HOJE NO
"A BOLA"
Viagem ao desporto que sempre aconteceu em casa: a columbofilia
As atividades
da Federação Portuguesa de Columbofilia têm estado suspensas devido à
pandemia. Os clubes não podem entregar os pombos para competição, porque
não podem ser feitas viagens para as largadas nem organizá-las dentro
dos hábitos. Em todo o caso, há qualquer coisa nesta atividade
desportiva que se mantém no essencial: a importância da palavra casa,
quer no treino para competição, quer no objetivo derradeiro das aves, o
regresso ao pombal onde cresceram.
A BOLA conversou, ao
telefone, com o presidente da federação, José Luís Jacinto, 61 anos,
ribatejano, administrador da Caixa do Crédito Agrícola do Ribatejo
Norte, columbófilo desde criança e à frente do organismo desde 2012; e
que iniciou logo a conversa para desmistificar uma pergunta que, sem
essa intenção, pareceu soar-lhe a provocação.
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«É
claro que é um desporto, ora essa! É, ademais, um desporto praticado
por todo o território nacional, incluindo nos arquipélagos da Madeira e
dos Açores. A Federação Portuguesa de Columbofilia é membro do Comité
Olímpico de Portugal e está sob tutela do Instituto Português do
Desporto e da Juventude», começa por explicar José Luís Jacinto. E sem
perder balanço continua, para que não restem dúvidas ao interlocutor: «A
Federação organiza todo o desporto a nível nacional, que está dividido
em 14 associações distritais e em 425 clubes. Como sócios diretos da
federação há sensivelmente 10 mil praticantes da modalidade, mas como é
um desporto muito familiar e nem todos têm o registo feito, estimo que o
número real seja perto de 15 mil praticantes. É uma modalidade com um
espaço importante na própria economia, se contabilizarmos o dinheiro que
circula e está relacionado com as rações, por exemplo».
Acontece
que na columbofilia os praticantes não são os atletas, são os
treinadores, porque os atletas são as aves, os pombos, o que torna o
contexto da conversa realmente um pouco diferente, na medida em que
quando se pergunta quantos são, então, os atletas da columbofilia, o
número cresce significativamente…
«Uns dois milhões de pombos», anota José Luís Jacinto.
Como
se dizia, casa é uma palavra essencial neste desporto. É em casa que os
milhares de treinadores portugueses preparam os milhões de atletas. E
nas provas quem ganha são os atletas que chegam primeiro a casa. Mas há
um convívio que se perde, há uma rutura que se impõe dolorosamente na
comunidade e por isso a FPC criou uma iniciativa a que chamou O Desafio
da Quarentena, no qual os columbófilos partilham imagens com os pombos,
em ambiente caseiro.
«Tem corrido bem, temos recebido
muitas imagens e percebemos que toda a gente está ansiosa pelo regresso à
normalidade. Pretendemos que todas as pessoas convivam e que sintam
prazer neste belíssimo desporto. Este é, realmente, um desporto muito
sui generis, porque as aves nascem e são criadas em casa, nos pombais, e
estão em proximidade diária com quem os trata, os alimenta, os limpa,
os vacina, os protege, os ensina, os celebra. Essa parte mantém-se:
tratar de tudo em casa. Só falta a sensação vitoriosa do regresso dos
animais a casa», acrescente José Luís Jacinto, deixando perceber uma
vontade de explicar melhor o que significa isso, afinal, de um vitorioso
regresso a casa. Assim fará de seguida.
Os columbófilos
treinam os pombos à volta das próprias casas e quando os têm prontos
para competir juntam-se a clubes locais, que os transportam, aos
milhares (mas mais ou menos uns 25 ou 30 por clube) e os levam em
camiões para muito longe, onde os largam.
«Nas provas de
velocidade os pombos são largados a 250 ou 300 km. E temos provas em que
os animais chegam a atingir velocidades de 130 km/h, o que é admirável.
Nas provas maiores podem ser largados por exemplo a 800 km e voam
durante 10 horas até à própria casa. E são largados, note, em locais
onde nunca estiveram na vida, sem qualquer auxílio de orientação. E note
que também não voam em equipa, não voam com as aves do mesmo pombal,
digamos assim. Ainda que sejam aves gregárias, quando largadas voam o
mais depressa que conseguem para casa, e os mais rápidos e fortes
avançam sem os outros. Funcionam como atletas, afinal. Agora imagine o
que é ter um animal seu, que você viu nascer, que alimentou e tratou a
vida toda, que tem uma anilha que é o bilhete de identidade dele, e
saber que ele foi largado, sei lá, em Valência, de manhã, do outro lado
da Península Ibérica, e vê-lo chegar à sua casa, à casa dele, ao final
da tarde desse mesmo dia. É uma grande alegria, uma grande emoção»,
explica o presidente.
Ganha o pombo com as melhores
médias, pois têm sempre de considerar-se o regresso a casa, efetivado,
mas também o tempo que demorou a distância que percorreu - porque se são
largados do mesmo sítio evidentemente que não voam todos para a mesma
casa.
* Aprender com quem sabe explicar.
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