03/12/2017

MÁRIO PEREIRA

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A pergunta incómoda!

A capacidade das crianças e adolescentes crescerem física e psicologicamente depende obviamente do bem-estar físico, mas também da sua auto-estima e da possibilidade de interagirem no meio familiar, escolar e social. Obviamente, qualquer incapacidade ou deformidade pode dificultar tal processo.

Volto a esta reflexão, a propósito das crianças que estão à espera de uma cirurgia na Madeira e que, de acordo com estimativas recentes, são mais de 700 nessas condições, número sem dúvida desalentador. São várias as razões, mas os defeitos congénitos, as deformidades de locomoção, as doenças do foro de Otorrinolaringologia (ORL), entre outras, são as mais numerosas.

Basicamente existem 3 formas dos doentes serem operados no SESARAM: por causa emergente, numa questão de horas pelo Serviço de Urgência; causa não emergente, aguardando na lista de espera, dependendo da maior ou menor oferta de cirurgias existentes na instituição e uma terceira, extraordinária, através do Programa de Recuperação de cirurgias, o PRC, para atenuar as longas listas de espera existentes.

Curiosamente e incompreensivelmente, o PRC exclui as crianças deste programa! Primeiro, nem as cirurgias habituais em crianças estão incluídas; segundo, nem as especialidades como a Cirurgia Pediátrica ou a ORL fazem parte do programa. Esta decisão não tem paralelo no país.

O CDS-Madeira, através de uma iniciativa legislativa, alertou em Fevereiro deste ano o Dr. Miguel Albuquerque para este facto, ao que ele prometeu interceder. Assim aconteceu, por algumas semanas, mas eis que, rapidamente, voltou tudo ao mesmo e a realidade é que as crianças em espera por uma cirurgia acabam muitas vezes por se tornar “adultos” antes de serem operadas!

É causa legítima para perguntar: se há tantos milhões de euros no orçamento para estradas, não há uma centena de milhares de euros para resolver esta necessidade? A resposta a esta questão, no Parlamento, surgiu à boa maneira jardinista, pela boca de um “renovado” deputado da maioria, dizendo que tudo não passa de... demagogia! Saberá porventura esse deputado que demagogia quer dizer a “arte ou poder de conduzir o povo”?

A verdade é que contra factos não há muitos argumentos e a bancada dos ditos “renovadinhos” do PSD depressa recuperou o velho hábito jardinista de quando não consegue rebater a realidade, vira-se para o insulto e a ofensa pessoal. Portanto, sobre “renovação” estamos entendidos, mas aquilo que o CDS-PP realmente pretende é que as nossas crianças sejam tratadas com dignidade e beneficiem de uma lista de espera que responda a tempo e horas às cirurgias de que precisam.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
28/11/17

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