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* Músico e jurista.
IN "ESQUERDA"
12/01/20
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Irão a Portugal
Há povos que se apresentam no Primeiro Mundo com uma latente incapacidade para resolver puzzles geográficos.
É a arrogância de quem se entende como criador, intérprete e juiz, um
princípio de calamidade sem tempo que, atravessando a pobreza,
ultrapassa-a sem piedade. Não será um privilégio nativo norte-americano
mas a probabilidade de insucesso em geografia aumenta proporcionalmente à
escala da imensidão do território e da falta de noção da realidade fora
de portas. Para consumo interno conservador, a grandeza dos EUA é viril
e esmaga. Na vastidão do que está imerso, daquilo que se respira fora
do barril de petróleo e se sente como íntimo, a realidade é que o
monstro pode bem precisar de amigos.
Audazes são os líderes que arriscam. Quando confrontados com a
necessidade de identificar um alvo, a hesitação - percebe-se - é mais do
que muita. Ainda assim, há uma representação de voz de comando ao
cuidado da percepção. De Nixon a Reagan, de Bush a Bush, de pai para
filho e para Trump, sucessão directa que termina na mais inapta da
descendência. A Bush sobrava em táctica o que a mini-Bush sobejava em
interesses. Já a Trump só a agenda interessa, ressuscitando o lado
cowboy de Reagan com upgrade em "odds".
Quando só cerca de 25% dos norte-americanos conseguem apontar a
localização do Irão no mapa, muito fica dito sobre o sentimento de
orfandade de um bom inimigo externo após a queda da União Soviética. É
quase como se existisse um agressor estéril e sem estirpe, gravitando
entre algures e lado nenhum e que, no fundo, não suplanta a ideia de ser
um tremendo álibi bélico para PNL interior de alto desempenho. Donald
Trump deitou mão ao derradeiro excitador de política interna ao serviço
da sua agenda presidencial anti-impeachment. Sem embargo de razões extra
que vão para além dos esteróides, arranca-se uma escalada inevitável
com um nome indisfarçavelmente impronunciável: Qassem Soleimani. Mal
dito, mal feito. Por que razão o eleitorado de Trump se esmeraria mais
na pronúncia do que na geografia?
Mesmo entre vizinhos há geografias bem relativas. Começamos o ano com
estupefacção ao percebermos que a armada do VOX tenta anexar território
sem armas. A extrema-direita espanhola, reunida na "Plataforma Espanha
existe", apresenta a unificação de Espanha com Portugal anexando o nosso
país em mapa para redes sociais, desprezando as Ilhas Canárias e
Baleares, Ceuta e Melilla. Um exercício facilitista de exclusão. A
ilusão de grandeza é vizinha do desconhecimento, idiotice e soberba.
Mais de 75% do eleitorado do VOX sabe bem como apontar Portugal no mapa.
* Músico e jurista.
IN "ESQUERDA"
12/01/20
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