ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"
Marcelo veta lei que regula
plataformas como a Uber e a Cabify
O Presidente da República solicitou este domingo ao Parlamento que volte a apreciar a lei que irá regular a atividade das plataformas eletrónicas de transporte de passageiros como a Uber e a Cabify, Marcelo pede ainda que seja modernizada a legislação sobre táxis. O chumbo já fora avançado pelo Expresso na edição impressa de 30 de março.
"O
Presidente da República enviou neste domingo uma mensagem à Assembleia
da República, indicando que decidiu devolver, sem promulgação, o decreto
n.º 201/XIII, relativo ao regime jurídico de transporte individual e
remunerado de passageiros em veículos descaracterizados a partir de
plataforma eletrónica", o chamado TVDE, informa uma nota publicada no
'site' da Presidência.
.
Com o veto, o objetivo de Marcelo Rebelo
de Sousa é que o Parlamento "mostre abertura para reponderar a
mencionada solução, por forma a ir mais longe do que foi — nomeadamente
nas tarifas ou na contribuição —, na obtenção desse equilíbrio no
tratamento de operadores de transportes em domínio socialmente tão
sensível, idealmente regulando o TVDE em simultâneo com a modernização
da regulação dos táxis", explica a referida nota.
O chumbo de
Marcelo à lei que pretende regulamentar a atividade de plataformas como a
Uber, a Cabify e a MyTaxi (diploma que resultou no essencial de um
entendimento entre PS e PSD) já fora avançado pelo Expresso na edição
impressa de 30 de março.
Além da regulação da TVDE, o Expresso
mencionava então mais duas leis que poderiam ser vetadas por Marcelo,
sendo "decisões de carácter político polémicas": o diploma que permitia a
alguns engenheiros civis assinar projetos de arquitetura (já chumbado
pelo chefe de Estado) e a lei que permite a mudança de sexo a partir dos
16 anos.
"Decreto de cariz inovador"
O Parlamento
aprovou no final de março, em votação final global, a lei que vai
regular a atividade das plataformas eletrónicas de transporte de
passageiros em viaturas ligeiras descaracterizadas.
De acordo com
Marcelo Rebelo de Sousa, este decreto "vem reger uma matéria nova, no
que respeita ao transporte individual e remunerado de passageiros, com
implicações em termos económico-financeiros, sociais e jurídicos".
"A situação não é exclusivamente nacional, antes tem motivado reflexões e
debates em curso em inúmeras sociedades, europeias e não europeias",
aponta o chefe de Estado, referindo que, como "não se conhecem casos de
regulação nacional específica, [...] o presente decreto é de cariz
inovador".
Porém, "o regime ora submetido a promulgação apenas
disciplina a matéria de TVDE, anunciando embora o propósito de
equilibrar os direitos e as obrigações dos dois tipos de entidades em
presença".
Em sentido contrário devia "integrar no nosso ordenamento
jurídico inovações tecnológicas significativas, acautelando situações
criadas no passado e que merecem proteção", vinca Marcelo de Sousa.
"Duas reservas" do Presidente
Apesar
de reconhecer "o esforço desenvolvido pelo Governo e pelos partidos que
o aprovaram, para tentar encontrar o mencionado equilíbrio", o
Presidente considera assim que o diploma "suscita duas reservas
políticas de fundo".
Em primeiro lugar, assinala que, "ao abranger
só uma das entidades concorrentes, perde a oportunidade de, ao mesmo
tempo, rever, em conformidade, o regime legal da outra entidade (os
táxis), ou seja, perde a oportunidade de tratar de forma global e com
maior equidade o que assim poderia e deveria ter sido tratado".
Como
segunda reserva, o Marcelo Rebelo de Sousa indica que "o propósito de
alcançar uma solução equilibrada não foi plenamente atingido".
"No
caso dos táxis há contingentes, que não existiriam para o TVDE. E essa
diferença essencial deveria ter sido adequadamente compensada, sobretudo
porque, nos táxis, as tarifas continuam a ser fixas, ao contrário do
TVDE, em que são livres", elenca o Presidente, argumentando que "estas
duas diferenças económico-financeiras de peso não são compensadas nem
pelo uso de corredores BUS, nem pelas praças e o acesso em plena via
pública [...], hoje muito menos significativos devido à possibilidade de
chamada por via eletrónica para qualquer local" nas plataformas.
Uber paga valor "mínimo simbólico"
Marcelo
Rebelo de Sousa precisa que "a única compensação de vulto poderia ser a
contribuição paga pelo TVDE". Contudo, tal compensação "acabou por
ficar, no seu valor concreto, nas mãos das autoridades administrativas, e
com um patamar mínimo simbólico".
"Por outras palavras, a grande
compensação da inexistência de contingentes e de um regime favorecido de
tarifas para o TVDE pode acabar por ser insignificante", adianta.
A
proposta de lei do Governo deu entrada na Assembleia da República em 10
de janeiro de 2017, tendo o diploma baixado à especialidade.
Esse
debate na especialidade só foi agendado já este ano, tendo sido adiado
por duas vezes, acabando por terminar com a votação, em meados de março.
O facto de veículos de transporte de passageiros através de plataformas
eletrónicas se encontrarem a operar desde 2014 sem regulamentos tem
sido contestado pelo setor do táxi.
A nova lei deixa de fora a
definição, pelas autarquias, do número de veículos ao serviço das
plataformas, os chamados contingentes, defendidos pelas associações dos
táxis, que já aventaram a possibilidade de novas formas de luta.
* Não temos dúvidas de que quase toda vida dentro de dez anos vai girar em torno de plataformas digitais, quase, porque na minha cama não há plataformas digitais para ninguém. Só carne e osso em 3D.
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