Na antecâmara da discussão do Orçamento do Estado para 2019 e do debate da nova Lei de Bases da Saúde, a Saúde ameaça tornar-se o cavalo de batalha dos próximos meses
Apesar
da grave carência de pessoal, continuam a faltar pelo menos 6.000
profissionais – médicos, enfermeiros e técnicos auxiliares –, e de 54%
dos médicos no activo terem mais de 55 anos, o governo decidiu avançar
com a medida das 35 horas provocando o caos.
Desde dia 1
de julho que alguns milhares de profissionais de saúde passaram do
regime das 40 para as 35 horas de trabalho semanais, tendo o ministro
assegurado que, até ao fim do mês, a medida vai estar implementada em
todos os hospitais. Para tal, o Ministério da Saúde avançou com a
contratação de cerca de 2 mil profissionais para cobrir as necessidades.
Depois, decidiu criar uma comissão para avaliar o impacto económico da
medida. Vou repetir, depois, apesar do galopante crescimento
das dívidas da Saúde de montante elevado. Primeiro implementam medidas,
depois contratam, e, no fim, fazem as contas para perceber o que andaram
a decidir de forma cega.
Resultado? A nível nacional, há serviços à beira da ruptura, profissionais sobrecarregados e operações adiadas.
O
estabelecimento das 35 horas é a consequência de decisões capitais para
o país serem tomadas em função de acordos político-partidários, em prol
da boa saúde da geringonça, em vez de uma estratégia eficiente da
administração pública.
Demissões por falta de condições nos
hospitais e centros de saúde, falta de recursos humanos e deficientes
condições de segurança, são alguns dos problemas que têm ocupado as
notícias esta semana e alguém está a mentir – o ministro da Saúde diz
que 98% das camas do SNS não registam instabilidade com as 35 horas, mas
as notícias contrárias à (in)capacidade de resposta nos internamentos
sucedem-se. O Hospital de Chaves perdeu 48 camas e a Unidade Local de
Saúde da Guarda foi obrigada a fechar a unidade de cuidados intermédios
de Cardiologia e a reduzir camas em Cirurgia, Ortopedia, Pneumologia e
Pediatria.
Mas a saga continua. Depois de vermos o atendimento de
crianças no corredor no serviço de oncologia do Hospital de São João no
Porto, será que uma das batalhas passa por desbloquear o projecto de
construção de nova ala pediatria naquela unidade hospitalar, no valor de
22 milhões de euros, que se encontra há dois anos à espera da
assinatura das Finanças? Não, o objectivo é lutar pela construção de
novos hospitais, acabar com as taxas moderadoras e o pagamento de
transporte de doentes não urgentes. E quem é que vai pagar isto tudo?
Num
país onde se pode esperar anos por uma simples consulta de ortopedia e
ainda esperar outro tanto para uma operação, torna-se desnecessário o
debate sobre a eutanásia. Antes disso já o sistema de saúde colapsou e
morremos todos.
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
20/07/18
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