HOJE NO
"OBSERVADOR"
Transplantes pulmonares no
Santa Marta põem Portugal no top
O 30º transplante pulmonar realizado este ano no St. Marta devolveu a Rosa Fernandes o ar e a possibilidade de voltar a dançar e colocou Portugal no grupo dos países que mais cirurgias destas realiza.
O 30º transplante pulmonar realizado este ano no hospital Santa
Marta, em Lisboa, devolveu a Rosa Fernandes o ar e a possibilidade de
voltar a dançar e colocou Portugal no grupo dos países que mais
cirurgias destas realiza.
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O Hospital Santa Marta, que pertence ao
Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), iniciou a transplantação
pulmonar em 2001. Começou com poucas intervenções anuais, mas hoje é um
dos que mais transplantes pulmonares realiza no mundo.
Só este ano, foram 30 os transplantes pulmonares realizados neste
centro — o único do país que efetua esta cirurgia –, um número que só
não cresce mais porque não existem órgãos suficientes e, principalmente,
em condições.
“Usamos um em cada três órgãos que nos são doados,
porque alguns pulmões não nos chegam em boas condições”, explicou o
cirurgião cardiotorácico José Fragata, que dirige o Serviço de Cirurgia
Cardiotorácica do Hospital de Santa Marta.
O médico sublinhou a sensibilidade deste órgão: “Fígados e rins
aproveitam-se 80 a 100%, coração 50% e o pulmão, nos melhores sítios,
20%. Nós já estamos a usar 33%”.
Muita desta sensibilidade deve-se
ao facto de o pulmão ser “um órgão muito suscetível a encharcar-se de
líquidos. Às vezes, em esforços de reanimação para manter o dador
viável, o pulmão acaba por sofrer e infeta-se”.
A pneumologista
Luísa Semedo, da equipa de transplantação de José Fragata, enumera
outras dificuldades com que se debatem os médicos e, logo, os doentes
que precisam de um órgão, nomeadamente o grupo sanguíneo e a altura do
dador.
“A altura é a maior dificuldade. Temos mais dificuldade em dadores
mais pequenos e vão ser estes os doentes que vão estar mais tempo em
lista de espera”, afirmou.
Nesta lista encontram-se atualmente entre 45 a 50 doentes e José Fragata reconhece que, dificilmente, ela vai deixar de existir.
“Nós
não transplantamos doentes que não precisam [de um transplante], mas à
medida que a oferta é maior, a procura instala-se porque os próprios
pneumologistas começam a inscrever os doentes mais cedo”, referiu.
Esta
procura maior que a oferta leva a que cerca de 15% dos doentes em lista
de espera não cheguem a receber o órgão que precisam.
Ainda assim, José Fragata reconhece que os 30 transplantes anuais são
um número que nunca imaginou alcançar quando arrancou com o programa de
transplantação pulmonar.
“É um esforço de equipa brutal e um exemplo muito bom para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), como história de sucesso”, disse.
Segundo
José Fragata, se estes doentes não tivessem sido operados no Santa
Marta, tê-lo-iam sido em Espanha a um custo de 160 mil euros por
transplante, além dos “custos morais e de deslocação da família”.
Atualmente, só seguem para o estrangeiro “casos pontuais e excecionais”.
O médico explicou que a insuficiência respiratória crónica,
nomeadamente em contexto de fibrose pulmonar, a doença pulmonar
obstrutiva e a fibrose quística são as principais razões clínicas que
justificam o transplante pulmonar.
A doença pulmonar obstrutiva
tirava há muito o fôlego a Rosa Fernandes, uma portuguesa de 56 anos que
viveu na Venezuela até ao ano passado, altura em que percebeu que não
iria ter uma resposta clínica para o seu problema de saúde.
Foi o
médico que lhe disse que se ficasse na Venezuela poderia morrer a
qualquer momento e que devia ir para Portugal, onde teria melhores
oportunidades.
Em Portugal desde julho de 2016, começou a receber tratamento
no Santa Marta em setembro, enquanto aguardava por um transplante
pulmonar, o qual chegou há 14 dias.
Sem esconder o sorriso, afirma
que o par de pulmões que recebeu permitiu-lhe voltar a respirar sem
ajuda de uma bomba de oxigénio e a sonhar, nomeadamente com o dia em que
voltará a dançar.
“Já andava a ensaiar com a botija”, afirmou.
* Hospitais e equipas médicas de excelência em Portugal.
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