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HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
FMI avisa:
Portugueses têm de poupar mais
para evitar os desequilíbrios externos
do passado
A aceleração do investimento fez regressar os desequilíbrios externos de Portugal, mas tal pode ser compensado por uma maior taxa de poupança. O FMI apela ao Governo para fazer mudanças nos planos privados de pensões, uma área "subdesenvolvida" na economia nacional.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) não tem dúvidas: a poupança dos portugueses é baixa - está em mínimos históricos
- e é preocupante. E essa tendência está, em parte, a ajudar a um
regresso ao passado nas contas externas, ainda que ao de leve.
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No
relatório anual sobre a economia portuguesa, ao abrigo do Artigo IV,
divulgado esta sexta-feira, 12 de julho, os técnicos de Washington
dedicam um capítulo específico à poupança das famílias, elegendo este
como um dos problemas estruturais de Portugal.
"Taxas de poupança interna mais elevadas são necessárias para sustentar
taxas de investimento mais elevadas sem criar novos desequilíbrios
externos", resume o Fundo, referindo o que aconteceu no ano passado e se
manteve no primeiro trimestre de 2019: o investimento acelerou, mas à
custa de compras ao exterior que, na ausência de poupança interna,
acentuam os desequilíbrios externos.
"Depois de manter um
equilíbrio ou excedente por vários anos, as contas correntes externas
passaram a um défice em 2018", assinala o FMI, explicando que tal
reflete um crescimento mais lento das exportações, incluindo no turismo,
o que não compensou a forte procura interna (alimentada em parte por
importações para consumo e investimento).
Assim, as projeções
dos técnicos de Washington apontam para um défice nas contas externas
durante os próximos anos à medida que a procura interna aumenta e o
crescimento do turismo arrefece. Para que esse indicador melhore, é
preciso aumentar as taxas de "poupança interna" que, tanto nas famílias
como nas empresas, estão abaixo da média da Zona Euro.
Mas há uma evolução diferente nesses dois agregados. Enquanto a poupança
das empresas tem recuperado desde a crise (situa-se em cerca de 13% do
PIB em 2017), a poupança das famílias tem estado em queda, tendo
atingido mínimos históricos abaixo dos 4% do rendimento (ou cerca de 3%
do PIB).
"As tendências divergentes da poupança das empresas e
das famílias não é um fenómeno único de Portugal, mas são mais
acentuadas do que noutros países", alertam os técnicos do FMI.
O
tema é complexo, mas uma das explicações apontadas pelos técnicos de
Washington para que Portugal tenha uma taxa de poupança das famílias
mais baixa é o elevado rácio de proprietários de habitação própria em
comparação com a média europeia. Ou seja, os gastos com a prestação do
imóvel ao longo da vida contribuem para uma menor poupança.
Mas
este fenómeno também é explicado por características mais gerais como o
menor rendimento disponível, pelo menor património (incluindo o
financeiro), pelo envelhecimento da população e pelos maiores gastos
públicos em pensões e proteção social em Portugal.
Traçada esta
análise a este problema, o FMI considera que o Governo deveria - além de
promover o crescimento económico e dos salários - começar por "explorar
opções para encorajar um segundo complemento" através de mudanças nos
planos privados de pensões, um segmento "subdesenvolvido" em Portugal.
É
também de considerar mudanças nos impostos para diminuir o peso que
incide sobre o trabalho, incentivar a participação no mercado de
trabalho para lá dos 65 anos e reduzir a conversão dos salários mais
elevadas nas pensões públicas (contribuindo para aumentar a poupança nos
que têm mais rendimento).
* O FMI manda poupar e a banca portuguesa ajuda a endividar!
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