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"EXPRESSO"
"EXPRESSO"
UE abre guerra à “bebedeira” de plástico
A“bebedeira de plástico” — como lhe chama o eurodeputado Ricardo
Serrão Santos (PS) — “durou 70 anos”. Ao longo deste tempo, a produção
anual de plástico passou de duas toneladas para 380 milhões de
toneladas, com 10 milhões de toneladas a irem parar aos rios, mares e
oceanos. Agora chegou a hora de lhe pôr alguma moderação. A metáfora
serve para explicar porque está a União Europeia a tomar medidas para
reduzir a produção e venda de plástico descartável no espaço comum
europeu, tendo em conta os impactos para o ambiente e a saúde pública.
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ILHA DE PLÁSTICO, 3X A SUPERFÍCIE DA FRANÇA. |
O
produto que representou uma “revolução” na década de 50 do século XX,
passou a ser “um pesadelo” no século XXI, com “os mares e oceanos
transformados em caixotes do lixo” — como lembrou no hemiciclo de
Estrasburgo a eurodeputada liberal belga Frédérique Ries, relatora da
proposta de diretiva, aprovada esta semana pelo Parlamento Europeu, que
visa interditar a venda de plásticos de uso único ou descartável a
partir de 2021 na UE. Na lista incluem-se pratos, copos, talheres,
palhinhas, agitadores de bebidas, varas de balões, cotonetes e ainda
recipientes em poliestireno expandido (como os de esferovite que embalam
bifes). A diretiva ainda deverá ser afinada entre o PE, a Comissão
Europeia e o Conselho. Os prazos podem vir a ser alargados, mas o
caminho está traçado e uma nova revolução está a caminho.
Agora é
preciso que os Estados-membros acordem posições conjuntas e façam o
trabalho de casa. Apesar de considerar que 2021 “é um prazo muito curto
para uma mudança comportamental tão radical”, o secretário de Estado do
Ambiente, Carlos Martins, assegura que “se for a data consensual, temos
de levar Portugal a fazer a aplicação imediata”. Entretanto, “já estamos
a antecipar-nos”, garante, lembrando que o Governo aprovou a proibição
do uso de plásticos descartáveis pela administração direta e indireta do
Estado a partir do próximo ano. Em 2019 acaba-se com os copos, pratos
ou talheres descartáveis nas escolas públicas e em quase todos os
organismos da administração central ou local, incluindo institutos
públicos e sector empresarial do Estado. De fora ficam os
estabelecimentos de saúde e as prisões “por razões de segurança, higiene
e saúde pública”, e as regiões autónomas, para as quais as medidas são
facultativas.
Quem não gosta dos anúncios do Governo e do PE é a
indústria do plástico. A Associação Portuguesa da Indústria dos
Plásticos (APIP) já manifestou o seu “alarme e desacordo”, num
comunicado público, pondo o ónus do problema “na vertente comportamental
do cidadão”. E a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição
(APED) defendeu que “não pode haver uma simples diabolização dos
plásticos”, sublinhando “os pontos fortes [do plástico] em termos de
durabilidade e segurança”.
A FORÇA DOS LÓBIS
A reação
não é uma surpresa para o secretário de Estado do Ambiente, já “que são
produtores” e é o seu negócio que está em causa. Porém, já há grandes
distribuidores a fazerem o seu trabalho de casa. Carlos Martins lembra
que “o Lidl, o Pingo Doce ou o Continente estão já a adotar medidas para
reduzir os plásticos e encontrar produtos alternativos no mercado,
feitos de materiais comestíveis ou de madeira, por exemplo”.
Mas o
lóbi internacional da indústria do plástico teve os seus efeitos em
Estrasburgo e Bruxelas, levando a que a diretiva aprovada pelo PE se
revele “menos ambiciosa” que a proposta pela CE. As pressões colocaram
de fora da diretiva as restrições aos sacos de plástico muito leves. Já
em Portugal, o Governo prepara-se para aumentar a taxa dos sacos de
supermercado de 0,10 para 0,15 cêntimos (com IVA incluído), como pediu o
PAN, e está a equacionar estender a taxa aos sacos mais grossos e sem
asas, até aqui isentos. Certo é que o consumo de sacos de plástico caiu
83% desde 2015.
A diretiva europeia obriga os países a garantirem
a recolha e reciclagem de 90% das garrafas de plástico descartáveis. “É
uma meta muito ambiciosa”, admite Carlos Martins, já que em Portugal
apenas 25% destas garrafas são recicladas. O país que se aproxima mais
da nova meta é a Noruega (81-86%) e é este o modelo em que o Governo se
está a inspirar para avançar em 2019 com um projeto-piloto que implica a
colocação de máquinas para a troca de uma garrafa por uma senha e a
cobrança de uma taxa ao produtor para financiar o sistema.
MICROPLÁSTICO DENTRO DE NÓS
Depois
de se terem detetado microplásticos em peixes, bivalves, no sal e nas
aves marinhas, já só faltava confirmar a sua presença no corpo humano.
Essa certeza chegou esta semana com a notícia de um estudo que
identifica a presença de partículas de microplásticos de nove tipos
diferentes em fezes humanas. Desenvolvido pela Universidade de Viena e
pela Agência do Ambiente da Áustria, o estudo recolheu amostras em nove
pessoas de nacionalidades diferentes que tinham ingerido comida embalada
em plástico, bivalves e água engarrafada em PET. O próximo passo é
perceber como esta presença afeta a saúde humana na Era do Antropoceno,
iniciada em 1955, com base num fóssil de plástico identificado por
cientistas.
* - Oh senhores eurodeputados já está tudo bêbedo de plástico, é só esperar que a Terra nos extermine.
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