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ESTA SEMANA NO
"SOL"
Perseguição e espionagem.
Devemos cortar ou não ligações nas
redes sociais quando uma relação acaba?
Ex-casais devem cortar relações?
E quando uma relação acaba? A tecnologia permite sabermos
muito da vida dos outros, sem termos contacto direto. Neste sentido, os
ex-casais devem cortar ou não ligações nas redes sociais? No entender de
Maria do Carmo Cordeiro, “tudo depende do caso. É como na vida. Faz
falta o bom senso e a autoproteção quando se elabora uma separação. Não
se ganha muito em se manter contacto, se é necessária a distância”.
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Também Jorge Gravanita defende que as pessoas devem ter em conta a
importância da “higiene mental”. “Na vida há coisas saudáveis e outras
menos saudáveis e é importante saber fazer a separação. Manter um
vínculo com o passado pode não ser nada saudável porque pode servir
apenas como uma forma de alimentar fantasmas”.
Para o psicólogo, é ainda importante relembrar que existem casos mais
graves, mas que aconteceriam mesmo sem as redes sociais. “Há um lado
patológico que pode fazer com que as pessoas continuem ligadas ao
passado. Espionar a vida do outro ou até mesmo a perseguição são
situações que têm a ver com casos mais graves. Mas aconteciam mesmo
quando não havia tecnologia. Havia sempre forma de arranjar informação,
nem que fosse perguntar às vizinhas”.
A Internet ajuda ou prejudica?
A tecnologia veio facilitar o acesso que temos uns aos outros. Mas a
lógica de termos as pessoas à distância de um click tem facilitado ou
complicado as relações? De acordo com Jorge Gravanita, presidente da
Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica, “aparentemente, tudo é mais
fácil. Criou-se uma ilusão de grande facilidade, mas não passa de
ilusão. Com a Internet parece que temos dados que nos permitem saltar
uma data de passos, mas as pessoas continuam a ter dificuldades de
entendimento, até mesmo com as pessoas mais próximas. Além disso, não
podemos olhar para isto com a lógica dos supermercados”.
Também Maria do Carmo Cordeiro, psicóloga clínica, diz que com as
“apps de encontros/engate ganhou-se, porventura, mais possibilidade de
encontros e perdeu-se a tolerância à frustração e a necessidade de se
elaborarem convenientemente separações e lutos. É muito fácil ter
encontros, mas tal não significa que sejam relações duradouras. Pode
acontecer, mas frequentemente funcionam mais como ansiolíticos ou
antidepressivos”, explica, acrescentando: “As pessoas hoje têm muita
dificuldade em estarem sós, bem consigo mesmas antes de partilharem a
sua intimidade. Partem para encontros para não estarem sós ou para terem
experiências sexuais.
Há um novo código de conduta?
Ainda faz sentido existir a ideia de que o homem deve dar o primeiro
passo ou até pagar a primeira conta ou será que tudo isto faz cada vez
menos sentido? Maria do Carmo Cordeiro acredita que faz “cada vez menos
sentido, embora os países latinos sejam os últimos a mudarem de
mentalidade”.
Já para Jorge Gravanita, é importante perceber que estamos perante
estereótipos e é nesta lógica que tudo tem de ser analisado. “Há já
muitos anos que este tipo de estereótipos não são usados por todos. Os
estereótipos funcionam sempre um bocadinho na lógica do desconhecimento e
vão perdendo força à medida que as pessoas têm mais informação e assim
mais conhecimento”.
Também no trabalho muito tem mudado na convivência entre homens e
mulheres. Com o tema do assédio sexual a ser cada vez mais discutido,
existem novas realidades. Entrar num elevador com uma colega do
trabalho, dizer um piropo ou dar boleia à nova colega pode trazer
problemas. Para a maioria dos portugueses são situações normais, mas em
países como a Suécia, Brasil ou EUA poderia ser o necessário para que se
seja chamado aos Recursos Humanos. No Brasil, por exemplo, há empresas
que proíbem cumprimentar colegas com beijos ou abraços.
