09/06/2020

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HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Em três meses, vendidas mais de
 5 milhões de embalagens de 
ansiolíticos e antidepressivos

Portugal é o quinto país da OCDE que mais consome ansiolíticos e antidepressivos, atingindo já uma taxa que duplica a de países como Holanda, Itália e Eslováquia. Não se sabe se a pandemia veio agravar esta situação, mas nos primeiros três meses do ano foram vendidas mais 400 mil embalagens do que no mesmo período em 2019.

Um povo de brandos costumes." É assim que os portugueses costumam autodefinir-se, mas não só.

Lá fora, a imagem de um povo brando nos costumes, tolerante, resiliente, com grande capacidade para se adaptar às situações difíceis, também vence. Mas o que explica então que sejamos o quinto povo dos 29 que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que mais consome medicamentos ansiolíticos e antidepressivos? Será o medo de sentir a dor psicológica, será o cansaço pelas condições de vida precárias? Será a própria prática médica de prescrição fácil? O que explica que os portugueses consumam este tipo de medicamentos de forma exagerada?
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A resposta não chega com certezas. Aliás, Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa Medicina Geral e Familiar (APMGF), diz mesmo, em tom de brincadeira: "A resposta vale um milhão. Não a tenho. Nem eu e provavelmente nenhum dos meus colegas. Há um conjunto de circunstâncias, desde a prescrição à automedicação, e este é um dos grandes problemas", defende.

O psiquiatra António Leuschner, presidente do Conselho Nacional para a Saúde Mental, concorda que a resposta para esta situação "é multifatorial" e defende mesmo que o sofrimento psicológico dos portugueses deveria ser objeto de estudo, até para se procurar e planear respostas mais adequadas.

O médico diz ser difícil lutar contra "hábitos que estão enraizados na sociedade," um deles o da automedicação. "Há doentes que começam a tomar ansiolíticos porque têm amigos que tiveram os mesmos sintomas que eles - como ansiedade ou perturbação do sono - e tomaram estes medicamentos, porque foram prescritos pelo médico, e que se deram bem. Este tipo de automedicação é um problema, tomo porque o meu pai ou meu amigo tomou e correu bem. Muitos não têm sequer prescrição e se fossem avaliados por um médico ou não tomariam medicamentos ou então teriam de tomar outros."

Acrescentando: "Estamos a falar de substâncias que dão mais tolerância à pessoa para suportar determinada situação, mas que causam habituação, e pode dar-se o caso de a pessoa continuar a tomar sem necessitar. E hoje há outras formas de tratamento e de apoio a alguns doentes que poderiam ver a sua situação ou os sintomas resolvidos sem medicamentos."

De acordo com os dados fornecidos ao DN pelo Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed), de janeiro a março deste ano foram vendidas 2 664 414 embalagens de medicamentos da categoria dos ansiolíticos, sedativos e hipnóticos, e 2 262 530 embalagens da categoria dos antidepressivos, num total de 5 277 144 embalagens.

Ao todo, mais 433 214 embalagens do que no mesmo período homólogo de 2019. Mas durante o ano passado todo foram vendidas quase 20 milhões de embalagens destes dois tipos de medicamentos.

Segundo os mesmos dados da autoridade do medicamento durante o ano passado foram vendidas 10 329 106 milhões de embalagens de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos e 9 368 778 de embalagens de antidepressivos, com um encargo para o SNS da ordem dos mais de cem milhões de euros, uma subida da ordem dos 5% em relação ao ano anterior.

No universo da OCDE, o último relatório, publicado em dezembro de 2019, pode ler-se que a tendência de consumo deste tipo de medicamentos em Portugal mantém-se estável desde 2014, sendo preocupante, sobretudo no que toca ao consumo de benzodiazepinas.

A preocupação sobre o consumo dos medicamentos ansiolíticos e antidepressivos, refere a OCDE, é generalizada, já que entre 2000 e 2017 alguns países, como Portugal, atingiram taxas que são mais de metade de países como a Holanda, a Itália e a Eslováquia.

A explicação para este aumento pode estar no facto de algumas doenças, como a depressão, serem mais sinalizadas e diagnosticadas, mas a organização alerta para a necessidade de se conter ou inverter esta tendência. À frente de Portugal, neste tipo de consumo está a Islândia, o Canadá, a Austrália e o Reino Unido.

* Benzotuga!

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