ESTA SEMANA NO
"SOL"
Incêndios
António Costa
implacável com as Câmaras
António Costa apelou à limpeza dos focos de risco para incêndios e disse que as autarquias até podem tomar posse administrativa de terrenos privados de quem não o faça. Mas não disse tudo. As Câmaras que não tiverem tudo limpo até maio, perdem 20 por cento do orçamento.
Depois do embate por causa da descentralização de
competências, há agora uma nova tensão entre as autarquias e o Governo,
gerada pela responsabilidade da limpeza de terrenos.
Isto porque foi introduzido à última hora um artigo na lei
do Orçamento do Estado 2018 que empurra para as autarquias a
responsabilidade pela limpeza dos terrenos - incluindo os de propriedade
privada e os que são detidos pelo próprio Estado - sob pena de, se não o
fizerem até 31 de maio, serem alvo de um corte de 20% nas verbas do
Fundo de Equilíbrio Financeiro (FEF), transferidas mensalmente. Corte
que será aplicado a partir do mês seguinte, junho.
.
Até 15 de março, a limpeza é da responsabilidade dos
proprietários. Só depois dessa data serão as autarquias a assumir a
obrigatoriedade da limpeza, que terá de estar terminada a 31 de maio,
antes da época problemática de incêndios. Com esta medida, as câmaras
passam também a ser responsabilizadas civil e criminalmente no caso de
incêndios em terrenos que não tenham sido limpos.
A norma, que foi aprovada no Parlamento sem que a Associação
Nacional de Municípios (ANMP) tivesse sido ouvida e ainda com vários
detalhes por definir, promete um novo braço de ferro. De um lado, o
Governo já fez passar várias mensagens públicas de que não irá recuar;
do outro, as autarquias repudiam a medida que consideram ser de execução
impossível.
As críticas das autarquias
O SOL sabe que as autarquias já manifestaram ao Governo o
seu protesto e transmitiram a sua oposição frontal à norma tal como está
definida, frisando que o Estado quer que os municípios em menos de três
meses façam aquilo que não foi realizado em décadas.
Além disso, as autarquias também já lembraram ao Governo que
nas últimas décadas o Estado não cuidou das suas matas nacionais, que
estão sob a sua própria responsabilidade.
A somar a tudo isto, as câmaras já apontaram que, apesar de o
terem solicitado várias vezes, o Governo ainda não terminou o cadastro
de proprietários, sendo, por isso, desconhecida a realidade do
território nacional.
Estas foram algumas das críticas reiteradas pelas câmaras
durante a reunião com o ministro da Administração Interna, que decorreu
no dia 1 de fevereiro.
O SOL também apurou que Eduardo Cabrita prometeu estudar
algumas as questões suscitadas pelas autarquias e remeteu eventuais
novas medidas para o decreto de execução orçamental. Uma das nuances que
pode vir a constar do decreto de execução orçamental será a definição
de faixas prioritárias de terrenos a limpar.
De acordo com algumas fontes próximas do processo, o mapa
de prioridades já está definido pelo Governo, mas ainda não foi
divulgado.
Esta semana, António Costa disse que tinham sido
identificadas 19 áreas de maior risco de incêndios, que estão abrangidas
em «mais de 180 concelhos de todo o país, por mais de mil freguesias e
milhares de aldeias».
O SOL solicitou ao MAI o mapa de prioridades para a limpeza,
mas não obteve qualquer resposta até à hora de fecho desta edição.
Além disso, às autarquias nada foi dito pelo Governo sobre
as medidas que estão a ser seguidas pelo Executivo para limpar os seus
próprios terrenos. E está ainda por definir quem vai assumir os custos
da limpeza dos terrenos que estão sem proprietário.
Com a ausência da publicação do decreto-lei de execução
orçamental, as autarquias solicitaram uma reunião com o
primeiro-ministro e vão ser recebidos pelo Presidente da República na
próxima segunda-feira, e o SOL sabe que este assunto vai estar sobre a
mesa.
Também esta semana, o primeiro-ministro avisou ainda em
Tondela que «a partir de 15 de março, os municípios têm todo o poder
para entrar nas propriedades privadas e fazerem o que os proprietários
não fizeram». Mas António Costa não deixa de frisar que «este é um
esforço que envolve toda a sociedade e cada um dos proprietários».
O primeiro-ministro lembrou igualmente que «a lei impõe há
mais de dez anos obrigações muito claras a todos». De acordo com o
decreto-lei 124/2006, nos 50 metros em redor das casas e nos 100 metros
em redor de cada povoação não pode existir mato nem árvores.
O que diz a lei
De acordo com o artigo 153.º do Orçamento do Estado de 2018,
os proprietários dos terrenos têm até dia 15 de março para fazer a
limpeza. A mesma norma estipula ainda que o valor atual das coimas
aplicadas - 140 euros a cinco mil euros, no caso de pessoa singular, e
de 800 euros a 60 mil euros, no caso de pessoas coletivas - passam a ser
o dobro.
Posteriormente, até 31 de março, as câmaras terão de fazer um levantamento dos terrenos que terão de ser limpos.
E nos casos em que os proprietários não assumam a limpeza
essa responsabilidade passa para as autarquias, que terão de o fazer até
31 de maio. Nestas situações, os proprietários «são obrigados a
permitir o acesso aos seus terrenos e a ressarcir a câmara municipal das
despesas efetuadas com a gestão de combustível». Ou seja, com as verbas
que resultem da venda do combustível que resulte da limpeza.
Caso este valor não seja suficiente para ressarcir as
câmaras dos respectivos custos, a norma prevê ainda que se recorra às
receitas arrecadadas através de processos de execução aos proprietários
decorrentes da cobrança coerciva das dívidas.
Para suportar as despesas, o Estado criou uma linha de
crédito com um teto máximo de 50 milhões disponíveis para os 308
municípios, aos quais serão cobrados juros dos valores adiantados
através deste crédito.
Nos últimos dias o Governo tem feito vários apelos para que
os proprietários limpem os seus terrenos, sendo que o ministro Eduardo
Cabrita disse que «não há contestação» por parte dos municípios.
Também a GNR da Guarda fez saber que pediu a colaboração da
Igreja para que, durante a missa, os padres ajudem a sensibilizar as
populações para a necessidade da limpeza dos terrenos.
As normas do OE/2018 somam-se ao pacote de medidas da
reforma florestal que deu entrada no Parlamento dutrante o verão. Nessa
altura, a TSF avançou que o Governo se entendeu com o BE para acabar com
a liberalização do eucalipto e integrar compulsivamente no Banco
Público de Terras os terrenos abandonados e sem dono, que passam a poder
ser arrendados pelo Estado.
Contactado pelo SOL, o MAI não prestou quaisquer esclarecimentos sobre este assunto.
* Algum dia teria de surgir tentativa de acção eficaz na prevenção dos fogos florestais, até aqui era uma rebaldaria, proprietários, câmaras, forças de segurança e bombeiros empurravam o problema uns para os outros e tiravam o cavalo da chuva.
Esperamos por junho/2018 para ver se o governo também cumpriu o que lhe é devido, kamovs no ar, equipamentos de transmissões sem "trecos", Autoridade de Protecção Civil com desempenho coordenador eficaz e os parceiros locais a cumprirem sem negociatas.
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