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IN "SOL"
08/10/18
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Passes para transportes
que falham
O problema é que se a oferta de transportes públicos é já hoje insuficiente, poderá agravar-se com o aumento (desejado) de utentes
Recentemente foram anunciados descontos nos transportes públicos. É
positivo incentivar o uso de transportes públicos, mas de pouco serve se
não corresponderem as necessidades das pessoas.
A mobilidade é um dos principais problemas nos centros
urbanos porque se trata de um fator determinante para o funcionamento
das áreas metropolitanas.
A acessibilidade (entendida como a facilidade de chegar a um lugar), o
tempo de deslocação e a poluição (do ar e sonora) são problemas com que
se confronta a mobilidade nos centros urbanos. A organização dos
diversos modos e soluções de transporte nas áreas metropolitanas deve
ser capaz de corresponder às necessidades de deslocação dos cidadãos.
A Área Metropolitana de Lisboa vive, talvez desde sempre, três
constrangimentos que condicionam a mobilidade: o modelo de gestão dos
transportes, a ineficaz oferta de transportes públicos e a cultura de
utilização do automóvel.
A gestão dos transportes sofreu durante muito tempo da ausência de
uma visão metropolitana da mobilidade, da desarticulação entre empresas
de transportes e da incapacidade de criar uma entidade que promovesse,
de modo eficaz, o planeamento e a gestão metropolitana dos transportes.
Apenas nos últimos anos se começou a ultrapassar este conjunto de
dificuldades.
As políticas de mobilidade urbana e interurbana são, evidentemente,
políticas que devem ser conduzidas pelos municípios no contexto das
áreas metropolitanas. Em Lisboa, apenas recentemente, através de
alterações legislativas ocorridas, da reivindicação dos municípios e da
respetiva capacidade de entendimento, foi possível iniciar o
desenvolvimento de políticas metropolitanas na área dos transportes. Há,
por isso, um longo caminho a percorrer.
À importância dos transportes públicos na promoção da mobilidade não
correspondeu ainda uma oferta, em quantidade e em qualidade, coerente
com o incentivo à sua utilização como alternativa ao transporte
individual ou, em alguns casos – como no metropolitano de Lisboa – foram
implementadas soluções que não tiveram como prioridade a eficiência da
respetiva rede (e outros estarão para se concretizar).
O município de Lisboa implementou há muitos anos o estacionamento
tarifado à superfície como instrumento de desincentivo à entrada e
utilização do automóvel na cidade. Por outro lado, anunciou a construção
e disponibilização de parques de estacionamento denominados
‘dissuasores’ e, mais recentemente, anunciou, articuladamente com os
municípios de Cascais e de Oeiras, a instalação de uma faixa dedicada a
transporte público na autoestrada que liga Cascais a Lisboa. Todas estas
medidas pretendem diminuir a entrada de automóveis na cidade através da
utilização alternativa de transportes públicos.
No mesmo sentido da promoção do Transporte Público, foram anunciadas
medidas de diminuição do preço dos transportes públicos na Área
Metropolitana de Lisboa que incluem (e bem) a criação de um passe
familiar, tornando o custo do transporte público mais barato que o custo
associado ao uso do automóvel, mesmo para agregados familiares mais
numerosos.
O problema é que se a oferta de transportes públicos é já hoje
insuficiente, poderá agravar-se com o aumento (desejado) de utentes.
Tornar o transporte público mais barato e incentivar a sua utilização sem garantir o serviço é criar falsas expectativas.
A melhor e mais correta forma de promover a utilização de transportes
públicos é a melhoria dos mesmos com a adequação às necessidades das
pessoas.
IN "SOL"
08/10/18
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