Há mais frustração na falha?
No geral, todas estas plataformas têm feito com que haja mais
frustração quando alguém não arranja companheiro/a ou, por outro lado,
trouxe mais liberdade e assistimos a uma mudança de mentalidade?
Para Jorge Gravanita, “a partir do momento em que introduzimos a
ideia de facilidade é normal que apareça a frustração quando não
funciona. Mas é importante não esquecer o que está na base de tudo”.
Para o psicólogo é necessário ter em mente fenómenos de compensação como
o transtorno compulsivo por compras. Os consumidores apostam nas
compras como forma de obter alívio de emoções negativas. “É o mesmo que
estar infeliz e ir ao supermercado comprar tudo com a ilusão de que vou
deixar de me sentir tão mal. Não funciona. Vou continuar infeliz. Marcar
encontros com diferentes pessoas não ajuda a ultrapassar a frustração”.
Também Maria do Carmo Cordeiro garante que “pode haver mais
frustração no sentido em que os encontros estão muito facilitados. Se
alguém não tem companheiro/a pode sentir-se frustrado. Até parece que
toda a gente arranja, mas resta saber de que companheiro/a estamos a
falar. Acho que aí é que reside a questão”.
Porque há tantos divórcios?
Temos tido cada vez mais divórcios. O que se passa? As pessoas têm perdido capacidade de se relacionarem umas com as outras?
“Haverá menos dificuldade em assumir que há problemas
inultrapassáveis no casamento, mais liberdade, menos preconceitos, mais
igualdade de decisão entre homens e mulheres. Mas, há, também, menos
tolerância”, sublinha Maria do Carmo Cordeiro.
Por outro lado, Jorge Gravanita refere que “é verdade que a exposição
às novas tecnologias pode ser disruptiva para os relacionamentos
tradicionais”. Mas é preciso não esquecer que o mais importante é o laço
que temos uns com os outros e a força que tem. “A questão é perceber se
os laços são ou não vulneráveis a um telefonema, uma mensagem ou a uma
rede social. Além disso, será que conseguimos mesmo construir um laço
social nestas plataformas ou redes sociais?”.
E será que são mesmo os opostos que se atraem ou é o que leva ao fim
de uma relação? Maria do Carmo Cordeiro entende que “as pessoas
diferentes podem sentir-se complementadas numa primeira fase. Faz
sentido”. Uma ideia que Jorge Gravanita também defende ainda que alerte
para o facto de “o semelhante levar sempre ao ódio” ou “repúdio”.
Precisamos de um guia no amor?
Há cada vez mais empresas e aplicações que prometem ‘ajudar a
encontrar o amor’. Também há cada vez mais quem recorra a esta ‘ajuda’. O
que explica isto?
De acordo com Maria do Carmo Cordeiro, falamos, sobretudo, de “um bom
negócio. Se se encontra ou não” será sempre uma outra questão. Ainda
que seja inquestionável, de acordo com a psicóloga, que se possam sempre
encontrar “eventuais parceiros”. E há um bom motivo para tanta procura:
“Há mais receio da solidão”.
Também Jorge Gravanita defende que “há uma falta de amor enorme e
isso faz com que cada um procure com os recursos que tem”. “A emoção é a
nossa forma de comunicar e, havendo uma grande dificuldade em lidar com
sentimentos, temos uma crise de inteligência emocional. As pessoas não
sabem comunicar umas com as outras e as redes sociais dão o automatismo.
Mas também diminuem a função própria. Tudo o que é mais subjetivo tem
de ficar para trás”, defende ainda o psicólogo.
“Tudo é mais fácil e também mais rápido, a vida é agora porque o
mundo pode acabar amanhã. Vemos isso no imaginário coletivo dos filmes
de extermínio/invasão terrestre”, defende ainda Maria do Carmo Cordeiro.
* O AMOR É LINDO, PRATIQUEM!
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