13/05/2020

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HOJE  NO 
"A BOLA"
Viagem ao desporto que sempre aconteceu em casa: a columbofilia

As atividades da Federação Portuguesa de Columbofilia têm estado suspensas devido à pandemia. Os clubes não podem entregar os pombos para competição, porque não podem ser feitas viagens para as largadas nem organizá-las dentro dos hábitos. Em todo o caso, há qualquer coisa nesta atividade desportiva que se mantém no essencial: a importância da palavra casa, quer no treino para competição, quer no objetivo derradeiro das aves, o regresso ao pombal onde cresceram.

A BOLA conversou, ao telefone, com o presidente da federação, José Luís Jacinto, 61 anos, ribatejano, administrador da Caixa do Crédito Agrícola do Ribatejo Norte, columbófilo desde criança e à frente do organismo desde 2012; e que iniciou logo a conversa para desmistificar uma pergunta que, sem essa intenção, pareceu soar-lhe a provocação.
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«É claro que é um desporto, ora essa! É, ademais, um desporto praticado por todo o território nacional, incluindo nos arquipélagos da Madeira e dos Açores. A Federação Portuguesa de Columbofilia é membro do Comité Olímpico de Portugal e está sob tutela do Instituto Português do Desporto e da Juventude», começa por explicar José Luís Jacinto. E sem perder balanço continua, para que não restem dúvidas ao interlocutor: «A Federação organiza todo o desporto a nível nacional, que está dividido em 14 associações distritais e em 425 clubes. Como sócios diretos da federação há sensivelmente 10 mil praticantes da modalidade, mas como é um desporto muito familiar e nem todos têm o registo feito, estimo que o número real seja perto de 15 mil praticantes. É uma modalidade com um espaço importante na própria economia, se contabilizarmos o dinheiro que circula e está relacionado com as rações, por exemplo».

Acontece que na columbofilia os praticantes não são os atletas, são os treinadores, porque os atletas são as aves, os pombos, o que torna o contexto da conversa realmente um pouco diferente, na medida em que quando se pergunta quantos são, então, os atletas da columbofilia, o número cresce significativamente…

«Uns dois milhões de pombos», anota José Luís Jacinto.

Como se dizia, casa é uma palavra essencial neste desporto. É em casa que os milhares de treinadores portugueses preparam os milhões de atletas. E nas provas quem ganha são os atletas que chegam primeiro a casa. Mas há um convívio que se perde, há uma rutura que se impõe dolorosamente na comunidade e por isso a FPC criou uma iniciativa a que chamou O Desafio da Quarentena, no qual os columbófilos partilham imagens com os pombos, em ambiente caseiro.

«Tem corrido bem, temos recebido muitas imagens e percebemos que toda a gente está ansiosa pelo regresso à normalidade. Pretendemos que todas as pessoas convivam e que sintam prazer neste belíssimo desporto. Este é, realmente, um desporto muito sui generis, porque as aves nascem e são criadas em casa, nos pombais, e estão em proximidade diária com quem os trata, os alimenta, os limpa, os vacina, os protege, os ensina, os celebra. Essa parte mantém-se: tratar de tudo em casa. Só falta a sensação vitoriosa do regresso dos animais a casa», acrescente José Luís Jacinto, deixando perceber uma vontade de explicar melhor o que significa isso, afinal, de um vitorioso regresso a casa. Assim fará de seguida.

Os columbófilos treinam os pombos à volta das próprias casas e quando os têm prontos para competir juntam-se a clubes locais, que os transportam, aos milhares (mas mais ou menos uns 25 ou 30 por clube) e os levam em camiões para muito longe, onde os largam.

«Nas provas de velocidade os pombos são largados a 250 ou 300 km. E temos provas em que os animais chegam a atingir velocidades de 130 km/h, o que é admirável. Nas provas maiores podem ser largados por exemplo a 800 km e voam durante 10 horas até à própria casa. E são largados, note, em locais onde nunca estiveram na vida, sem qualquer auxílio de orientação. E note que também não voam em equipa, não voam com as aves do mesmo pombal, digamos assim. Ainda que sejam aves gregárias, quando largadas voam o mais depressa que conseguem para casa, e os mais rápidos e fortes avançam sem os outros. Funcionam como atletas, afinal. Agora imagine o que é ter um animal seu, que você viu nascer, que alimentou e tratou a vida toda, que tem uma anilha que é o bilhete de identidade dele, e saber que ele foi largado, sei lá, em Valência, de manhã, do outro lado da Península Ibérica, e vê-lo chegar à sua casa, à casa dele, ao final da tarde desse mesmo dia. É uma grande alegria, uma grande emoção», explica o presidente.

Ganha o pombo com as melhores médias, pois têm sempre de considerar-se o regresso a casa, efetivado, mas também o tempo que demorou a distância que percorreu - porque se são largados do mesmo sítio evidentemente que não voam todos para a mesma casa. 

* Aprender com quem sabe explicar.

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