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IN "O JORNAL ECONÓMICO"
05/11/19
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Quem salva os refugiados
da União Europeia?
Não deveriam as políticas das instituições europeias basear-se no respeito pelos direitos humanos, na solidariedade, no combate às causas da imigração em massa?
O Parlamento Europeu chumbou o apoio a missões de salvamento e
resgate de refugiados no Mediterrâneo. Entre os 290 votos contra figuram
dois de deputados portugueses, do CDS-PP e do PSD, e, por muitas
desculpas que apresentem, a verdade é que não há diferenças entre as
pessoas que fogem à morte e à miséria. Todas precisam de uma mão que as
ajude.
Em 2018, registaram-se cerca de 2.300 mortos ou
desaparecidos no Mediterrâneo enquanto tentavam chegar à Europa. Desde
2014, o número de mortes já ultrapassou as 32 mil, segundo a
Organização Internacional para as Migrações, que admite que o número
real possa ser muito superior. A situação é de tal modo dramática que o
Mediterrâneo já foi apelidado de “mar da morte”.
Falar de
refugiados é falar de homens, mulheres e crianças que arriscam a vida
deslocando-se em condições de extrema precariedade e insegurança, que
abandonam o seu país devido a guerras, fome, violações sistemáticas de
direitos humanos ou catástrofes naturais. As alterações climáticas
estão, de facto, na origem de um elevado fluxo de refugiados e de vagas
migratórias, tendo em conta os efeitos devastadores que provocam – desde
extremos climáticos como secas prolongadas e cheias, à desertificação
dos solos e subia do nível do mar, passando pelo aumento do risco de
doenças.
A ONU estima que, em 2050, cerca de 250 milhões de
pessoas serão severamente afectadas pelas alterações climáticas. Falamos
de pessoas que estão a fugir à morte e que fazem aquilo que qualquer um
de nós faria nas mesmas circunstâncias: procuram uma solução para a sua
sobrevivência e das suas famílias.
Mas é preciso desmistificar o
discurso que diz que a Europa está a ser invadida por refugiados. Está,
sim, a ser invadida por discursos de ódio e de medo, que vão criando uma
União Europeia fortaleza, desumana e selectiva, que apenas contribui
para o crescimento da xenofobia e das forças da extrema-direita. Mas
importa ter presente que este flagelo não atinge exclusivamente o
continente europeu.
Paralelamente, cai-se na hipocrisia de se
criminalizarem as acções humanitárias promovidas por associações e
voluntários que, no fundo, fazem o que as instituições europeias e
alguns Estados não fazem. Desde 2015, mais de 150 pessoas foram acusadas
de crime por auxílio à imigração ilegal. Ora, ilegal e imoral é deixar
morrer milhares de pessoas. A União Europeia tem muito a aprender sobre
solidariedade e compaixão.
Que mundo é este em que a União
Europeia apoia e promove guerras, como no Afeganistão, Líbia ou Síria,
ao mesmo tempo que fomenta uma política profundamente desumana no que
diz respeito aos refugiados? O Acordo com a Turquia ilustra bem como a
UE encara um problema que ela própria ajudou a criar, pagando a um país
para que as pessoas não cheguem à Europa.
Que mundo é este em que a
União Europeia promove a construção de centros de retenção e vê no
drama de milhares de migrantes e refugiados a oportunidade para promover
a sua militarização? Quem se revê ainda nesta União Europeia cúmplice e
de palavras ocas enquanto milhares de pessoas morrem? Onde estão as
suas responsabilidades morais, sociais e políticas?
Não deveriam
as políticas das instituições europeias basear-se no respeito pelos
direitos humanos, na solidariedade, no combate às causas da imigração em
massa e no respeito pela independência dos povos? Não deveria o
dinheiro investido pela União Europeia na militarização das fronteiras e
em muros ser usado para operações de resgate e para salvar vidas?
A
União Europeia tem-se mostrado incapaz e desinteressada em lidar com
este problema, e está a falhar repetidamente com os refugiados e
migrantes. Cada vez que se afunda um corpo no Mediterrâneo, afundam-se
também os valores de solidariedade e de cooperação que a União Europeia
muito gosta de apregoar e que, afinal, também precisam de ser salvos.
* Membro da Comissão Executiva do Partido Ecologista Os Verdes
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
05/11/19
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