.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
27/10/18
.
Leite:
sem justiça não haverá
paz nem futuro!
"Preço
justo para a produção de leite" é um grito que repetimos há 10 anos. Não
queremos subsídios, queremos um preço capaz de cobrir os custos de
produção, pagar o trabalho e o investimento. Para isso surgiu na Europa o
"Leite justo".
A 23 de
novembro, no Colóquio Nacional do Leite, organizado pela APROLEP e AJADP
em Vila do Conde, o presidente da EMB, Associação Europeia de
Produtores de Leite, Erwin Shopges, estará connosco a partilhar a sua
experiência nesta matéria.
O preço
justo para o leite não devia ser novidade, devia ser a normalidade!
Mesmo em Espanha há várias cooperativas a pagar acima de 35 cêntimos /
litro, o que não sendo ideal é muito melhor que o preço médio em
Portugal, que em agosto foi de 29,79 cêntimos.
Estes
preços baixos são uma vergonha inaceitável quando a maioria do leite é
recolhido e transformado pela Lactogal, uma empresa que pertence às
cooperativas, portanto pertence aos produtores. Em agosto, a Lactogal
baixou 1 cêntimo por litro. Na sua recolha anual, 1 cêntimo representa
um lucro de 9 milhões de euros. No preço, esse cêntimo chegaria de forma
justa e imediata a todos os produtores. Nos resultados, se forem
distribuídos, no ano seguinte, dará 3 milhões a cada associada que detém
33,3% do capital, mas... como a Agros entrega mais de 60% do leite e
Proleite e Lacticoop cerca de 20% cada, um produtor Agros terá direito a
0,006 € / litro e os das outras associadas três vezes mais, cerca de
0,018 € / litro. Isto não é justo e esta assimetria financeira é uma das
causas do preço baixo do leite em Portugal, porque há sempre interesse
no máximo de resultados para receber dividendos.
Em
2017, a Lactogal não teve 9 milhões de lucro, teve 44, quase cinco
vezes mais, e desses, pouco chegou aos produtores, mesmo aos produtores
das associadas com mais capital que produção. A moda de pagar pouco e
dar migalhas de dividendos no ano seguinte, sob a forma de nota de
crédito para comprar fatores de produção, não é justa! Justo é pagar
logo, no mês seguinte, a todos os produtores, o melhor preço possível.
Enquanto não houver justiça não haverá paz na produção de leite,
confiança nos dirigentes, esperança no futuro. Haverá revolta, pode até
haver paz podre por desistência dos revoltados, amordaçados por dívidas
ou afastados por manobras que mantêm alguns eternamente no poder mas que
irão de vitória em vitória até à derrota final da produção, como o
Titanic com a sua orquestra a tocar até afundar.
*PRODUTOR DE LEITE E VICE-PRESIDENTE DA APROLEP
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
27/10/18
.
Sem comentários:
Enviar um comentário