HOJE NO
"OBSERVADOR"
“Nem a moeda única nos salvará de um quarto resgate”, avisa Daniel Bessa
Daniel Bessa reconhece que "há um curto prazo" que é importante ter em mente, mas Portugal já está em boa hora para pensar "preferencialmente" no longo prazo. Apostar no consumo "é um erro", avisa.
Daniel Bessa ouviu ontem, quarta-feira, Manuel
Caldeira Cabral a congratular-se pelo facto de as empresas privadas
estarem a investir mais 15% este ano. Reação de Bessa sobre as palavras
do homem que ocupa, no governo de Costa, o mesmo cargo que ocupou no
governo de Guterres: “partindo do ponto a que chegou, se está a subir 15% continua igual“,
atira Daniel Bessa.
.
O ex-ministro da Economia e diretor-geral da COTEC
defende que as políticas públicas devem estimular este investimento das
empresas — que devem investir “se quiserem, ninguém os pode obrigar” — e
avisa o Governo que estimular a economia pela via do consumo “é um erro“, porque há um “longo prazo” que não se pode negligenciar. Qual é o risco? “Nem a moeda única nos salvará de um quarto resgate“.
Bessa
reconhece que “há um curto prazo e um longo prazo”, ou seja, não
discorda de que a economia tenha necessitado de certos estímulos no
curto prazo. “Mas não sei — tenho muitas reservas — que ainda possamos dizer que ainda estejamos a trabalhar no curto prazo“.
As declarações foram proferidas em Lisboa, numa conferência promovida pela Caixa Geral de Depósitos: “A Economia Portuguesa em Debate“.
A primeira sessão deste ciclo de conferências, na Culturgest,
dedicou-se ao tema da Poupança, Investimento e Financiamento da
Economia.
O ex-ministro da Economia salienta que “as pessoas estão
a ser induzidas a gastar”, o que está a levar a uma queda da taxa de
poupança para níveis muito baixos. “E sem poupança não há investimento
no longo prazo”, defende Daniel Bessa, referindo estatísticas que dizem
que quase toda a poupança em Portugal é feita pelos 25% com maiores
rendimentos, “o que não é dizer que são ricos — são a classe média, no
máximo o segmento mais alto da classe média”: estes estão a ser
castigados pela via fiscal e, portanto, é “natural” que a taxa de
poupança esteja a cair.
Qual é o risco? É o país, sem poupança, voltar a ficar dependente da poupança externa e ficar vulnerável a novas crises. “Tivemos
três resgates em poucas décadas, e o terceiro resgate (2011) não veio
mais cedo porque foi adiado pela moeda única. Mas nem a moeda única nos
salvará de um quarto resgate, se não forem repostos alguns fundamentais“, atirou o ex-ministro da Economia.
Entre
esses “fundamentais” que têm de ser “repostos” estão as escolhas
políticas sãs. E elas não têm existido, diz Daniel Bessa, porque “do
ponto de vista do longo prazo, querer que a economia cresça por consumo
é um erro – pode durar mais algum tempo, mas é um erro“. Ao
mesmo tempo, os cidadãos são “bombardeados” com declarações como as de
Caldeira Cabral, que se congratulam por um aumento do investimento das
empresas comparando as variações percentuais com o ano passado, em que o
investimento caiu a pique (sobretudo na primeira metade de 2016).
* Durante este ano escrevemos repetidamente que propagandear e promover consumo é um erro crasso, Daniel Bessa é um economista respeitado e tem fundamentos sobre o que diz, a nossa opinião não é baseada em estudos económicos para os quais não temos competência, mas pela observação diária dos comportamentos das pessoas.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário