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IN "O JORNAL ECONÓMICO"
25/01/19
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Caixa negra
Estranho país este que, apenas quando a altura é de prejuízo, torna os cidadãos banqueiros mas, pelo contrário, quando a época é de lucro, os atira para o papel de meros espectadores.
A semana passada o país adormeceu sobressaltado por uma
auto-designada peça jornalística onde dois menores viram a sua vida
devassada, sob a aparência de se procurar discutir o estatuto de vítima
das crianças envolvidas em processos de violência doméstica. A exibição
da dita reportagem não contribuiu para esclarecer fosse quem fosse,
transformando a televisão de cada um de nós numa enorme caixa negra.
Para que nos entendamos, o que aquele trabalho
fez foi o oposto do que afirmou ser a sua preocupação: visando apenas
captar audiências, sacrificou-os à hora do jantar, tratando de “servir”
dois menores como lixo televisivo, apimentado pela circunstância de
ambos os pais serem conhecidos. Há limites para tudo e, seguramente,
para o jornalismo. O que se passou foi muito grave e não pode tornar a
acontecer. Mesmo quando não gostamos dos alegados prevaricadores. Se
calhar, principalmente nesses casos.
Foi, também, tornada pública a lista dos principais devedores dessa outra caixa negra,
a Caixa Geral de Depósitos, avultando os negócios ruinosos, feitos
entre amigos e sem a prestação das inúmeras garantias que um comum
mortal tem de apresentar para um qualquer contrato de mútuo.
A
listagem dos referidos devedores é curiosa, abrangendo até um “eminente”
gestor que foi pedir dinheiro emprestado para comprar acções de outro
banco e um empreendimento turístico no Sul do país que se tem tornado
célebre por via de um mediático processo. Por outro lado, entre 2000 e
2015, embora não pela sua experiência bancária, muitos foram os nomes
conhecidos, que tiveram funções de relevo na Administração da Caixa
Geral de Depósitos, pagos a peso de ouro com a incumbência de a gerirem
bem.
Porque, durante décadas, a Caixa funcionou como reservatório
de políticos sem (outro) cargo pago, um dos nomes a reter é o de Faria
Oliveira, o qual, seguramente esquecido da sua passagem por esta
instituição, agora na qualidade de Presidente da Associação Portuguesa
de Bancos se apressou a manifestar-se contra a divulgação dos principais
devedores, imposta por recente legislação.
Justificou tal
inusitada posição, agora expressa na representação dessas entidades tão
credíveis quanto se têm revelado os bancos, pelo prejuízo que aquela
trará aos clientes dos bancos, percebendo-se agora que o que estará em
causa é a publicidade que poderá ser dada a “negócios entre amigos”.
Nada
haveria a dizer se, no final, não fôssemos todos chamados a pagar.
Estranho país este que, apenas quando a altura é de prejuízo, torna os
cidadãos banqueiros mas, pelo contrário, quando a época é de lucro, os
atira para o papel de meros espectadores. Justamente aquele não
deveríamos ter tido quanto às filmagens dos filhos de Bárbara Guimarães e
Manuel Maria Carrilho.
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
25/01/19
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