02/12/2018

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ESTA SEMANA NA 
"SÁBADO"
Como é a vida dos artistas reformados?

Vedetas do espectáculo português passam por sérias dificuldades na velhice. A maioria não tem trabalho e depois de idolatrados, sentem-se abandonados pelo Estado e esquecidos pelo público

Actores e apresentadores que no passado todos queriam ter por perto e que hoje poucos sabem onde estão. Pisaram os palcos mais importantes do país, receberam vénias e ovações, vestiram-se nas melhores lojas de Londres e de Nova Iorque, nunca lhes faltou companhia para um copo. Estão agora em lares ou na solidão de casa, com doenças graves, reformas que não chegam para a renda ou visitas contadas pelos dedos de uma só mão.
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IRENE CRUZ
"OIÇAM COMO EU RESPIRO"
São personagens unidas por um currículo glorioso e por um futuro incerto; Graça Lobo, de 79 anos, interpretou peças de Tchekov, Beckett e Ibsen, vive actualmente num lar em Canha, concelho do Montijo, e diz não ter absolutamente nada para além de uma reforma de 680 euros; Ruy de Carvalho, 91 anos, um dos mais prestigiados actores portugueses, está em casa, em Paço de Arcos, continua a representar porque não sabe existir sem o fazer mas também porque de outra forma não teria uma vida desafogada; Eládio Clímaco, 77, deixou de poder trabalhar na RTP e vive assombrado pela morte. Irene Cruz, de 75, diva dos palcos e fundadora do Teatro Aberto, tem a memória cansada e não trabalha há três anos.

António Cordeiro, 59, luta contra uma doença neurodegenerativa, pediu reforma antecipada e canalizou todas as poupanças para o tratamento. Manuela Maria, de 83 anos, dirige a Casa do Artista, uma instituição que alberga 72 profissionais do espectáculo desamparados na terceira idade; Nini, ex-cantora quase centenária que gosta de navegar na internet e o dramaturgo Miguel Barbosa são dois dos residentes.

Paulo Sargento é um psicólogo que já trabalhou na Casa do Artista, com experiência na análise da depressão geriátrica em personalidades que atingiram o estrelato. Falar-se-à da memória – da colectiva, que se desvanece com o aparecimento de novos ídolos, e da individual, que se esforça para ainda decorar textos. Bem como da morte, incontornável, mesmo para aqueles que chegaram a cheirar a eternidade.

* Admitimos até que muitos artistas agora idosos não cuidaram do seu futuro porque a maioria viveu sempre de trabalho precário. Mas o Estado nunca deixou de ser ingrato para quem sempre culturalmente o serviu.

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