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IN "i"
03/10/17
Dez notas
politicamente incorretas
sobre as autárquicas
Dez notas, em jeito de pistas de reflexão para desenvolvimento futuro aqui no i e no “SOL”, sobre o veredito eleitoral das eleições autárquicas
1) O PS obteve um resultado lisonjeiro, mantendo a liderança das
câmaras que já eram cor-de-rosa e acrescentando outras – algumas
imprevisíveis – à sua contabilidade eleitoral. No entanto, há que não
sobrestimar em demasia a vitória socialista nas autárquicas do passado
domingo: primeiro, há fatores locais que pesam decisivamente na escolha
dos eleitores (por exemplo, Oliveira de Azeméis cai para o PS por
fatores relacionados com as suspeitas de corrupção da anterior
edilidade); segundo, o PS já partia na liderança porquanto, em 2013,
obteve a maioria das câmaras, muitas em primeiro mandato – ora,
atendendo ao endémico conservadorismo do eleitorado português, era fácil
conjeturar que o PS renovaria tais mandatos; terceiro, nas autárquicas,
os eleitores votam mais motivados pelo juízo que efetuam do candidato –
e menos por militância ou filiação partidária;
2) Na política, em homenagem ao princípio democrático e pluralista
que tanto prezamos, não podemos mudar de critério analítico em função
das conveniências que cada um perfilha. É claro que o PS domina o espaço
comunicacional. É evidente que muitos daqueles que falam de cátedra
sobre política nos media nacionais, sob o manto da independência e
imparcialidade, têm um fascínio ilimitado por António Costa e por este
PS em concubinato duradouro com a extrema-esquerda. Por conseguinte, não
é de estranhar – neste Portugal geringonçado, nada é de estranhar,
acrescente-se! – que, afinal, o resultado das autárquicas já esteja a
ser apresentado como uma legitimação eleitoral de António Costa,
substituindo a sua derrota nas legislativas pela vitória nas
autárquicas. Naturalmente, este raciocínio é um raciocínio mentiroso e
desonesto – para além de revelar (o que, em abono da verdade, não é
novidade) ignorância sobre o sistema constitucional português e a
história política pátria. Então, quando o PS perde não se pode extrair
lições nacionais de resultados locais; quando o PS ganha, aí já se podem
retirar consequências nacionais de resultados locais?! Portanto, os
critérios de análise dependem da sua utilidade para as estratégias
eleitorais do PS. O próprio António Costa – que havia dito em entrevista
recente que as autárquicas são apenas eleições locais – não se coibiu
de organizar uma festança em Lisboa, como se tivesse sido eleito
primeiro-ministro com maioria absoluta! Com a patetice adicional de uma
caminhada a pé e descidas e subidas misteriosas de Fernando Medina no
Hotel Altis… Ridículo!
3) Se as autárquicas fossem um indicador fidedigno das tendências
nacionais, Luís Marques Mendes teria sido primeiro-ministro de Portugal,
bem como António José Seguro (e não António Costa). De facto, a única
eleição que Marques Mendes ganhou como líder do partido foram,
precisamente, eleições locais em 2005. Nessa data, com José Sócrates em
alta, o PSD ganhou a maioria das câmaras – embora Marques Mendes nunca
descolasse de Sócrates nas sondagens, acabando mesmo por ser afastado da
liderança do partido social-democrata. Por outro lado, António Costa
deve agradecer a António José Seguro o resultado do passado domingo:
afinal de contas, num ano em que muitos municípios tiveram de mudar de
liderança por determinação legal, o ex-líder do PS soube escolher
candidatos que lograram obter uma vitória nacional importante. A vitória
de domingo foi apenas o prolongamento da vitória de António José Seguro
em 2013;
4) Luís Marques Mendes e Manuela Ferreira Leite deveriam ter mais
cuidado (e memória!) na análise de eleições autárquicas. De facto, o
agora senador-pitonisa dr. Marques Mendes é o responsável máximo pela
agonia do PSD em Lisboa, que se prolonga desde 2006. Isto porque Marques
Mendes foi o génio que resolveu tirar a confiança política a Carmona
Rodrigues, entregando Lisboa em bandeja dourada a António Costa. Não
admira que Marques Mendes seja, ainda hoje, a figura mais popular do PSD
entre os militantes socialistas. Já Manuela Ferreira Leite também
perdeu eleições autárquicas (desastrosamente!) em 2009 – aliás, Ferreira
Leite é a líder do PSD mais derrotada das últimas décadas;
5) O PS em Lisboa perdeu a maioria absoluta em Lisboa, o que
significa um decréscimo relevante face ao resultado obtido em 2013.
