campus no Seixal”, começou por condenar o Benfica, desta vez através da newsletter oficial.

“São situações que se têm repetido com maiores ou menores consequências, sendo a mais grave, recorde-se, a que vitimou o nosso adepto Bruno Simões, quando o autocarro de adeptos do Benfica foi apedrejado no regresso a Barcelos, após um Benfica-Sp. Braga na Luz, para além das diversas situações que têm sido recorrentes no futebol português. Em todos estes casos, sem exceção, importa e exige-se que as autoridades atuem com o máximo rigor, e identifiquem e punam os responsáveis destes atos criminosos, verdadeiros delinquentes que devem ser erradicados do futebol e que mancham a imagem de todos os clubes sem exceção. Estão a mais no futebol e devem ser punidos de uma forma exemplar”, acrescentou o texto oficial dos encarnados esta sexta-feira.

Já esta tarde, também Luís Filipe Vieira, presidente dos encarnados, reagiu a toda a situação através de um comunicado. “O Benfica manifesta o seu total apoio e solidariedade para com o nosso treinador Bruno Lage e os nossos jogadores Rafa, Pizzi e Grimaldo, vítimas, esta madrugada, da vandalização das suas residências privadas com diversas inscrições intimidatórias e ameaçadoras. Do ocorrido, foi de imediato dado conhecimento às autoridades, a quem apelamos o máximo de rigor e exigência na identificação e punição exemplar dos responsáveis por estes atos delinquentes, conforme queixas já apresentadas”, começou por referir.

“O Benfica reitera o seu profundo repúdio e condenação por estes comportamentos inaceitáveis e inqualificáveis, a que recorrentemente temos assistido no futebol português, e que deverão ser tratados com total intransigência por parte das entidades competentes. Aproveitamos também para reforçar e manifestar igual apoio e solidariedade para com os jogadores Julian Weigl e Zivkovic, ontem [quinta-feira] atingidos pelos estilhaços dos vidros partidos ao autocarro dos jogadores e que felizmente se encontram a recuperar bem”, acrescentou.

Weigl e Zivkovic reagem nas redes: “Houve uma linha que foi ultrapassada”
Entretanto, Weigl e Zivkovic, os dois jogadores que receberam assistência hospitalar depois do ataque a um dos autocarros do Benfica no regresso ao Centro de Estágio, mais concretamente à saída da A2 para o Seixal, já reagiram ao sucedido esta manhã, depois de terem passado pelo Hospital da Luz e de voltarem por volta da 1h30.

“Só quero dizer-vos que estou ok. Tivemos todos muita sorte! Todos cometemos erros mas houve uma linha que foi ultrapassada! Atirar pedras a um autocarro sem se preocupar se magoa alguém? Sei que os verdadeiros fãs do Benfica não são assim! Especialmente estas últimas semanas e dias deviam ter mostrado que a melhor solução é sempre ficarmos juntos em vez de literalmente estarmos a atirar pedras uns aos outros! Obrigado por todas as mensagens que me enviaram, agradeço a todos”, escreveu o médio alemão no Instagram.

“Gostávamos de informar que estamos os dois bem. Infelizmente, não conseguimos justificar este comportamento. Apesar de tudo, garantimos que vamos continuar a lutar pelo Benfica e vamos continuar a dar tudo! Muito obrigado por todas as mensagens de boa recuperação e pelo grande apoio”, destacou Zivkovic na mesma rede social, com uma imagem onde é visível o penso na vista do esquerdino, que sofreu ferimentos na cara.

Federação condena em comunicado, Gomes liga a Vieira
A Federação Portuguesa de Futebol reagiu também ao sucedido em comunicado, sendo que, segundo apurou o Observador, Fernando Gomes, presidente do órgão, telefonou a Luís Filipe Vieira, número 1 do Benfica, e enviou também uma mensagem ao próprio treinador dos encarnados, Bruno Lage.

“Foi com enorme tristeza e indignação que tomei conhecimento do inaceitável ato de violência que atingiu o Benfica e os seus atletas. A FPF confia que as autoridades policiais encontrarão, no mais curto espaço de tempo possível, os responsáveis pelo ato bárbaro e cobarde de ontem [quinta-feira] – o apedrejamento do autocarro do Benfica em andamento – e exige que os autores deste crime não passem impunes. Atacar, pela calada da noite, com a mão escondida, atletas, equipa técnica, staff e dirigentes de um clube exige uma resposta à altura de todos os que amam o futebol e que se sentem revoltados por este tipo de comportamentos”, destaca.

“O futebol, ao longo de semanas, uniu-se e sacrificou-se para conseguir garantir a retoma de uma parte essencial da sua atividade. Exemplares na forma como seguiram todas as indicações das autoridades sanitárias e governamentais, os clubes nacionais voltaram a proporcionar uma enorme alegria aos seus adeptos que ansiavam, porque o futebol também é importante nas suas vidas, o regresso a uma competição que é, em si mesma, crucial para a recuperação desportiva, financeira e económica e social de todos os agentes do futebol. Os atos ocorridos ontem, sejamos claros, mancham, de novo a imagem do futebol. Mas, no essencial, responsabilizam aqueles que arremessaram as pedras, motivados pelo ódio. Essas pessoas não são do futebol, não gostam do futebol e têm de ser expulsas do futebol”, acrescenta a missiva publicada no site oficial da Federação.

“Como já afirmei em outros momentos infelizes, o futebol precisa da ação implacável do Estado nestas ocasiões. O futebol precisa da vossa ajuda para se poder regenerar e cumprir de forma plena as suas vitais funções desportivas, sociais e económicas. Dirijo uma última palavra de solidariedade aos técnicos e particularmente aos atletas duramente atingidos pelos incidentes de ontem. Envio-vos, em nome da FPF e de todo o futebol português, os meus votos de que rapidamente possam recuperar das agressões que foram alvo para que voltem a fazer aquilo que mais gostam de fazer e que tanto significa para nós – jogar futebol”, conclui.

Também o Sindicato dos Jogadores manifestou “o maior repúdio perante os atos de violência registados ontem [quinta-feira], designadamente o apedrejamento do autocarro do Benfica e os atos de vandalismo que, entretanto, foram sendo noticiados”. “Este comportamento é inqualificável, uma afronta perante todo o esforço que foi feito pelas organizações desportivas, e em particular pelos jogadores, para assegurar a retoma do futebol em Portugal. Face a estes acontecimentos e tendo em consideração os meios criados na última revisão à lei de combate à violência no desporto, o Sindicato junta-se ao apelo para uma coordenação das autoridades competentes no sentido de investigar, identificar os autores destes atos e agir em conformidade”, frisou em comunicado.

“Comportamentos criminosos como este não podem continuar a ser associados ao futebol português. Quem os promove ou executa deve ser identificado e responsabilizado. Finalmente, ao plantel do Benfica e, em particular, aos jogadores Weigl, Zivkovic e aos que viram as suas casas vandalizadas, o Sindicato deixa uma mensagem de força e total solidariedade”, completou a missiva divulgada ao início da tarde.

* E querem os dirigentes abrir os estádios a estes bárbaros, construam-se galés para os pôr a remar.

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