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HOJE NO
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Construção
Saem 100 trabalhadores
por dia de Portugal
As contas são do presidente do Sindicato da
Construção de Portugal, que alerta para o risco de não haver mão-de-obra
suficiente para realizar grandes obras, como é o caso do aeroporto do
Montijo, que precisa de 10 mil trabalhadores
Saem 100 trabalhadores da construção civil
por dia do país. O alerta é feito ao i pelo presidente do Sindicato da
Construção de Portugal, Albano Ribeiro, o que leva a graves crises de
falta de mão-de-obra em Portugal – uma situação que, no entender do
responsável, ganha maiores contornos quando o setor voltou a ganhar um
novo fôlego. Só em janeiro e no mercado das obras públicas, o lançamento
de concursos de empreitadas quase quadruplicou para 332 milhões de
euros face a igual mês do ano anterior, revelou a Associação dos
Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN).
Ao todo faltam 14 mil trabalhadores, segundo as contas de
Albano Ribeiro, e os que ainda continuam a trabalhar não serão
suficientes para responder a necessidades de grandes obras, como o
aeroporto do Montijo, um projeto que precisa de mais de 10 mil
trabalhadores. Esta carência, no seu entender, “tenderá a agravar-se nos
próximos meses”.
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Os baixos salários praticados em Portugal são apontados como uma das
principais razões para a emigração dos trabalhadores. “Muitas das
empresas pagam apenas o salário mínimo nacional, e depois são
confrontados com ordenados de 2000 ou 2500 euros noutros países.” Um
desses casos é Toulouse, em França, que já absorve uma “fatia
importante” dos trabalhadores portugueses, repetindo-se o mesmo cenário
na Alemanha. “Só ficam em Portugal aqueles que estão deslocados da sua
cidade, e nesse caso recebem ajudas de custo, ou que recebem horas extra
porque conseguem receber cerca de 1200 ou 1300 euros por mês. Caso
contrário, optam por ir à procura de melhores condições noutro país.”
Aliado a este problema está ainda um outro maior e que diz respeito à
mão- -de-obra ilegal – um caminho que, no seu entender, é “demasiado
perigoso”, uma vez que está a abrir portas à precariedade e à
clandestinidade. “Muitas das obras não estão a respeitar as questões de
segurança de trabalho que estão vigentes na legislação. Não sei onde é
que anda a Inspeção-Geral do Trabalho”, questiona o dirigente.
E estes trabalhadores clandestinos, na sua grande maioria
provenientes da Índia e do Brasil, já são responsáveis por 40% do
trabalho realizado no setor. “Há angariadores de mão-de-obra ilegal que
concorrem com as empresas idóneas, destruindo totalmente o mercado e não
dando a esses trabalhadores as condições mínimas de segurança.”
Este problema já é transversal a todo o mercado, incluindo o das
obras públicas. “Ainda há dias fomos visitar uma obra pública e
detetámos 20 trabalhadores ilegais, mas graças à nossa intervenção
passaram a ter as mesmas condições que os restantes trabalhadores
portugueses. Se no privado essa situação é grave, então o que dizer do
público”, diz ao i Albano Ribeiro.
Face a este cenário, o presidente do Sindicato da Construção de
Portugal esteve reunido na semana passada com os embaixadores do Brasil e
da Índia em Portugal para os sensibilizar para o problema.
“Os
encontros correram bem e estamos a pensar em organizar uns encontros
juntando não só os embaixadores destes países, mas também as associações
patronais, o Ministério do Trabalho e a Inspeção-Geral do Trabalho, com
vista a acabar com estes angariadores de mão-de-obra ilegal e para
alertar todas estas entidades para a necessidade de dar as mesmas
condições de trabalho, nomeadamente salariais, a estes trabalhadores e
acabar de vez com este problema.”
Também em marcha está a ideia de o sindicato convidar professores
para dar aulas de português a estes trabalhadores. “Achamos que é uma
medida muito importante porque com esta solução conseguimos resolver
vários problemas, como é o caso de evitar acidentes de trabalho”, diz
Albano Ribeiro.
Recusa de obras
Esta carência de trabalhadores não é
nova. Ao i, o presidente da Associação de Empresas de Construção e
Obras Públicas e Serviços (AECOPS) chegou a admitir que as construtoras
estavam a recusar obras de menor dimensão, alegando falta de
mão--de-obra e de material, e que isso acontecia tanto no segmento da
obra privada como no da obra pública.
Ricardo Pedrosa Gomes garantiu que, no privado, a procura é muito
elevada e, por isso, as empresas preferem obras de maior dimensão, que
lhes conferem uma maior estabilidade na utilização temporal dos seus
meios. “As obras de menor dimensão sempre ficaram para empresas mais
pequenas, precisamente as que a crise dizimou. Eram sobretudo empresas
de cariz familiar, cujos responsáveis eram antigos trabalhadores que, na
maior parte dos casos, emigraram para a Europa e não estão dispostos a
regressar ao mercado nacional”, disse.
Já no caso da obra pública, a razão prende-se, segundo Pedrosa Gomes,
com a completa desadequação dos preços- -base dos concursos. “Os
decisores públicos continuam a utilizar na formulação do preço-base dos
procedimentos valores do período da crise, que estão completamente
desajustados da realidade.” Uma vez que esse preço é o valor máximo que a
proposta pode apresentar, “e sendo certo que as empresas não podem
continuar a praticar preços abaixo do custo, elas começam a preferir
responder à procura privada, o que leva a que os procedimentos públicos
fiquem desertos”, referiu.
Para a AECOPS, este problema ficaria resolvido se fossem atualizados
os valores-base dos concursos públicos “com preços realistas e
atualizáveis a partir de bases de dados credíveis, uma prática que é há
muito reclamada pelo setor”.
Crise das construtoras
O certo é que a falta de
mão-de-obra não é sinónimo de vida saudável nas empresas. E Albano
Ribeiro dá como exemplo as crises na Soares da Costa e na MSF, com
trabalhadores a continuarem a pedir a insolvência da empresa depois de
terem dez a 12 meses de ordenados em atraso. “A Soares da Costa chegou a
ter 7500 trabalhadores. Agora ou foram despedidos ou estão em casa
porque pediram a suspensão de contrato por falta de pagamento. Apesar de
as empresa terem ainda algumas obras, a maioria são em Angola ou em
Moçambique e isso não resolve o problema dos trabalhadores que estão em
Portugal”, diz ao i.
A Soares da Costa aprovou no ano passado um processo especial de
revitalização (PER), mas ainda não registou grandes avanços. Continua
incerta a solução de financiamento, de 15 milhões de euros, que deveria
ter sido encontrada junto de uma entidade bancária angolana, o que ainda
não aconteceu, numa altura em que os créditos dos trabalhadores estão
avaliados em 10 milhões de euros.
Também a MSF Engenharia apresentou, no início do mês de dezembro, um
pedido de insolvência face à indisponibilidade dos financiadores para
flexibilizar condições e à falta de solução para a dívida do governo de
Angola, que não permitiam à construtora assegurar recursos financeiros
para manter atividade. Quando apresentou o pedido, a construtora contava
com seis meses de salários em atraso e dívidas superiores a 280 milhões
de euros, nomeadamente à Segurança Social.
* Estamos em pré-campanha para as eleições europeias mas nenhum líder partidário fala desta sangria emigratória para a Europa, nem da miséria salarial de quem trabalha na construção em Portugal.
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