21/11/2017

SEBASTIÃO BUGALHO

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Bruno Maçães e um dia
 terrível para o jornalismo

O jornalismo que queimou Maçães na praça pública fará com que as verdadeiras vítimas de assédio sexual se escondam. Porquê? Nenhuma vítima vai confiar numa imprensa que não seja credível e, este fim-de-semana, não fomos credíveis.

O que se passou este fim-de-semana em torno do ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães, foi triste para qualquer profissional de informação em Portugal. Baseado em 'tweets' de uma jornalista – que primeiro foi "russa" e depois "americana" –, escreveu-se que Maçães era "acusado de assédio".

Eu, que não conheço nem tenho grande sintonia ideológica com Bruno Maçães, não considero o sucedido apenas uma mentira ao leitor, considero-o um desrespeito total por aqueles que ainda arriscam ter uma vida política – e consequentemente pública – e por todas as verdadeiras vítimas de assédio sexual que viram a imprensa dar voz a quem não a merece.

Lily Lynch partilhou correspondência privada com alguém que também tivera a sua atenção, culminando na acusação de uma fotografia íntima enviada por Maçães. Um dos títulos em Portugal foi "ex-secretário de Estado de Passos acusado de enviar fotos de pénis a jornalista", quando nada do que Lily Lynch 'tweetou' tinha alguma coisa a ver com a sua profissão – assim como a sua interação com Bruno Maçães.

O trágico começou – ou prosseguiu – quando, horas mais tarde, Lily Lynch reagiu à cobertura da imprensa portuguesa como um "escândalo fabricado", afinal "não-sexual", "algo tão menor que tem piada" e "uma experiência extremamente engraçada até os tablóides se envolverem", o que significa que a imprensa deu voz a alguém que diz "não ser vítima de nada", escreveu "assédio" sobre alguém que nunca se disse assediada e fez uma história de alguém que diz que "não há história".

Esse jornalismo, que queimou Maçães na praça pública, fará com que as verdadeiras vítimas de assédio se escondam. Porquê? Porque nenhuma vítima vai confiar numa imprensa que não seja credível e, este fim-de-semana, não fomos credíveis. Contribuiu-se para o assassinato de caráter de um político e do governo que integrou e, pior, para que um assunto grave fosse tomado de forma leviana. Para haver um assediador, é preciso haver uma assediada e escrever que um homem foi "acusado de assédio" perante um contexto internacional de exposição de predadores sexuais ignora um contexto e proporciona outro, ainda por cima falso.

A alegada "vítima" lá esclareceu: "No sítio de onde eu venho, humilhamos regularmente figuras públicas e políticos nas redes sociais". E foi a isto que o nosso jornalismo deu palco e capa moral.

Sobre Maçães, tenho pena. Ele, que tirou o doutoramento em Harvard, escreveu no The Guardian, apareceu na BBC, vai publicar um livro na Penguin com crítica internacional e, pronto, serviu o país, deve estar a pensar para os seus botões: ser medíocre era muito mais fácil. Pelo menos em Portugal.

IN "SOL"
19/11/17

NR: A calúnia sempre causou em nós todo o repúdio, por isso damos a maior importância à opinião de  SEBASTIÃO BUGALHO.


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