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Foi
a época áurea da nobre e senadora romana. Controlava o papado através
de João X, a nobreza, por via do seu marido, Teofilato, e o poder
militar graças ao genro, Alberico, marquês de Camerino, já casado com
Marósia. A partir daqui, porém, instala-se um enigma quanto ao destino
destas personagens, à exceção de Marósia, por ausência de relatos
fiáveis. “As menções a este período informam-nos de que Alberico,
Teodora e Teofilato faleceram, mas não explicam em que circunstâncias”,
diz o autor de A História Secreta do Vaticano. “Alguns rumores, mais
tardios, sugerem que Alberico, ao ambicionar cada vez mais poder, acabou
expulso de Roma e assassinado.”
A História Secreta do Vaticano, agora publicado em
Portugal. “Atualmente, a maior parte dos estudiosos parece concordar em
que não foi uma única mulher, mas duas, que serviu de inspiração para a
lenda de Joana”, escreve García Blanco. Essas duas mulheres são a
aristocrata e senadora romana Teodora Teofilato e a filha Marósia (ver
texto nestas páginas), “verdadeiras protagonistas do período seguinte do
papado, possivelmente o mais obscuro e nefasto da História”, defende o
escritor.
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ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
"VISÃO"
Quando a pornocracia dominava
o Vaticano
o Vaticano
Um livro agora publicado em Portugal escrutina ao pormenor a submissão do trono de Pedro ao “governo das prostitutas”, no século X, repleto de atrocidades. Comparadas com este período histórico, as atuais guerras de poder em torno do papado de Francisco parecem uma brincadeira
Certa rameira sem vergonha chamada Teodora foi durante algum tempo a
única monarca de Roma e – tenho vergonha de o escrever – exerceu o seu
poder como um homem. Teve duas filhas, Marósia e Teodora, que não só a
igualaram como a ultrapassaram nas práticas amadas por Vénus.”
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A MONARCA |
Quem
caracteriza desta forma aquela nobre romana, esposa do autonomeado
cônsul, senador e duque Teofilato, é o cronista Liutprando (920-972),
bispo de Cremona e diplomata. “Esta família da nobreza romana era
extremamente influente, até mesmo na escolha dos Papas, e interferia nos
assuntos religiosos em Roma, tanto através de conspirações como de
negociatas e casamentos”, diz José Brissos-Lino, coordenador do
Instituto de Cristianismo Contemporâneo, da Universidade Lusófona.
Estamos num período histórico, na primeira metade do século X, que
“ficou conhecido como ‘o governo das prostitutas’”, devido à “influência
decisiva” de Teodora (também senadora) e da filha Marósia no centro do
poder do Vaticano, acrescenta o professor universitário. José
Brissos-Lino anota ainda que a história destas mulheres surge numa
altura do papado igualmente denominada “Idade das Trevas”.
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Confirma-o
o jornalista de investigação e escritor espanhol Javier García Blanco
no seu livro A História Secreta do Vaticano, agora publicado em Portugal
(ed. Matéria-Prima, 260 págs., €17). Numa nota introdutória, o autor da
obra diz que nas suas averiguações encontrou “um inventário de
atrocidades que fariam estremecer o mais cruel dos assassinos”. Mas, ao
mesmo tempo que fala em “Papas manejados”, reconhece Teodora e Marósia
como mulheres dotadas de “enorme inteligência” e de uma “beleza
hipnótica e sensual”, e que, à debilidade dos homens que manipulavam,
contrapunham “grande habilidade” na alcova.
Quem será o pai da criança?
Em 904, o bispo
de Ceres e conde de Túsculo, após muito batalhar, ascendeu a Papa como
Sérgio III. Prendeu e mandou degolar dois antecessores contra os quais
lutou – Leão V e Cristóvão. Sérgio III também ficou com a “duvidosa
honra de ter iniciado uma etapa papal que o bispo de Cremona,
Liutprando, batizou como ‘pornocracia’”, conta García Blanco. O clérigo
sentou-se no trono de Pedro alçado por Teodora e pelo marido. E, pouco
depois, “começou a procurar prazeres mais carnais, folgando nos lençóis
pontifícios com a jovem Marósia”, de apenas 15 anos, “oferecida ao Papa
pela sua mãe”.
O escritor espanhol relata que algumas fontes, como o
Liber Pontificalis (livro das biografias dos Papas), as crónicas do
bispo Liutprando de Cremona e autores mais modernos, asseguram que
“Marósia engravidou de Sérgio e que o seu filho se converteu, anos mais
tarde no Papa João XI”. Outros investigadores, no entanto, “creem que
tal filho seria de Alberico I”, poderoso nobre com quem Marósia se
casaria. Porém, o mais provável, admite o autor, é que este pormenor
“nunca seja clarificado”.
Sérgio III morreu em 911 sem deixar
saudades. E a série de Papas que lhe sucedeu subiu ao poder pelos
Teofilato, com Teodora e Marósia à frente de todas as conspirações.
Anastácio III serviu-lhes durante dois anos (911-913), ao fim dos quais
morreu sob suspeita de envenenamento. O arcebispo de Ravena, D. Lando,
seguiu-se-lhe, também com um papado curto e uma morte súbita.
Depois,
Teodora tudo fez para colocar João de Tossignano, bispo de Bolonha, na
liderança da Igreja. Seria o Papa João X. “As más-línguas – neste caso a
do bispo Liutprando – asseguraram, sem pudor, que Teodora se havia
enamorado perdidamente pelo jovem e belo João, durante as constantes
visitas deste à Cidade Eterna, tendo sido ela quem o encaminhou na
hierarquia da Igreja, primeiro como bispo, depois arcebispo e,
finalmente, como ocupante do trono de Pedro”, escreve García Blanco.
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AS MANAS |
Marósia, “serial killer” de Papas
Por
crónicas fidedignas, sabe-se que, em 926, após a morte de Alberico,
Marósia casou-se com Guido, líder da Toscana
e meio-irmão de Hugo de
Provença.
E o Papa ficou com o destino traçado. João X nunca tinha sido
do agrado de Marósia – “e, morta Teodora, sua amante e protetora, havia
chegado o momento de o afastar”, descreve García Blanco. O Papa ainda
procurou um aliado que o defendesse. Viajou até Ravena e entabulou
conversações com Hugo da Provença, a quem prometeu a coroa de Roma em
troca de proteção – em vão. Dois anos depois, em 928, Marósia mandou
encarcerar o Papa. João X esteve preso durante um ano até a cruel nobre
ordenar que o asfixiassem com uma almofada.
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Marósia já decidira
que o seu filho favorito, João, seria Papa. Só era preciso esperar que
“alcançasse uma idade razoável para tomar o lugar de príncipe dos
apóstolos”, como escreve García Blanco. Por isso, os Papas que se
seguiram a João X “foram simples marionetas” com sentenças de morte
antecipadas. Leão VI, apesar de dócil e servil, rapidamente acabou
assassinado. Sucedeu-lhe Estêvão VII, que foi Papa de 928 a 931. Embora
com um pontificado mais longo do que o do seu predecessor, também seria
assassinado.
Às tantas, a filha de Teodora até encomendou o
assassínio do marido, Guido da Toscana, que já não lhe servia para nada.
E, “depois de Estêvão VII, subiu enfim ao trono apostólico o filho da
calculista Marósia, aquele que, de acordo com os indícios, era fruto dos
seus amores passados com o Papa Sérgio III”, relata García Blanco.
Com ferro mata...
O novo Papa foi
consagrado com o nome de João XI aos 25 anos. E este foi também o
momento para a “concubina de Roma” procurar novo marido. A escolha
recaiu em Hugo da Provença (meio-irmão do seu ex-cônjuge, Guido), que
tinha sido coroado rei por João X. “Aparentemente, o provençal já era
casado, mas isso não acarretou problemas para ele, que não pestanejou na
hora de matar a sua esposa”, escreve García Blanco.
Agora,
os planos de Marósia eram muito mais ambiciosos. “Como novo pontífice,
João dispunha do poder de coroar um novo imperador”, explica o
investigador. “E essa era a ideia de Marósia: se o Papa coroasse como
imperador o seu novo e ostentoso marido, o rei Hugo da Provença, ela
converter-se-ia em imperatriz.
Um inimigo imprevisto surgiu –
Alberico II, o filho de Marósia e do primeiro Alberico, “que havia sido
condenado ao ostracismo desde pequeno, em favor do seu meio-irmão”, o
novo Papa, conta o escritor espanhol. Alberico, de 18 anos, apelou ao
levantamento dos romanos contra o “tirano Hugo”. A gente de Roma
respondeu à chamada: ainda se recordava daquele que tinha sido o herói
da cidade, o pai do jovem, Alberico I, que encabeçara um Exército que
enfrentou e venceu o invasor muçulmano que ameaçara a Itália.
O
povo dirigiu-se à fortaleza onde Marósia e o seu marido habitavam. Hugo
fugiu sem deixar rasto. “Uma vez expulso o monstro, Alberico
autonomeou-se ‘senador e príncipe de todos os romanos’”, relata García
Blanco. E não demorou a ordenar o encarceramento da mãe “até ao fim dos
seus dias nas obscuras masmorras da fortaleza de Sant’Angelo, mantendo o
seu irmão, o Papa, como prisioneiro no Palácio de Latrão”, diz o
jornalista e escritor espanhol. João XI morreu em 936 e Alberico II
elegeu os seus sucessores: Leão VII, Estêvão VIII, Marino II e Agapito
II. Todos eles controlados pelo “senador e príncipe” que governou Roma
durante 22 anos, de 932 a 954.
“Por caprichos do destino,
Alberico desposou Alda de Vienne, filha de Hugo da Provença”, escreve
García Blanco. Desse casamento nasceu o único filho do príncipe de Roma,
que recebeu o nome de Otaviano. Depois, já muito doente, Alberico II
reuniu a nobreza e o clero e, mediante um juramento solene na Basílica
de São Pedro, “fez-lhes prometer que, após a morte do Papa Agapito II,
nomeariam o seu filho Otaviano como príncipe de Roma e novo vigário de
Cristo”, diz o escritor.
As autoridades políticas e
eclesiásticas aceitaram a proposta. E a 16 de dezembro de 955, aos 18
anos, Otaviano obteve a tiara papal e adotou a designação de João XII.
Foi com ele que se instaurou a tradição de mudar o nome de quem é eleito
Papa. De resto, revelou-se mais um licencioso no trono de Pedro. “Todos
os cronistas e historiadores coincidem em assinalar que o novo líder da
Igreja estava mais interessado em levar à prática todas as suas
inclinações sexuais do que em exercer o poder”, relata García Blanco. Os
genes não perdoam
Uma Papisa Joana ou duas?
Como um fogo
florestal, a história alastrou-se entre os séculos XIII e XVII. Joana,
bela e inteligente jovem inglesa, viajou para Atenas, onde visitou um
convento beneditino. Aqui, apaixonou-se por um dos seus mestres e foi
correspondida. Para se manter no convento, ocultou o seu aspeto feminino
e, disfarçada, converteu-se num monge, coberta com o hábito e exibindo a
típica tonsura. Passou a ser conhecida por “João, o Inglês”, e em
segredo continuou ao lado do homem que amava. O amante faleceu e a
rapariga embrenhou-se ainda mais nos seus estudos. Mudou-se para Roma,
onde impressionou os clérigos com a sua sabedoria e acabaria por ser
eleita Sumo Pontífice em 855, sob o nome de João VIII. No entanto, um
novo caso amoroso fez com que engravidasse e, para escândalo geral, deu à
luz no decurso de uma procissão. Assim terminou o seu papado de dois
anos, um mês e quatro dias. Esta é a lenda, para a qual o jornalista e
escritor espanhol Javier García Blanco propõe uma nova explicação, no
seu livro
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A PAPISA |
* Este livro deve ser um "must". Ajuda a descobrir mais trambiquices da igreja católica.
Não concordamos com o "lido" da notícia quando afirma "as atuais guerras de poder em torno do papado de Francisco parecem uma brincadeira", as crianças violadas não acham.
Não concordamos com o "lido" da notícia quando afirma "as atuais guerras de poder em torno do papado de Francisco parecem uma brincadeira", as crianças violadas não acham.
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