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IN "TSF"
22/05/19
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Como António Costa
desprezou estas europeias
"António Costa é primeiro-ministro de um país da União Europeia. Um dos que mais sofre quando esta tem convulsões"
Quando
o responsável político mais importante do país afirma que as eleições
para o parlamento europeu são uma avaliação ao seu governo, como diabo
se quer que os cidadãos as levem a sério? Se é o primeiro-ministro de um
país que se afirma profundamente envolvido na construção do projeto
europeu a desprezar um dos poucos momentos em que os cidadãos são
chamados a dar a sua opinião de como este deve ser conduzido, que raio
querem que os cidadãos pensem sobre o seu papel na construção desse
projeto?
Podem-me dizer que
António Costa apenas verbalizou o que todos sabemos, ou seja, que as
Europeias são vistas como umas eleições em que os cidadãos pensam em
tudo menos nas consequências do seu voto para a União Europeia.
Protesto, cartão amarelo, experiências de voto noutros partidos, o que
seja. Até os jornalistas e comentadores (mea culpa), de tão viciados
nesse modelo, esquecem o que está de facto em causa neste ato eleitoral.
Seja
como for, importa lembrar: António Costa é primeiro-ministro de um país
da União Europeia. Um dos que mais sofre quando esta tem convulsões, o
que deve as suas principais transformações e até muito provavelmente a
manutenção da sua democracia ao projeto europeu.
O mesmo se passa no resto da União Europeia. A diferença é que em
muitos destes países estas eleições são a arena em que as forças
democráticas e europeístas se confrontam com quer destruir o nosso modo
de vida e o tal projeto que garantiu o mais longo período de paz na
Europa, o mais próspero e conquistas sociais extraordinárias.
No
fundo, somos todos cúmplices nesta espécie de suicídio da União
Europeia. Mas não há como desmentir que os cidadãos dos seus vários
países têm boas razões para alijar culpas. A construção de um projeto
democrático exige comunicação permanente com os cidadãos, exige
transparência, exige sobretudo que a participação na elaboração desse
edifício seja promovida. O facto é que desde o primeiro dia nada disso
foi feito ou, pelo menos, não de forma empenhada. Referendos repetidos
até que se obtivesse a resposta desejada, processos burocráticos
impossíveis de explicar, gigantesca distância entre as instituições
europeias e os europeus.
Para as populações o projeto europeu era
uma coisa que estava a ser construída por "eles". E devia ser boa. A
vida melhorava, a paz subsistia, podíamos andar por todo o lado. Mal os
problemas económicos começaram e a noção de que os nossos filhos não
viveriam melhor do que nós, vieram também as questões culturais e
identitárias que tão negligentemente foram esquecidas num continente com
tantos séculos de história e com feridas que outros tantos séculos não
chegariam para curar.
O futuro não é promissor e este imenso encolher de ombros não vai de certeza ajudar.
IN "TSF"
22/05/19
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