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HOJE NA
"SÁBADO"
Rui Rio:
"É um imperativo do Estado
despenalizar a eutanásia"
O presidente do PSD apresenta o seu testemunho sobre a eutanásia no livro "Morrer com dignidade – a decisão de cada um". Conheça a opinião de Rio, que a SÁBADO divulga em exclusivo.
Perde-se na história do tempo a discussão sobre o direito de qualquer
cidadão ter uma morte digna, respeitando a sua liberdade, ainda que
para tal tenha de receber a ajuda de terceiros, familiares ou
profissionais de saúde.
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Mas não podemos
ignorar que cada época é marcada pelas suas próprias dinâmicas, ora mais
passivas, ora mais ativas, quase sempre sob a pressão do pensamento
dominante, que tanto pode ser tendencialmente marcado pelas lógicas
conservadoras, ou catalisador de mudanças comportamentais, do indivíduo
ou do grupo.
Aos Estados compete fazer uma leitura correta das
tendências de cada tempo, interpretar as múltiplas vontades de maiorias
ou minorias, consagrando em lei o equilíbrio possível dos direitos de
uns e de outros, salvaguardando o bem comum, sem pôr em causa os
impulsos legítimos da liberdade individual.
É neste quadro que devemos olhar para os ventos que sopram hoje, sobretudo nas sociedades mais desenvolvidas, a propósito da despenalização da eutanásia. Despenalizar uma determinada prática não é obrigar quem quer que seja a essa mesma prática.
No caso concreto da
eutanásia, é tão válida e defensável a vontade dos que, em consciência,
pretendem terminar os seus dias na paz e na dignidade das suas próprias
vidas, como a vontade daqueles que querem levar ao extremo do possível o
prolongamento da sua existência, tanto quanto a natureza ou a ciência
médica o permitam. Até porque nascemos com o «direito» a pôr termo à
vida. É da natureza da nossa própria existência.
Enquanto cidadão
entendo que a liberdade individual é talvez o bem mais precioso da vida
humana. Mesmo sabendo que toda a liberdade tem limites, sobretudo os que
decorrem da vida em sociedade. Mas não contesto aqueles meus
concidadãos que têm outras escalas de valores, seja a saúde, a
solidariedade, o sentido da eternidade, a qualidade de vida ou qualquer
outro desígnio sobre a missão individual de cada um.
É uma questão que cada um só deve poder aplicar a si próprio; nunca aos outros.
Este
é, porventura, o tempo mais aberto ao debate individual e coletivo de
toda a história da humanidade. Um tempo em que a partilha de opiniões
deixou de ser um privilégio de apenas alguns para ser um direito com
recursos praticamente ilimitados e disponíveis à esmagadora maioria dos
cidadãos, qualquer que seja a sua condição ou espaço de intervenção.
Por
tudo isto, julgo que é um imperativo do Estado, através dos seus
instrumentos de intervenção política, assumir que a despenalização da
eutanásia deve ser um direito consagrado no ordenamento jurídico
português. E sendo matéria do foro exclusivo da Assembleia da República,
deve ser reconhecido a cada deputado que vote em consciência e que seja
capaz de sobrepor a sua opção individual aquilo que entende que deve
ser a liberdade de cada um… a liberdade individual de cada um.
Esta
é, pela sua natureza, uma questão de consciência individual. E se não é
tolerável impor orientações de voto neste caso, também não é tolerável
impor o silêncio ou o veto à discussão de uma temática que atravessa
todas as sociedades civilizadas, de oriente a ocidente. Meter a cabeça
na areia nunca foi solução para problema algum.
* Não somos fãs de Rui Rio, mas respeitamo-lo como pessoa e concordamos com algumas das suas opiniões.
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