HOJE NO
"EXPRESSO"
Angola
britânicos apertam cerco a fraude
de 500 milhões de dólares
Operação passou pelo Banco Nacional de Angola
Um grupo de oficiais britânicos da Brigada Internacional Antifraude
esteve na semana passada em Luanda para investigar os contornos e a
legalidade de um caso que envolveu, em setembro, a transferência
fraudulenta para Londres de 500 milhões de dólares através do Banco
Nacional de Angola (BNA). O valor foi congelado depois de se ter apurado
a falsificação da assinatura do presidente-executivo do Crédit Suisse e
de terem sido detetadas irregularidades processuais.
.
O PRIMOGÉNITO |
No
epicentro da proposta desta operação está José Filomeno dos Santos, o
filho mais velho do antigo Presidente, coadjuvado por Jorge Pontes
Sebastião. Ambos são sócios na Inpal — Investimentos e Participações
Lda. (José Filomeno dos Santos com 75% e Pontes com 25%), detentora de
49% do Standard Bank Angola.
“Jorge Pontes não é mais do que um
testa de ferro do filho do antigo Presidente”, disse ao Expresso fonte
dos Serviços de Inteligência que acompanha o processo.
Através de
uma empresa-fantasma — a Mais Financial Services —, os angolanos,
apoiados por brasileiros acobertados num outro veículo, a Perfect Brint,
apresentaram uma proposta de agenciamento de créditos até 30 mil
milhões de dólares contra a garantia de um desembolso de 500 milhões de
dólares.
Esta operação mereceu, desde logo, desconfiança por
parte do ministro das Finanças, Archer Mangueira, mas o aval dado por
Eduardo dos Santos terá sido determinante para o ex-governador do BNA,
Valter Filipe, dar luz verde à sua execução.
Se uma audiência
decisiva concedida, na sede do MPLA, pelo antigo Presidente ao ministro
das Finanças e ao ex-governador do BNA na presença do filho, caucionou a
realização da operação, as divergências que depois surgiram acabaram
por ensombrar o seu destino.
De um lado, chegava à mesa de Eduardo
dos Santos um parecer negativo do ministro das Finanças, do outro,
recebia uma proposta favorável sustentada por técnicos do BNA e
representantes de José Filomeno dos Santos.
Ao decidir a favor do
parecer do ex-governador do BNA, o antigo Presidente retirava confiança
no ministro das Finanças e deixava o caminho aberto para Valter Filipe
satisfazer o último desejo de José Filomeno antes de abandonar, em
definitivo, o Palácio da Cidade Alta.
À testa da comissão de
negociações e com a bênção do antigo Presidente, Valter Filipe mandou
acionar a transferência dos 500 milhões de dólares para a parte
estrangeira a que estão associados José Filomeno dos Santos e Jorge
Pontes Sebastião.
A ascensão temporária do governador do BNA não
demoraria, no entanto, muito tempo. Logo após a investidura, o novo
Presidente, perante a descoberta dos contornos nebulosos envolvidos na
operação, ordenou que a coordenação fosse de imediato devolvida ao
ministro das Finanças.
A reentrada em cena de Archer Mangueira e a
retirada dos antigos poderes detidos por José Filomeno dos Santos
acabou por constituir um balde de água fria para os alegados credores
estrangeiros.
Na posse da notificação enviada pelas autoridades
britânicas através da UIF — Unidade de Informação Financeira —, o
ministro das Finanças pôs a nu todo o rosário de irregularidades que
ensombrou a execução da operação.
O destino do governador do BNA
ficaria traçado depois deste ter feito uma longa confissão ao novo
Presidente sobre os meandros de uma série de outras operações feitas sem
registo em vésperas da sua investidura.
A João Lourenço não
restava outra saída senão denunciar a falta de seriedade e de
credibilidade dos negociadores estrangeiros e ordenar o desencadeamento
de démarches com vista a recuperar os 500 milhões de dólares
transferidos fraudulentamente para Londres.
Afastado José Filomeno
dos Santos da liderança do Fundo Soberano e Jorge Pontes Sebastião da
função de secretário executivo da Conselho do Sistema de Controlo e
Qualidade, o Presidente angolano deu instruções à UIF e ao BNA para
colaborarem com os oficiais da Brigada Internacional Antifraude para se
apurar todos os tentáculos desta negociata.
Dois brasileiros
envolvidos na operação estão já a contas com a justiça britânica,
enquanto um terceiro está foragido. Para desmontar toda a teia desta
fraude, Angola conta também com o apoio jurídico da Norton Rose, um
reputado escritório internacional de advogados.
O Expresso tentou
falar com José Filomeno dos Santos, Jorge Pontes Sebastião e Valter
Filipe, mas não foi possível até ao fecho desta edição.
* Presidente João Lourenço a afastar-se da corrupta família "dos santos", mas ainda é pouco para o considerarmos um democrata.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário