08/11/2019

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 HOJE NO 
"RECORD"
O doloroso relato de quem treinou
.com Alberto Salazar: «Não tive período
.durante três anos»

Mary Cain, que integrou o Oregon Project patrocinado pela Nike, conta que até pensou no suicídio

A norte-americana Mary Cain tinha o sonho de ser a atleta mais rápida do Mundo, mas acabou por viver um pesadelo. Integrou o Oregon Project, de Alberto Salazar, um centro de treinos patrocinado pela Nike entretanto desmantelado depois de o treinador ter sido suspenso pela agência antidopagem dos Estados Unidos, acusado de traficar testosterona e de ter administrado substâncias proibidas a atletas.
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Considerada a menina prodígio do atletismo dos Estados Unidos, com apenas 17 anos tornou-se na mais jovem norte-americana a participar num Campeonato do Mundo, tendo sido 9.ª nos 1.500 metros em Moscovo'2013. Nessa época bateu recordes e o céu parecia ser o limite.
Integrar o famoso Oregon Project, que contava com vedetas como Mo Farah e Galen Rupp, parecia-lhe o melhor caminho a seguir e deixou a universidade para se dedicar apenas ao atletismo.

"Juntei-me à Nike porque queria ser a melhor atleta de sempre. Em vez disso fui física e mentalmente abusada por um sistema desenhado pelo Alberto [Salazar], com o patrocínio da Nike", contou num vídeo partilhado pelo New York Times.

"Quando cheguei todos me convenceram que para melhorar tinha de ficar mais magra, mais magra e mais magra. Era o programa top do país. Não havia psicólogo ou nutricionista, o centro era constituído por um monte de pessoas, fãs do Alberto. Quando pedia ajuda a alguém diziam-me sempre para ouvir o Alberto. E ele dizia-me sempre para perder peso, envergonava-me publicamente se eu ganhasse algum peso. Queria dar-me anticoncecionais e diuréticos para perder peso, o que é proibido. Sentia-me muito mal. Cheguei a um ponto em que perdia uma corrida antes mesmo de começar a correr porque na minha cabeça não estava o tempo mas número que tinha visto na balança nesse dia", contou a atleta.

"O peso é importante no desporto, claro. Mas aprendi uma lição da pior maneira: quando as jovens são forçadas a esforçar-se além do normal, surgem problemas. Perde-se o período durante uns meses e esses meses transformam-se em anos. No meu caso foram três anos. Sem o período não se tem os níveis de estrogénio que mantêm os ossos fortes. Parti cinco ossos diferentes", relatou Mary Cain.

"Sentia-me só, comecei a ter pensamentos suicidas, comecei a cortar-me. Algumas pessoas viram, mas ninguém fez nada sobre isso. Em 2015 participei numa corrida, não corri bem, estava chuva, e o Alberto gritou à frente de toda a gente que eu tinha ganho 5 kg antes da prova. Eu disse-lhe nesse mesmo dia o que estava a acontecer comigo, que me cortava, e ele mandou-me para a cama", prosseguiu.

A determinada a altura Mary falou com os pais. "Eles ficaram horrorizados, mandaram-me deixar aquele local imediatamente e ir para casa. Eu já não tentava ir aos Jogos Olímpicos, tentava sobreviver. Desisti da equipa."

Mary tem 23 anos e tentar reconstruir a sua carreira, mas de forma saudável. "Fui apanhada num sistema desenhado por homens que destrói o corpo de mulheres jovens."

* No desporto "projectos" semelhantes já existem há muito tempo, quem não se lembra de Nadia Comaneci e companheiras biologicamente torturadas na Roménia.

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