Praxar a praxe
A praxe não tem lugar na universidade. Por alguma razão não existe uma cadeira de luta de cães, uma oral em arrotos, ou uma Universidade Zezé Camarinha. A praxe nunca devia ter saído dos quartéis.
"O caloiro é incondicionalmente servil, obediente e resignado"; "não é
um ser racional"; "não goza de qualquer direito". As citações são
retiradas de um "Manual de Sobrevivência do Caloiro" que está a ser
distribuído, nos últimos dias, por alunos mais velhos aos novos
estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).
Todos
os anos estamos nisto, na maldita praxe. Ainda não tenho filhos na
universidade mas espero que, até lá, acabem com a desgraça deste
"bullying" encartado. Mas, como já fazem praxe nas escolas secundárias,
não sei se ainda vão a tempo - "Ai, Quadros, mas não queres que os teus
filhos conheçam as praxes?" Vamos lá ver. Não quero que exista praxe,
como não quero que exista a doença dos pezinhos ou o roubo por esticão.
Nenhum pai quer que o filho experimente a doença dos pezinhos durante um
mês. E deixo aqui o meu apoio a quem a tem.
Aqui
há tempos, vi as imagens do filme "Praxis", e fiquei cheio de vontade
de ver a minha filha ali agachada com um outro caloiro a fingir que a
sodomiza, com um balão pelo meio, e um idiota de óculos escuros e cabelo
rapado, de traje, a gritar: "Não é assim que se papa a caloira!" Foi
por isso que eu andei a juntar dinheiro para ela ir para a universidade.
Se ela não tem ido para a universidade, ainda acabava nalgum bar, a ter
de ouvir cenas ordinárias, de uns machos. - "Ai, mas a praxe é uma
lição de vida" - se achas isso é porque não sabes o que é a vida. - "Ai,
mas a praxe integra" - Também a violação colectiva e uma betoneira com
todos lá dentro.
A praxe não tem lugar na universidade. Por
alguma razão não existe uma cadeira de luta de cães, uma oral em
arrotos, ou uma Universidade Zezé Camarinha. A praxe tem valor de
aprendizagem zero. A praxe nunca devia ter saído dos quartéis. Na tropa,
onde a submissão tem de ser automática, faz sentido receber os novos
com praxe para os integrar naquilo. Na universidade, devia ser o oposto.
Deviam ensinar os caloiros a contestar, a evitar conclusões em rebanho,
e a não andarem vestidos de escaravelhos. - "Mas um aluno pode dizer
que não." E depois? Ninguém devia ter de dizer se quer, ou não, passar
por aquilo dentro de uma universidade. É como haver uma disciplina de
religião inca com bacanal com animais no pátio da escola, mas só para
quem quer. - "Ai, Quadros, mas é tradição." Errado. Com excepção de
Coimbra, e é discutível, não é tradição nenhuma. É tanto tradição como o
cubo mágico, o ir à picanha, ou o "blockbuster".
"Como é
possível que existam universidades onde um aluno tem de assinar um termo
de responsabilidade para ser praxado, como se fosse para ser operado ao
coração?! "Tens de assinar este termo de responsabilidade, caso me
apeteça enfiar-te um hipopótamo e dois coalas pela uretra, e apareçam os
donos a reclamar."
TOP 5 CALOIROS
1. Comissão Nacional de Eleições não sabia do Sporting-FC Porto em dia de eleições
- Confirma-se: são pessoas chatas.
2. Juncker diz que "A Europa vai desde Espanha até à Bulgária" - É inadmissível que
o Juncker não saiba onde vive a Madonna.
3. "Portugal tem um clima ideal para cultivar canábis"
- E louro prensado.
3. Banca perdeu quase dois mil balcões desde o pico de 2011 - Mas agora são Padarias Portuguesas.
5. Governo vai proibir a realização de jogos de futebol em dias de eleições - Estou para ver o que a Galp acha disto.
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IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
15/09/17
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