Nos limites da resistência
Há pouco mais de uma semana o
primeiro-ministro garantiu pela enésima vez que não tencionava mexer no
governo. A verdade é que já aborrece a conversa do costume: sempre que
há azar, ressuscitam os rumores de saídas, mortes políticas,
linchamentos públicos de governantes. E depois, logicamente, nada
acontece - exceto quando a inevitabilidade a isso obriga, seja na forma
de uma promessa de estalada, de licenciaturas obscuras ou de viagens que
nada têm que ver com capacidades de governação. António Costa tem
razão: mudar ministros não acaba com os problemas. E por isso, por
princípio, segura-os até ao fim. Assim tem sido com o ministro da Saúde,
que se tem aguentado apesar das sucessivas greves e ameaças de
contestação de médicos e enfermeiros. A verdade é que Adalberto Campos
Fernandes tem conseguido negociar, encontrar consensos e mais cedo ou
mais tarde chegar a soluções pacificadoras.
Claro
que até ao fim é um conceito subjetivo. Para muitos, o limite chegaria,
por exemplo, quando um ministro da Defesa, respondendo sobre o roubo de
armas de instalações militares, diz que efetivamente não sabe "se
alguém entrou em Tancos" e que tem esperança, "como qualquer cidadão, de
que possa vir a saber-se quem foi, porque foi e onde está o material".
Ou quando uma ministra da Administração Interna consegue a proeza de ter
contra si todas as forças de segurança, do SEF à Proteção Civil,
passando pela polícia - que se diz farta de ser desrespeitada e vai sair
à rua no dia 12 para demonstrá-lo.
Com
o PCP a começar a descolar-se da geringonça - nos últimos dias,
Jerónimo foi perentório quanto à excecionalidade de um apoio ao governo
que "nunca foi um acordo parlamentar" e acusou PS e BE de "hostilizarem o
seu partido, responsabilizando-os pelos maus resultados autárquicos -,
tudo indica que a dormência dos sindicatos está perto do fim. O
Orçamento não está em causa, a estabilidade governativa dificilmente o
estará. Mas é bem provável que António Costa seja obrigado a rever, em
breve, os seus limites.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
06/10/17
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