.
‘Of Men and Mice’
Uma curiosidade: não há substantivo coletivo para os ratos “biológicos”, como manada ou rebanho; mas um grupo de ratos na política chama-se um partido.
Uma notícia
que apanhou de surpresa o mundo político em Washington é que a Casa
Branca está infestada de ratos de quatro patas. Já chegou ao ponto de
uma repórter apanhar um susto quando o que parecia um esquilo a correr
no relvado se revelou afinal uma ratazana bem crescida. Se dúvidas
houvera, foram vistas armadilhas para ratos espalhadas pelo local,
incluindo na própria Casa. Claro que isto levou a comentários e feeds
nas redes sociais, e entre os mais frequentes estão que as armadilhas
não têm tamanho para apanhar o rato e que o melhor isco é cheeseburgers.
A
Casa Branca já teve a viver nela muitos ratos, e dois presidentes
adotaram-nos como animais de estimação: Theodore Roosevelt, que dizia
que o seu rato Jonathan tinha um ar amigável e afetivo; e Andrew
Johnson, que adotou o par que encontrou no seu quarto e que se dizia
serem o seu apoio no processo de impeachment que lhe foi movido.
Na
política os ratos abundam, reconhecidos por abandonarem o navio quando
se afunda ou pelos seus atos de sabotagem e truques baixos – quando
Nixon era presidente, Donald Segretti cunhou o termo rat****ing,
que passou a integrar o vocabulário político. Com efeito, a jornalista
Marcy Wheeler foi censurada pela Federal Communications Commission por a
ter usado na rádio, ao que ela respondeu já ser um termo usado em
Ciência Política, deixando assim de ser obsceno. O primeiro-ministro
australiano Kevin Rudd usou-o em 2009 na Cimeira do Clima de Copenhaga, e
Ted Cruz em 2016 referiu-se-lhe no seguinte eufemismo: “Trump may be a
rat, but I have no desire to copulate with him”.
Além do próprio, o
atual inquilino da Casa Branca também teve e tem por lá outros ratos,
como Michael Cohen, a quem se referiu recentemente como “rat”,
influenciado por de Niro, no Goodfellas: “Never rat on your friends, and
always keep your mouth shut”. Já sobre McGahn, chamado a depor no
inquérito sobre a Rússia, disse não ser um “John Dean type rat”, invocando aquele cujo testemunho ajudou a “enterrar” Nixon no Watergate. Dean respondeu ao “bully” e “falso líder” dizendo que ele faz o “pesadelo de Watergate parecer um sonho idílico”.
Na política os ratos são a espécie mais numerosa. São conhecidos pela sua capacidade reprodutora e dividem-se em hamsters,
que estão em locais confinados e trabalham(?) mais que os outros ratos,
embora de forma circular e pouco produtiva, sem perceber o que estão a
fazer; os ratos propriamente ditos, que incluem subcategorias como os doers e, no topo da hierarquia, os fixers; as ratazanas, mais espertos, únicos capazes da versão política do coolidge effect:
cada vez que há um novo inquilino na Casa Branca ou equivalente, é
vê-los todos a mover-se. Uma curiosidade: não há substantivo coletivo
para os ratos “biológicos”, como manada ou rebanho; mas um grupo de
ratos na política chama-se um partido.
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
20/04/19
.
Sem comentários:
Enviar um comentário