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* Professora
IN " plataformamedia.com"
03/06/20
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Da distância que
é mesmo distante
Nem a preocupação de tornar o distante perto nem a aproximação dos portugueses e portuguesas que se encontram em diáspora, parece ser uma preocupação do Instituto Camões e até do Ministério da Educação que tutela as escolas portuguesas espalhadas pelo mundo.
Da distância que se faz perto já muitos versaram. Das saudades que se
esbatem através de novos modos de comunicar a distância já todos os
conhecemos. No entanto, nem a preocupação de tornar o distante perto nem
a aproximação dos portugueses e portuguesas que se encontram em
diáspora, parece ser uma preocupação do Instituto Camões e até do
Ministério da Educação que tutela as escolas portuguesas espalhadas pelo
mundo.
Em má hora e má memória, os portugueses e portuguesas foram
convidados a emigrar. Muitos fizeram-no na mesma senda de sempre:
procurar melhores condições de vida. Porém, se na década de 60 e 70 do
século passado, quem emigrava era quem vivia na mais extrema pobreza, à
qual estava associado o analfabetismo, hoje a situação é muito
diferente.
Esta última vaga migratória deu-se pelos mesmos motivos, mas os netos
dos que ficaram e não “deram o salto”, são muito diferentes: já tinham
vivido bem e tinham muito mais escolaridade que os seus pais e avós.
Eram e são, na sua maioria, licenciados. Não entanto, tiveram de partir
para sobreviver. Se na vaga migratória de 60 e 70 os empregos eram na
construção civil e nas limpezas, nesta, que aconteceu nem há dez anos,
as ocupações são as que requerem formação superior.
Paradoxalmente, a
geração portuguesa melhor formada de sempre foi obrigada a partir para
outros países em busca de emprego. No seu país, Portugal, cortes e
austeridade assoberbavam de trabalho uns e despediam outros. Que
alternativa se não emigrar? Houve quem tivesse o desplante de lhe chamar
oportunidade! E, mais uma vez, os portugueses e portuguesas abandonaram
o seu país, deram o seu melhor nas mais diferentes profissões e, para
satisfação de todos nós, até ajudaram a salvar a vida de personalidades
de vulto na atual situação pandémica.
E o que tem feito o Instituto Camões para manter a ligação dos filhos
dos emigrantes a Portugal, à língua e à sua cultura: eterniza a
austeridade. Será o fim da presença da língua e da cultura portuguesas
nas comunidades de emigrantes? De asfixia em asfixia, assim será.
De há muito que o Bloco de Esquerda chama a atenção para os problemas
do ensino de português no estrangeiro (EPE) proporcionado pelo
Instituto Camões. Além de os pais terem de pagar uma propina e de
suportar o custo dos manuais, os tempos semanais foram reduzidos a 50 ou
90 minutos, aos sábados, com necessidade de um número cada vez menor de
professores. Este modo de atuação indicia desinvestimento na manutenção
da dinâmica de tornar o distante um pouco mais perto e, sobretudo,
desincentiva, quer a manutenção dos laços, quer o desenho de estratégias
de fazer regressar a geração melhor preparada de sempre e bem como os
seus filhos, já nascidos na diáspora, antes que seja tarde de mais, a um
país a braços com o problema do envelhecimento populacional.
E o que faz o Ministério da Educação? Não mostrou o menor cuidado em
diligenciar que o canal Memória, através do qual está a ser divulgada a
telescola, mais conhecida como “estudo em casa”, seja transmitido por
cabo noutros países e deu indicações vagas e sintéticas de como deveria
ser o EPE [Ensino de Português no Estrangeiro] no regime de ensino a
distância. Registe-se que os filhos dos portugueses que emigraram já têm
idade para frequentar o primeiro ou segundo ciclos do ensino básico.
Podemos dizer, sem grande margem para erro, que estes pais e mães são
zelosos das aprendizagens dos seus filhos e filhas na sua língua de
origem, mas sentem que na situação de crise pandémica foram
completamente abandonados pelo Estado português, a última entidade que
deveria fazê-lo.
Ambos abandonaram aqueles que dizem que querem fazer voltar. Nada
indica que esteja a ser feito um levantamento do número de alunos que
deixaram de aprender português desde março, quantos professores
pertencem aos grupos de risco, se há outras dificuldades e lacunas.
Parece que o que não ficou por esquecer foi a cobrança da propina dos
alunos já inscritos no próximo ano letivo, que ainda não se sabe em que
moldes funcionará, incluindo os procedimentos concursais para o
recrutamento de professores.
Ainda assim, a maior perplexidade de todas continua a ser a separação
entre os alunos que aprendem português através do Instituto Camões, que
pagam propinas e manuais e têm aulas uma vez por semana e que está sob a
alçada do Ministério dos Negócios Estrangeiros e os que frequentam as
dezenas de Escolas Portuguesas que existem nos países de língua oficial
portuguesa, sob alçada do Ministério da Educação. Segundo dados de 2019,
no conjunto total das escolas portuguesas, estudam cerca de 6.000
alunos de várias nacionalidades e lecionam cerca de 500 professores.
Para preservar os laços das pessoas em diáspora com Portugal, a
aprendizagem da língua e da cultura portuguesas são essenciais. Mas
também o são a democracia, para a cidadania e para a participação.
Vivemos um tempo excecional para o qual ninguém estava preparado. Porém,
passado o choque, é tempo de tornar a distância mais perto e de não
deixar ninguém para trás.
* Professora
IN " plataformamedia.com"
03/06/20
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