Hugh Hefner e o fim da fantasia
Se não aparecesse rodeado das suas coelhinhas, a morte do Hugh Hefner não seria tão lamentada como foi. Pelo menos, pelos homens que gostam de ver mulheres sensuais e insinuantes
Se não aparecesse rodeado das suas coelhinhas, a morte do Hugh Hefner
não seria tão lamentada como foi. Pelo menos, pelos homens que gostam de
ver mulheres sensuais e insinuantes. Desculpem se desiludo alguém, mas
do que eles têm realmente pena não é dele, mas das imagens que vos terão
despertado na líbido. Mais do que de mulheres, penso que o que ele
percebia mesmo era da cabeça masculina. E foi esse o seu grande poder.
O
editor concebeu o homem-perfeito. Como ele próprio disse, o seu
público-alvo era "educado, com interesses culturais variados que fossem
desde a pintura, à filosofia e à música (todos os anos a Playboy tinha um artigo com os melhores discos de jazz
do ano), mas que mesmo assim, gostasse de sexo." Por esta ordem, também
muitos homens responderam, quando eram descobertos com as revistas, às
suas mulheres, mães ou irmãs: "Não comprei isto por ter mulheres nuas!
Tem aqui um artigo muito bom sobre o construtivismo russo". Eu também
"passei" por esse tipo de desculpa. Mas claro que sempre a fingir que
acreditava. Não do interesse dos tais bons textos, mas que era esse "o"
motivo.
O que os homens lamentam é terem deixado de poder
comprar e ver estas revistas, porque acabaram. Para verem mulheres nuas
ou seminuas têm de fazer muita pesquisa. O fim da Playboy
coincide também com a enorme oferta da pornografia, a grande responsável
pelo fim do erótico. Já não há mais nada para imaginar: está tudo
descoberto. Também já não há nada a esconder, porque simplesmente já não
existe. Por vezes, penso que a mente de alguns homens gosta de viver
numa permanente fantasia. Não é que isso tenha mal algum. As mulheres
também têm as suas. Parece-me é que ficam fora da realidade palpável (e
apalpável) e sem curiosidade pelo que é real e também belo. Eles no
fundo sabem que aquilo não existe. O bom era o inacessível.
Se a Playboy marcou gerações de homens e encheu o ideário erótico-sexual de gerações, cada qual com a sua playmate preferida
também deixou muitas mulheres não-coelhas infelizes ou complexadas. Nem
o mundo nem o sexo ficaram os mesmos depois da Playboy. Mas é
preciso pensar no que se lamenta mesmo. A tristeza não é pela morte do
senhor, já com idade avançada. É mesmo pelo fim da fantasia perdida.
Nesse aspecto, perdemos todos.
IN "SÁBADO"
29/09/17
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