António José Seguro, em 2013, permitiu que António Costa obtivesse
maioria absoluta em Lisboa; António Costa não permitiu (com uma
candidatura fantasma do PSD) que Fernando Medina obtivesse tal resultado
no passado domingo. Quem quiser fazer uma leitura nacional das eleições
autárquicas não pode escamotear este dado deveras significativo;
6) Em Lisboa, não foi o PSD que teve um resultado desastroso: foi
Teresa Leal Coelho, que é a personificação da tragédia política.
Suponhamos que o PSD era governo, Pedro Passos Coelho era o líder
político mais popular – e Leal Coelho se mantivesse como a aposta do
partido em Lisboa. Os resultados teriam sido positivos? Claro que não!
Teresa Leal Coelho, mesmo com o apoio e a bênção do Papa e do próprio
Deus, não passaria do resultado paupérrimo que obteve no domingo.
Estranho é que alguém no PSD, algum dia, achou que Teresa Leal Coelho
pudesse ganhar Lisboa (ou o que quer que fosse!);
7) O magnífico resultado de Assunção Cristas em Lisboa também é uma
vitória do PSD. Nós próprios recomendámos o voto na candidatura do
CDS/PP na capital de Portugal há três semanas: escrevemos então que o
centro-direita deveria mobilizar-se no apoio a Assunção para tirar a
maioria absoluta a Fernando Medina. Conseguimos! Missão cumprida! A
mobilização dos militantes do PSD, em Lisboa, a favor de Assunção foi
deveras relevante: primeiro, demos o crédito merecido à campanha muito
inteligente de Assunção Cristas; segundo, ensinámos às elites do PSD que
nós, militantes, prezamos a meritocracia – temos orgulho no PSD, mas
queremos candidatos competentes e que mereçam a eleição; terceiro,
tirámos a maioria absoluta a Medina, obrigando o PS a sair do armário,
ou seja, a oficializar o namoro de longa duração com o Bloco de
Esquerda. Os militantes e eleitores do PSD e do CDS estão de parabéns
pelo resultado de Assunção em Lisboa!
8) Nós escrevemos no “SOL”, em 2016, que o PSD deveria, sem
preconceitos, apoiar Rui Moreira no Porto. Primeiro, porque o candidato
tem carisma, tem personalidade e tem competência. Segundo, porque
permitiria ao PSD construir um programa político moderno, reformista,
que partisse do Porto para o país. Terceiro, porque o PSD teria somado
uma vitória no Porto – e não uma derrota humilhante. E a conversa sobre o
resultado das eleições teria sido bem diferente... Acaso exercêssemos
funções de líder do PSD, teríamos apoiado Rui Moreira no Porto – e
gostaríamos muito de contar com o seu contributo para o lançamento de um
programa reformista e de futuro para Portugal;
9) Passos Coelho sairá da liderança do partido após um percurso político (complexo) que ficará na história do PSD e de Portugal;
10) António Costa deve um ramo de flores, de agradecimento e estima, a
António José Seguro pelos resultados do último domingo. E o que fará o
grande perdedor da noite, o PCP? O PCP está a ser eleitoralmente comido
pelo Bloco de Esquerda…É a vingança de Trotsky sobre Estaline (e seu
camarada Álvaro Cunhal) a ocorrer em Portugal?
IN "i"
03/10/17
* Por hábito não fazemos comentários a artigos de opinião, a este não resistimos e à laia de desabafo:
Primeiro excerto: O magnífico resultado de Assunção Cristas em Lisboa também é uma
vitória do PSD.
Segundo excerto: E o que fará o
grande perdedor da noite, o PCP? O PCP está a ser eleitoralmente comido
pelo Bloco de Esquerda…
Terceiro excerto: O PS obteve um resultado lisonjeiro
O PCP perdeu 10 câmaras, tem 24 com 18 maiorias absolutas, a nível nacional para as presidências de câmara a que concorreu teve 489.189 votos tendo como percentagem 9,46%.
O CDS tem 6 câmaras com 5 maiorias absolutas, a nível nacional para as presidências de câmara a que concorreu teve 134.311 votos tendo como percentagem 2,6%.
Jerónimo de Sousa demonstrou na sua declaração não estar satisfeito com os resultados, Assunção Cristas deu pulinhos de contente. Face aos números apresentados só percebemos a razão dos saltaricos como disfarce patético da derrota.
O PS tem 159 com 142 maiorias absolutas, a nível nacional para as presidências de câmara a que concorreu teve 1.956.703 votos tendo como percentagem 37,82%.
Um resultado deveras lisonjeiro....mas inequívoco.
Não percebemos a ondafobia às esquerdas unidas, já foi há muito esclarecido que os comunistas não comiam criancinhas ao pequeno almoço, sabe-se que quem as come e a qualquer hora são também alguns prestadores de ofícios religiosos de várias empresas do ramo, uma das quais onde Assunção Cristas é accionista de fé.
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